Pai de Amy Winehouse anuncia turnê no Brasil e dá canja cantando Tom Jobim
Há alguns anos, uma simples visita a um apartamento no norte de Londres teve duas surpresas para Mitch Winehouse. A primeira foi descobrir que estava interessado em comprar o imóvel pertencente ao ex-jogador de futebol brasileiro Gilberto Silva, campeão da Copa do Mundo de 2002 e ídolo do Arsenal - o clube rival do Tottenham Hotspur para qual o ex-taxista londrino torce.
A outra foi ter se deparado com uma jam session comandada pelo multi-instrumentista baiano Anselmo Netto, então residindo no imóvel. Mitch, de 65 anos, pai da falecida diva britânica Amy Winehouse, acabou se juntando à banda para cantar "Garota de Ipanema".
No mês que vem, já com Anselmo incorporado à banda, o ex-taxista, que chegou a ensaiar uma carreira como crooner em bares e cassinos de Londres, fará uma turnê de quatro shows pelo Brasil, de 15 a 20 de dezembro.
As datas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Natal fazem parte de uma campanha de arrecadação de fundos para a ONG Amy Winehouse Foundation, criada por Mitch em setembro de 2011, apenas dois meses depois da morte da filha, para trabalhar com crianças carentes em uma série de frentes - o que inclui aconselhamento sobre alcoolismo e dependência de drogas, os dois males que causaram o falecimento prematuro da cantora, aos 27 anos.
"Amy se apaixonou pelo Brasil quando esteve no país pela primeira vez, em 2010. Lembro-me até hoje do entusiasmo em sua voz quando me telefonou do Brasil para contar que tudo era maravilhoso. Era natural que tentássemos levar nosso trabalho ao Brasil", contou Mitch à BBC Brasil, durante um evento de gala da ONG realizado na semana passada, em Londres.
O apreço pelo Brasil, porém, é de família: fã de música brasileira, o pai de Amy se acostumou a incorporar músicas de Tom Jobim a seu repertório. Diz ter apresentado a obra do compositor brasileiro à filha, a quem "serenava" com canções como "Corcovado" e "Meditação" - cujos trechos, por sinal, ele entoou confortavelmente durante a conversa.
"Amy dizia que Meditação era uma das canções mais lindas que tinha ouvido. Jobim é um dos meus heróis. Cantava muitas de suas músicas junto com Amy", explicou Mitch, em um dos raros momentos da entrevista em que a emoção transparece em sua voz.
O pai da cantora é uma figura controversa no Reino Unido. Críticos o acusam de ter se beneficiado da fama da filha para "aparecer" em vez de dedicar mais atenção aos problemas de Amy com o álcool e as drogas - algo reforçado por um recente documentário, que deixou o ex-taxista furioso com o que chamou de "injustiças e mentiras".
No encontro com a BBC Brasil, Mitch queixou-se veladamente dessa percepção ao falar sobre os objetivos da viagem.
"Algumas pessoas disseram que faço as coisas por vaidade. Ora, há muitas crianças e jovens carentes no mundo e no Brasil. Quero ajudar e abrir um escritório da Amy Winehouse Foundation no Brasil. Não sei escalar montanhas e estou muito gordo para correr, então maneira pela qual posso arrecadar fundos é cantando. Só aqui no Reino Unido nós já conseguimos quase US$ 3 milhões com shows e com as vendas dos meus CDs", afirmou.
Foi também por intermédio de Anselmo Netto que Mitch conheceu Elza Soares. Além de gravar duas faixas com a cantora para um álbum de duetos, ficou fascinado ao saber que a cantora brasileira - que fará uma participação especial na turnê de Mitch no Brasil e estaria, segundo entrevista dada à revista "TPM", gravando covers de músicas de Amy Winehouse - foi casada com o jogador de futebol Garrincha. "Garrincha foi meu jogador predileto. Mais do que Pelé", afirmou.
Ainda assim, Mitch disse esperar que a agenda apertada de shows no Brasil o permita encontrar Pelé. "Fui um bom jogador de futebol. Tinha habilidade de sobra, mas não conseguia correr muito porque era gordo. Mesmo assim, fui semiprofissional, e meus amigos brincavam comigo dizendo que, por causa da qualidade do meu jogo, Pelé era uma versão negra de Mitch Winehouse", brincou.
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