Bob Dylan faz show horas depois de virar Nobel e nem menciona o prêmio
Bob Dylan interpreta uma canção de seu 35º álbum de estúdio durante um show em Las Vegas na quinta-feira (13) à noite, poucas horas depois do anúncio de que venceu o prêmio Nobel de Literatura, como se nada tivesse acontecido.
E os 3.000 espectadores reunidos em uma sala de espetáculos do hotel Cosmopolitan tiveram que esperar até o bis para ouvir a clássica "Blowin' In the Wind" (1963), uma das canções mais famosas de Dylan.
Muitas músicas do show - "High Water (For Charley Patton)" até "Soon After Midnight" - pertencem a álbuns gravados no século 21.
Em um ambiente voltado para o blues, os fãs podem apreciar Dylan na bateria, com uma gaita e no piano - mas não com o violão - em canções aclamadas, mas menos conhecidas, como "Simple Twist of Fate", "Love Sick" e "Make You Feel My Love."
Nada de "Mr. Tambourine Man", "Like a Rolling Stone" ou "Subterranean Homesick Blues".
O artista também não fala com o público, como já imaginavam os fãs. O prolífico cantor e compositor, tão eloquente com a caneta, é um artista de poucas palavras no palco.
A Academia Sueca ainda não conseguiu falar diretamente com Bob Dylan até agora.
No local da apresentação, o público é eclético: de homens com chapéus de cáuboi, esporas e bigodes, como se fossem personagens de um western, até um velho fã de rock com uma bandana e jaqueta de couro de motociclista.
"Nós te amamos, Bob", grita um fã no momento em que Dylan senta ao piano para interpretar um de seus clássicos: "Everybody Must Get Stoned".
"Lenda", grita outro admirador depois de ouvir "Highway 61, Revisited" e "It's All Over Now, Baby Blue".
Mas de maneira geral o público é o que se poderia esperar de uma apresentação em um hotel de Las Vegas: pessoas vestidas de modo informal, mas elegante, e de comportamento tranquilo.
"Gostei do espetáculo. Foi um pouco curto, mas acredito que merece o prêmio", disse Ray Staniewicz, de 65 anos.
"Ele fez muito pelo movimento pacifista desde os anos 60, 70 e até os dias de hoje. A literatura, não sei, não estou muito familiarizado, para falar a verdade", completou.
Gail Wolfe, de 70 anos, viajou de Vancouver com o marido Norbert, de 74, e sua yorkshire Suzy Q.
"Ele realmente amava Dylan nos anos 60", conta, em referência a Norbert.
"Eu realmente gostei das músicas novas. Fiquei surpresa porque vim pela nostalgia, mas o que ele apresentou agora é realmente bom", disse.
"Ele é um poeta. Fala do que acontece no mundo e sempre fez isto. Suas letras saem do coração", conclui.