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200 toalhas, 28 pratos e outros pedidos malucos dos 32 anos de Rock in Rio

Axl Rose e Slash se apresentam no Rock in Rio de 1991 - Getty Images
Axl Rose e Slash se apresentam no Rock in Rio de 1991 Imagem: Getty Images

Do UOL, no Rio

13/09/2017 04h00

Adeus uísques, vodcas, gins, e camarins quebrados. Dá-lhe suco prensado a frio, kombucha (chá fermentado), chia e camarins perfumados. Até as festinhas e noitadas ficaram mais moderadas nesses 32 anos de Rock in Rio, que começa sua próxima edição nesta sexta-feira (15). Já não se fazem mais rockstars como antigamente?

Ingrid Berger também foi a responsável pelos camarins de todas as edições do Rock in Rio (no Brasil e no exterior) desde 2001. "O Rock in Rio de Madri foi o mais difícil porque os funcionários espanhóis dos camarins paravam de trabalhar às 17h e tiravam algumas horas para fazer a sesta", lembrou. - Marco Teixeira/UOL - Marco Teixeira/UOL
Ingrid Berger
Imagem: Marco Teixeira/UOL

Segundo Ingrid Berger, coordenadora de produção de camarins do Palco Mundo desde 2001 e envolvida com o festival desde 1989, "o pessoal era mais heavy".

"Eu sentia muito mais pressão, muito mais rigidez. Hoje as bandas mais velhas estão mais tranquilas. Em 2015, quando veio a banda do Johnny Depp [a Hollywood Vampires], ficamos desesperados", lembra.

"Tinha ele, Alice Cooper, pensamos que eles iam pedir milhões de coisas. Veio uma lista de uma página. Saladinha, frutinhas, água", conta ela, que trabalha com uma equipe de 12 pessoas e já está envolvida no planejamento há cerca de quatro meses.

A lista de bebidas alcoólicas, por exemplo, foi reduzida consideravelmente, com poucas exceções, como Axl Rose e suas tradicionais cervejas tchecas. 

21.nov.2014 - Amin Khader marca presença no casamento de Rodrigo Scarpa, o "Vesgo" do Pânico, com a estudante de engenharia Gabi Baptista, no Espaço Villa Lobos, zona oeste de São Paulo, nesta sexta-feira - Marcelo Brammer e Paduardo/AgNews - Marcelo Brammer e Paduardo/AgNews
Amin Khader
Imagem: Marcelo Brammer e Paduardo/AgNews

Nada que se compare a um exigente Freddie Mercury, que gostava de encontrar seu saquê a 20 graus.

Para isso, Amin Khader, produtor de backstage do festival em 1985, 1991 e 2001, estava sempre a postos.

"Trabalhei com seis garçons. Não tinha staff como tem hoje não. E sem celular. Eu sou antigo", brinca ele, que passou vários perrengues na mão do falecido líder do Queen (ver lista abaixo).

As históricas duas apresentações do Queen no Rock in Rio de 1985 foram gravadas e lançadas em vídeo pela banda mais tarde - U. Dettmar/Folhapress - U. Dettmar/Folhapress
Queen no Rock in Rio de 1985
Imagem: U. Dettmar/Folhapress

Escândalos, esquisitices e acontecimentos in Rio

  • Abram alas

    Freddie Mercury exigiu que o corredor até seu camarim estivesse totalmente liberado para passar. A medida exigia que Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Alceu Valença, Elba Ramalho e bandas ficassem enfurnados em seus respectivos espaços. "Ele perguntou: 'Quem está aí?'. Eu respondi: 'São artistas e técnicos do mesmo gabarito que você'. Ele falou que não eram. E exigiu: 'Eles me conhecem, mas eu não os conheço. Você tem cinco minutos pra tirá-los daí'", lembra Khader. Erasmo resolveu ajudar o amigo, mas fez uma exigência em troca: duas garrafas de uísque.

  • Furacão no Brasil?

    Khader ainda foi chamado ao camarim do ex-líder do Queen para ouvir uma pergunta inusitada. "Ele quis saber se no Brasil tinha furacão. Eu disse que não e ele respondeu: 'Mas acabou de passar um aqui dentro'. Quando vi estava tudo destruído, mamão papaya colado no teto... Era o meu primeiro dia de trabalho e pensei: 'Perdi meu emprego'", conta.

