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Morte de Amália Rodrigues é lembrada em Portugal com 24 horas de fado no rádio

A cantora portuguesa Amália Rodrigues em Lisboa, em 1998 - Jose Manuel Ribeiro/Reuters
A cantora portuguesa Amália Rodrigues em Lisboa, em 1998 Imagem: Jose Manuel Ribeiro/Reuters

Oscar Tomasi

De Lisboa (Portugal)

08/10/2012 13h01

A morte de Amália Rodrigues completou 13 anos no último sábado (6). Mas tanto ela como o fado seguem vivos no dia a dia dos portugueses - em muitos casos, graças à emissora "Rádio Amália", que toca suas músicas sem intervalo em homenagem à "rainha" indiscutível do gênero.

Identificado em outras épocas com o regime do ditador Salazar, o fado, já considerado Patrimônio da Humanidade, foi deixando para trás aquela imagem em preto e branco para se encher de cor e se consolidar como um dos principais símbolos de Portugal.

O misticismo que cerca o fado, desde suas letras ao ponteado do violão, ou a emoção transmitida pela voz de seus bons intérpretes, pode ser percebido através das ondas do rádio há três anos.

A emissora foi criada em 2009 por causa do décimo aniversário da morte da artista.

"Acho que a ideia de montar a rádio foi a melhor homenagem que podíamos ter feito", disse à Agência Efe Augusto Madaleno, diretor de programação da emissora e que conheceu pessoalmente a "diva", como ele chama Amália Rodrigues.

Madaleno explicou que o projeto, financiado apenas com publicidade particular, sem nenhum apoio estatal, surgiu por conta de uma marginalização do fado nas outras rádios comerciais, o que ainda continua hoje em dia.

Com estações em Lisboa e Setúbal, a emissora é ouvida em todo o território luso, e a audiência, segundo seus dados, reúne os perfis mais diversos.

"Crianças e jovens começam a se interessar pelo fado, embora a maioria dos ouvintes tenha entre 30 e 65 anos", disse.

A "Rádio Amália" também caiu no gosto dos taxistas, o que é facilmente comprovável para qualquer turista que visite Lisboa. Acostumados a longas jornadas de trabalho, esses motoristas estão entre seus seguidores mais fiéis.

"Para nós é muito importante, já que qualquer estrangeiro que vem a Portugal muitas vezes conhece a "Rádio Amália" graças ao táxi", reconhece Madaleno.

Esta circunstância é relevante para uma emissora que também pode ser ouvida pela internet e tem inúmeros ouvintes no Brasil e em outros países como França, Japão e Austrália.

Este acompanhamento internacional é reflexo do sucesso mundial de Amália Rodrigues, protagonista de várias turnês por Espanha, França, EUA e Canadá.

Somada a seus papéis como atriz em filmes estrangeiros, essa fama internacional a transformou na melhor embaixadora de Portugal durante várias décadas.

"Ela era consciente de sua condição de estrela, mas ao mesmo tempo era muito próxima do público. Sabia que era uma diva, mas também que sempre seria uma pessoa do povo", contou Madaleno.

A imagem da fadista foi crescendo com o passar do tempo em seu país natal.

No entanto, com a chegada da democracia, após a Revolução dos Cravos de 1974, os rumores sobre seus vínculos com o regime de Salazar a prejudicaram. Houve ainda rumores de que Amália colaborava com comunistas em segredo. O certo é que as especulações sobre sua ideologia foram sempre rechaçadas pela maior das fadistas.

"Nunca pus um pé na política", afirmou em sua última entrevista, concedida à revista "Tabu".

A artista, que faleceu aos 79 anos, foi enterrada com honras de chefe de Estado, e seus restos mortais estão no Panteão Nacional, junto aos grandes ilustres de Portugal.

"Nossa nova geração de fadistas já apagou a ideia de que o fado era a canção do antigo regime. Essa imagem desapareceu", declarou o diretor da "Rádio Amália". No entanto, ele reconhece que o gênero enfrenta agora o desafio de não se conformar com o papel de atrativo turístico ou guardião de costumes que lhe é dado habitualmente, e de manter vivo o legado de Amália.