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Queda da República? A mais famosa delas foi em Roma, na época de Júlio César

Rodrigo Casarin

18/05/2017 10h49

O assassinato de César segundo o pintor italiano Vincenzo Camuccini.

Em meio a mais um episódio do caos político que o país vive, novamente vemos gente falando na "Queda da República". Isso, claro, já aconteceu diversas vezes ao longo da história. Provavelmente, a mais famosa e impactante delas foi em Roma, alguns anos antes do nascimento de Cristo.

Apoiando-se em certo nepotismo, em articulações políticas um tanto escusas, na sua competência militar e em muito autoritarismo, Júlio César chegou ao poder de Roma, de forma direta ou indireta, algumas vezes. A última delas foi em 49 a.C., após dar um golpe em Pompeu, outrora seu aliado, tirá-lo do poder e deflagrar a caça ao então ex-mandatário que resultaria em uma guerra civil.

Certos historiadores afirmam que César queria salvar a República de senadores que se preocupavam quase que exclusivamente em encher os próprios bolsos ilicitamente – a corrupção era abundante já na antiga Roma. No entanto, a causa mais provável é que ele queria mesmo se vingar de seus inimigos políticos e tomar o posto máximo para si.

A Roma que César assumiu estava em má situação financeira e extremamente abalada pelos esquemas de corrupção. Apesar de ter tomado algumas medidas para combater as falcatruas, ele mesmo adotava práticas um tanto questionáveis, como distribuir terras a seus aliados e alocá-los em cargos públicos – que em muitos casos eram criados apenas para esse fim. Enquanto isso, acumulava poderes e rapidamente se tornava um soberano intocável, quase que um rei, chegando a se autodenominar o "Pai da Nação" em uma época que já espalhava estátuas em sua própria homenagem pela cidade e cunhava sua face nas moedas.

As articulações minaram inclusive as forças do senado e César tinha se transformado, na prática, em um ditador. Toda essa situação que desencadeou uma grande revolta. Em uma reunião protocolar, quase teatral, no senado romano, dezenas de senadores cercaram César e o aniquilaram a golpes de faca. Ao dramatizar a cena, William Shakespeare imaginou que no momento da carnificina o mandatário teria dito a célebre frase "Até tu, Bruto?". É uma referência à decepção de César ao perceber que Marco Júnio Bruto, que havia indicado como seu segundo herdeiro, não só o apunhalava, mas era um dos líderes da revolta.

Isso foi em março de 44 a.C. e na sequência uma nova batalha por Roma se instaurou. Depois de muita tensão e conflitos, o poder chegaria às mãos de Caio Otávio, sobrinho-neto de César e seu principal herdeiro político, que em 27 a.C. receberia o título de Augusto, um marco para o Império Romano. Apesar de ser difícil de datar quando exatamente começa a queda da República de Roma, a tomada de poder de César, sua morte e os fatos que a sucederam é um ótimo balizador para todas as mudanças que viriam no futuro. A pluralidade política só seria vista novamente por aqueles lados muitos séculos depois.

Se quiser saber mais sobre a queda da República Romana e da trajetória de Júlio César, eis dois bons livros: "História da República Romana", de Henrique Modanez de Sant'Anna (Editora Vozes) e "Em Nome de Roma", de Adrian Goldsworthy (Planeta).

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.