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Regente quer Sinfônica de São Paulo "entre as melhores do mundo"

A maestrina americana Marin Alsop  - Claudio Lehmann/BBC
A maestrina americana Marin Alsop Imagem: Claudio Lehmann/BBC

Paulo Cabral

Da BBC Brasil em São Paulo

14/08/2012 08h50

A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo inicia esta semana uma importante turnê pela Europa, com o pianista Nelson Freire como solista. A série de apresentações começa no dia 15 de Agosto no Royal Albert Hall, em Londres, quando a Osesp se tornará a primeira orquestra brasileira a participar do BBC Proms, um dos mais importantes festivais de música erudita do mundo, realizado na capital britânica desde 1895. Depois a orquestra se apresenta ainda na cidade de Aldeburgh (também no Reino Unido); no festival de Wiesbaden (na Alemanhã) e em Amsterdã, na Holanda.

Vai ser também o momento para a maestrina americana Marin Alsop mostrar aos amantes da música erudita mundo afora que a Osesp acertou ao escolhê-la, no início desse ano, como sua nova regente titular, depois de um longo processo de seleção. "Em alguns anos acho que (a Osesp) vai estar entra as orquestras mais importantes do mundo. Esse é meu objetivo", disse em entrevista à BBC Brasil a regente, que é violinista por formação e também diretora artística da Orquestra Sinfônica de Boston.

Para a maestrina, estar entre as maiores do mundo significa ser "desejada". "Eu quero que a orquestra seja desejada pelos maiores festivais e maiores solistas do mundo. Temos que estar entre aquelas orquestras que os grandes músicos e regentes do mundo sintam muita vontade de conduzir", diz.

Alsop diz que o convite para a apresentação em Londres mostra que esse "sonho" já começa a se tornar realidade. "Não sei se os brasileiros têm noção da importância do The Proms. Trata-se de um dos maiores festivais de música erudita do mundo com centenas de concertos, milhares de pessoas no teatro e potencialmente milhões de pessoas assistindo pela televisão", disse Alsop. "É uma oportunidade enorme. Parece-me que a orquestra sente isso e espero que o público brasileiro também tenha essa consciência."

BBC – O que você está achando de trabalhar com a Osesp?
Marin Alsop – É maravilhoso. Eu adoro essa orquestra. Eu vim para São Paulo sem grandes expectativas e fiquei enormemente impressionada com a orquestra e com sua sala de concertos (a Sala São Paulo). Nossa relação parece crescer a cada dia e nos sentimos mutuamente recompensados.

BBC – Como vem se desenvolvendo essa relação com os músicos da Osesp?
Alsop – Acho que há sempre uma "química" necessária nessas relações entre regentes e orquestras. E é importante que haja essa "química" mas também é importante que a orquestra esteja disposta a trabalhar dentro do estilo do condutor. Eu gosto de trabalho duro, de muitos ensaios. Acho importante melhorar artisticamente e enfrentar desafios. E essa orquestra quer isso, está faminta por isso. Portanto, não apenas temos essa 'química" como também temos aspirações comuns, então é algo vitorioso em todos os níveis.

BBC – O que você diria que a Osesp tem de único, de especial?
Alsop - Acho que a orquestra tem paixão, comprometimento e energia. Acho que isso reflete o momento que essa cidade e esse país estão passando, de muito otimismo, vitalidade e entusiasmo. Acho que a orquestra reflete isso.

BBC – O Brasil é muito reconhecido por sua música popular mas não tanto pela música erudita. Você vê algum diálogo entre esses estilos nas orquestras brasileiras?
Alsop – Acho que há um certo estereótipo nisso. O Brasil é conhecido no mundo inteiro, é claro, por sua maravilhosa música popular, mas até agora o país não conseguiu reconhecimento pela música sinfônica séria. E não deveria ser assim, porque essa é uma orquestra maravilhosa. Eu acho que em poucos anos vai estar entre as principais do mundo. Essa é meu objetivo: ver a Osesp entre as maiores do mundo. A respeito da música popular, é algo que posso entender e a qual posso me relacionar, porque sou dos Estados Unidos e também temos uma rica tradição de música popular. Eu adoro jazz e tive uma banda de suingue por vinte anos e acho que esse casamento e essa mistura entre música popular e música sinfônica séria traz o melhor das duas. Eu acho que as pessoas que levam música popular muito a sério têm uma percepção de vitalidade rítmica que acho que inspira a música sinfônica séria. Na verdade acho que hoje em dia não há tantas barreiras entre os gêneros musicais. Quero dizer, hoje é impossível que um compositor não seja influenciado pela música popular. Então não acho que haja uma distância tão grande assim entre música popular e música sinfônica e que não devemos nos preocupar tanto com estereótipos.

BBC – O que a orquestra precisa fazer para atingir este objetivo de estar entre as principais do mundo?
Alsop – Essa é uma questão muito subjetiva mas acho que trabalho duro é a primeira coisa. É importante assumir um compromisso cada vez que você sobe no palco. No ensaios é importante ter sempre o objetivo de melhorar artisticamente e tecnicamente, em termos de sonoridade e flexibilidade. Nos trabalhamos com isso todo o tempo. Me parece que a orquestra quer muito atingir estes objetivos e melhorar sempre. E acho que o principal ingrediente para ser grande é querer ser grande.

BBC – O que você pessoalmente gostaria de ver essa orquestra fazendo no futuro?
Alsop – Acho que os meus sonhos são os mesmos dos músicos. Espero sempre que seremos convidados para grandes apresentações, como aliás já aconteceu com o convite do BBC Proms. Foi impressionante quando o pessoal do festival entrou em contato e perguntou "será que sua nova orquestra gostaria de vir?" Então, isso já é o começo desses sonhos se tornando realidade. Acho que assim que as pessoas ouvirem essa orquestra e conhecerem sua musicalidade e seu compromisso (com a música), terão a mesma reação que muitos de meus colegas: "uau, essa orquestra é fantástica e nós a queremos". Eu quero que a orquestra seja desejada pelos maiores festivais e maiores solistas do mundo. Temos que estar entre aquelas orquestras que os grandes músicos e regentes do mundo sintam muita vontade de conduzir.

BBC – Vamos falar mais um pouco do BBC Proms. Qual a importância desse convite para a orquestra?
Alsop – É um convite importantíssimo. Vai ser a primeira vez que uma orquestra brasileira vai se apresentar no BBC Proms então só por isso já é uma oportunidade maravilhosa. Eu me apresentei algumas vezes no festival e tenho um ótimo relacionamento com a BBC, em Londres. Não sei se os brasileiros têm noção da importância do The Proms. Trata-se de um dos maiores festivais de música erudita do mundo, com centenas de concertos, milhares de pessoas no teatro e potencialmente milhões de pessoas assistindo pela televisão. É uma oportunidade enorme. Me parece que a orquestra sente isso e espero que o público brasileiro também tenha essa consciência.

BBC – Qual a sua melhor experiência no Proms?
Alsop – Eu só me apresentei como regente de minha própria orquestra uma vez, quando era titular da sinfônica de Bournemouth. Foi uma grande experiência e agora acho que vai ser igual ou até melhor, porque será a primeira apresentação de uma orquestra brasileira. Estamos extremamente empolgados porque os ingressos se esgotaram em menos de 24 horas. Isso já dá uma ideia de como o interesse é grande.