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Pearl Jam e R.E.M. participam de campanha para fechamento de prisão de Guantánamo

Eddie Vedder durante show do Pearl Jam no festival Bonnaroo, na Inglatera (14/06/2008) - AP
Eddie Vedder durante show do Pearl Jam no festival Bonnaroo, na Inglatera (14/06/2008) Imagem: AP

Richard Lardner

22/10/2009 15h01

Grandes bandas e cantores indignados que a música – inclusive a deles – foi usada para persuadir detentos que não cooperavam em interrogatórios na Baía de Guantánamo estão se juntando a militares aposentados e ativistas liberais para organizar um apoio ao presidente Barack Obama no fechamento da prisão de Cuba para terroristas suspeitos que é dirigida pela Marinha norte-americana.

Pearl Jam, R.E.M. e Trent Reznor, do Nine Inch Nails estão entre os músicos que se juntaram a Campanha Nacional para fechar Guantánamo, que teve seu início na terça-feira.

Em defesa da campanha, o Arquivo de Segurança Nacional em Washington está preenchendo um pedido do Ato de Liberdade de Informação em busca de registros que detalham o uso de música alta como forma de interrogatório.

“Em Guantánamo, o governo dos Estados Unidos fez com que um jukebox se tornasse um instrumento de tortura”, disse Thomas Blanton, diretor executivo do arquivo, uma instituição independente não-governamental de pesquisa.

Baseado em documentos que já se tornaram públicos e em entrevistas com ex-detentos, o arquivo diz que o repertório contava com músicas de AC/DC, Britney Spears, Bee Gees, Marilyn Manson e de muitos outros grupos. O jingle da ração para gatos Meow Mix, a música-tema do programa infantil "Barney" e algumas canções do programa "Vila Sésamo" também eram tocadas nas celas dos detentos.

Um relatório de novembro de 2008 do Comitê de Serviços Armados do Senado sobre o tratamento dos detentos sob custódia dos Estados Unidos faz várias referências ao uso de música alta como ferramenta de persuasão.

Em um dos casos, os interrogadores tocaram música para “estressar” Mohamedou Ould Slahi, um cidadão de Mauritânia que está em Guantánamo há mais de sete anos, por ele acreditar que não é permitido ouvir música, diz o relatório.

Por um período de mais de 10 dias em julho de 2003, Slahi foi questionado por um interrogador chamado “Sr. X” enquanto era “exposto a variados padrões de luz” e a repetidas execuções de uma música chamada “Let The Bodies Hit The Floor”, da banda Drowning Pool, de acordo com o relatório do comitê.

A major Diana Haynie, uma porta-voz da Força-Tarefa Conjunta Guantánamo, disse que música alta não vem sendo usada com os detentos desde 2003.

Jayne Huckerby, diretora de pesquisa do Centro de Direitos Humanos e Justiça Global da Universidade de Nova York, diz que música alta também foi usada contra detentos em prisões clandestinas dirigidas pela CIA.

Como parte de um pedido antigo do Ato de Liberdade de Informação por dados sobre esses “locais negros”, Huckerby recebeu um documento secreto da CIA datado de dezembro de 2005 no qual a agência explica que o uso de música alta ou barulho é necessário “para mascarar o som e prevenir a comunicação entre os detentos”.

Se os decibéis são mantidos em níveis abaixo ou iguais a 79 – razoavelmente equivalentes aos de um caminhão de lixo – a audição de um detento não é danificada, diz a agência.

Huckerby diz que a música não foi usada como uma “ferramenta de segurança benigna”, mas como uma forma “de humilhar, aterrorizar, punir, desorientar e privar detentos de dormir, violando leis internacionais”.

O porta-voz da CIA George Little diz que a agência usou música apenas como forma de segurança, e “não com motivos punitivos – e em níveis bem abaixo aos de uma banda de rock tocando ao vivo”.

A Campanha Nacional para fechar Guantánamo foi lançada com anúncios na TV a cabo pedindo ao congresso para rejeitar as “políticas falhas da gestão Bush-Cheney”.

Obama prometeu fechar a prisão até janeiro, mas barreiras logísticas e a oposição Republicana em Capitol Hill fizeram com que o cumprimento da promessa se tornasse menos provável. O ex-vice-presidente Dick Chaney, que avisa que o fechamento da prisão poderia colocar em perigo a segurança nacional, faz parte da resistência.