  • Bolas pra que te quero

    O produtor de backstage também passava sufoco quando tinha que resolver as coisas em cima da hora nos fins de semana, já que as lojas não abriam sábado e domingo. Justamente quando ele precisava completar as 12 bolas exigidas por Rod Stewart. "Era um domingo, não tinha nada aberto, e eu mandei tirar do saco dele. O cara entendia português e ficou puto da vida", conta.

  • Toalhas voadoras

    Atração da segunda edição do festival, em 1991, Prince pediu 200 toalhas à produção. Para atender a imposição, Khader teve que improvisar. "Fui a todos os motéis da Barra da Tijuca e peguei todas dos motéis. E o cara jogava aquelas toalhas para a plateia! Cada toalha daquela custava 50 cruzeiros. Na época, era uma fortuna! E eu vendo aquelas toalhas voando", lembra.

  • Restaurante exclusivo

    O cantor também quis curtir a noite carioca, a seu modo. Exigiu que um restaurante de Ipanema fosse fechado exclusivamente para seu jantar. "Ele entrou sozinho. Ninguém podia estar lá dentro", lembra Ingrid.

  • Carteirada

    A noite teen de 2001, que tinha no line up artistas como Sandy & Junior, Britney Spears e 'N Sync, deu bastante trabalho à produção. "Eram milhões de pessoas querendo invadir o camarim. Teve um coronel ou sargento, não me lembro bem, que quis dar uma carteirada e entrou de motocicleta. Ele queria levar os filhos para ver Sandy & Junior de qualquer jeito", conta Ingrid.

  • Nada de cestinha de frutas

    Segundo Khader, não se pode cortar as frutas ao meio no camarim de nenhum artista internacional. "Eles têm medo que a gente injete alguma coisa dentro. Sei fazer uma cestinha de melancia, mas não podia. Ficava uma mesa feia", lamenta.

  • Macarronada com Axl

    Em 1991, o vocalista do Guns N' Roses pediu 28 pratos de fettuccine. Só que, quando acabou o show, todos os músicos e a equipe foram embora sem tocar nos pratos. Axl Rose não se fez de rogado e mandou Khader providenciar uma refeição para quem trabalhava nos bastidores. "Chamei minha equipe, faxineiros, seguranças e montei uma mesa enorme. Pensei: 'Olha que cara humilde'. Aí passa o Roberto Medina [idealizador do festival]. Parecia uma grande festa, com vinhos na mesa. Falei com ele: 'O Axl que convidou. Então o Roberto comeu macarrão com todo mundo até o dia raiar. Achei uma atitude fantástica", diz Khader.

  • Metallica radical

    Segundo Ingrid, muitos artistas gostam de circular por pontos tradicionais da cidade, como o Cristo Redentor, fazer um passeio de barco pela Baía de Guanabara ou conhecer bairros boêmios como Santa Teresa e Lapa (caso de Bruce Springsteen, que publicou fotos por lá em 2013). Já o Metallica quis um passeio diferente. "Eu os levei para pular de asa delta em 2001", conta.

  • Sob medida

    Steven Tyler, vocalista do Aerosmith, é fã de muffin de blueberry. Mas não qualquer um. O cantor envia à produção a sua receita favorita, e o quitute é feito do jeitinho dele por aqui. Já o camarim da banda vai ser todo forrado pela produção, porque o cantinho deles tem que ser todo preto: paredes e móveis.

  • Veganos

    A coordenadora de camarins conta que comida natural é o que tem feito sucesso. "A cada ano que passa, os artistas estão mais tranquilos. Todo mundo está preocupado com a saúde. Antigamente não conhecia um artista vegano, agora são vários?, diz ela, que diz não haver muitas extravagâncias esse ano. "Águas vulcânicas todo mundo pede, mas porque nos Estados Unidos e na Europa é uma coisa comum, você acha no supermercado", minimiza.

  • Camarim perfumado

    Além de manteiga de amendoim, frutas vermelhas, guacamole e vários ingredientes orgânicos, Alicia Keys gosta é de ter um camarim bem cheiroso. Velas e incenso de âmbar estão na lista de pedidos da cantora americana. "Ela também gosta de umidificador, para o camarim ficar mais fresquinho e não tão seco", explica Ingrid.