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Com oitavo disco lançado, The Avett Brothers vê sucesso distanciar a banda de seus fãs

Os irmãos Scott e Seth Avett durante show da banda The Avett Brothers no festival Coachella 2010, em Índio, Califórnia (16/04/2010) - Mariana Tramontina/UOL
Os irmãos Scott e Seth Avett durante show da banda The Avett Brothers no festival Coachella 2010, em Índio, Califórnia (16/04/2010) Imagem: Mariana Tramontina/UOL

MARTHA WAGGONER

De Concord (Carolina do Norte)

06/05/2010 08h30

Quando Scott Avett canta o último verso da música "I and Love and You", de sua banda The Avett Brothers, ele coloca seus dedos sobre o coração e então leva a mão em direção ao público, lançando seus sentimentos. É uma representação do que ele e seu irmão Seth dizem sobre a canção, que não fala sobre um amor perdido, mas sobre a distância crescente que o sucesso colocou entre eles e seu público.

Agora está cada vez mais difícil para eles sentar em um bar depois de um show e bater papo com os fãs. Depois de suas apresentações, são muitas as pessoas que aparecem no ônibus deles apenas para acenar as mãos. Por isso, os "and" ("e", em português) entre a palavra "I love you" ("eu amo você") mostram que "não é só chegar e dizer 'eu te amo'", conta Seth. "É sobre separação. E nós estamos vivendo uma espécie de separação dos nossos fãs".

The Avett Brothers - "Paranoia In B Flat Major" (ao vivo no Coachella 2010)

Com o sucesso que eles ganharam no final do ano passado, esse abismo pode crescer ainda mais. Embora a banda da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, esteja na estrada há anos e já tenha lançado vários discos, eles tiveram seu melhor sucesso comercial com o oitavo CD, "I and Love and You", que foi produzido pelo vencedor do Grammy Rick Rubin, cujos créditos variam de Johnny Cash a Dixie Chicks e Jay-Z.

O disco vendeu 181 mil cópias nos Estados Unidos, segundo sua gravadora, e foi aclamado pela crítica. O álbum foi eleito pela revista "Paste" o melhor de 2009 e um dos melhores da década. Os shows em locais de médio porte rodaram o país norte-americano, e em março eles deram início à primeira turnê internacional com shows esgotados em Londres, Amsterdã e Dublin. Até setembro eles tocarão principalmente em festivais nos Estados Undidos, Reino Unido e Canadá.

Os rapazes da banda --que inclui o amigo Bob Crawford-- definem-se como compositores românticos que não são exatamente ótimos nos vocais nem tocando seus instrumentos, embora eles esperem melhorar no segundo quesito. Sua popularidade reside tanto em suas letras profundamente emocionais quanto em seu som incomum. É uma mistura de pop, country e grunge influenciados pela música country que seus pais ouviam e pelo som que abraçaram na juventude: Nirvana, Alice in Chains, Hall and Oates, Michael Jackson e Boy George.

"Nós crescemos no campo, e a vida no campo não te mostra Ramones, porque isso simplesmente não combina", diz Scott, de 33 anos. E no fim das contas, a educação no interior contribuiu para que os irmãos escrevessem canções sobre "coisas compreensíveis e puras", como conta Seth, de 29 anos.

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Durante os shows, eles mudam de um instrumento a outro, com Scott concentrando-se no banjo e tocando bateria ou piano quando necessário, e Seth tocando violão e piano. A função de Scott não mudou muito desde a infância, época em que ele era o líder em apresentações com Seth e a irmã Bonnie, como lembra o pai Jim. "Eu era exigente em todos os sentidos. 'Faça isso', 'veja aquilo', 'isso será bom para vocês'", conta Jim, balançando a cabeça, enquanto relembra suas ordens.

Os Avetts gostam de pensar que o sucesso não mudou suas vidas. Ambos casados, eles vivem com suas próprias famílias no entorno da cidade de Concord, perto da fazenda onde eles cresceram. Vacas, cachorros e galos fazem parte da paisagem na casa de seus pais, onde, até há pouco tempo, os irmãos poderiam ser encontrados. O cenário é esse: enquanto eles cantavam durante essa entrevista, cedida em um celeiro, os mugidos das vacas se sobressaíam à música.

O que mudou para os dois Avetts é que eles não aceitam mais apresentações ou letras de músicas que não estão à altura do que são. "A realidade dessas canções estão marcadas em nós para o resto de nossas vidas, e é algo que estamos muito mais conscientes agora. Seja lá o que vamos colocar para fora agora, a verdade é que nós temos resposta para sempre", disse Scott. "E enquanto nós estivermos tocando e fazendo turnês, se nós escrevermos uma música é melhor acreditarmos nela porque, até o final de nossas vidas, nós podemos tocar aquela música mais 5.000 vezes".