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Altos e baixos da vida de Bob Marley ajudaram na construção da lenda

Natalia Bonilla

De San Juan (Porto Rico)

05/02/2015 18h22

Sem os obstáculos e as controvérsias de sua vida pessoal, o cantor de reggae Bob Marley, que completaria 70 anos nesta sexta-feira (6) caso estivesse vivo, poderia não ter se tornado o artista de renome mundial que ainda "sobrevive" na atualidade, afirma de um de seus mais reconhecidos biógrafos. "O conheci em 1979, quando viajei por umas semanas à Jamaica para entrevistá-lo. E posso lhe dizer que ele estava estranho, cansado, exausto. Trabalhava muito", lembra Chris Salewicz, autor de "Bob Marley: The Untold Story" (Bob Marley: a história não contada, em livre tradução).

Em entrevista à Agência Efe, o escritor britânico afirma que a lenda jamaicana, que morreu de câncer em 1981, aos 36 anos, era "humanitário" e "altamente produtivo".


O espírito revolucionário de Bob Marley remonta aos anos 60, quando o cantor, autor de clássicos com temática social como "No Woman, no Cry", viajou várias vezes aos Estados Unidos para visitar sua mãe, que tinha se mudado para o Estado de Delaware em busca de uma vida melhor.

"Ela trabalhou numa fábrica de carros. Nesse tempo, a segregação racial era muito forte", relata o biógrafo, explicando que a situação social americana inspirou muitas das letras compostas por Marley e depois gravadas em parceira com a banda The Wailers, em 1970, quando retornou à ilha caribenha.

Naquela época, indica Salewicz, "o pensamento de Marley mudou". As músicas passaram a incluir a tema da justiça social, ao mesmo tempo em que ele adotava totalmente o estilo de vida rastafári, uma religião que promove a supremacia negra.

O biógrafo cita como exemplos da inconformidade com o status quo as músicas "Them Belly Full (But We Hungry)" e "Zimbabwe". "Há um mistério poético que persegue Bob Marley, que o faz brilhar ainda hoje", afirma, convencido da participação do produtor também britânico Chris Blackwell, que catapultou o cantor à fama internacional ao explorar comercialmente seus "dreadlocks" e o restante da incomum imagem para lançar o álbum "Catch a Fire", em 1972.

Chris Salewicz

  • Bob Marley trabalhou muito, nunca parava. Poderia dizer que nesses últimos anos, inconscientemente, ele sabia que seus dias estavam contados

    Chris Salewicz, biógrafo de Bob Marley


"Foi então que Bob Marley começou a se transformar em um arquétipo da verdade e da justiça, um verdadeiro ícone da revolução. Isso é o que o tornou grande em vida, sendo lembrado até hoje por sua humildade", garante Salewicz.

Bob Marley passou sua infância e adolescência na pobreza em Nine Miles, sua cidade natal, e depois no subúrbio de Trench Town, em Kingston, onde desenvolveu seus dotes musicais, começando a gravar seus primeiros singles. No mesmo local, em 1963, se uniu à banda The Wailers.

Três anos depois, se casou com Rita Anderson, sua viúva na atualidade. Neste ano, o imperador da Etiópia e "messias" do rastafári, Halie Selassie 1º, visitou à Jamaica, marcando profundamente a vida de ambos, que decidiram adotar essa religião.

Outro dos momentos chave da vida do músico ocorreu em 1976, quando, dias antes de um show promovido para fomentar a união nacional da Jamaica, Bob Marley levou um tiro.

A tentativa de homicídio --atribuída ao partido de oposição, apesar de os responsáveis não terem sido presos-- ocorreu quando o cantor já possuía grande influência em uma Jamaica totalmente dividida politicamente.

Em 1978, Bob Marley realizou sua primeira viagem à África e visitou Quênia e Etiópia, berço dos rastafáris. Em 1980, fez um show na cerimônia oficial de independência do Zimbábue para mais de 80 mil pessoas.

"Bob Marley trabalhou muito, nunca parava. Poderia dizer que nesses últimos anos, inconscientemente, ele sabia que seus dias estavam contados", afirma Salewicz.

Em 11 de maio de 1981, Bob Marley, transformado na voz do povo jamaicano frente ao mundo, defensor da paz e da igualdade entre os homens, morreu, deixando seis filhos com Rita, quatro próprios (Sharon, Cedella, Ziggy e Stephen), além de dois adotados (Stéphanie e Serita).

Existe controvérsia sobre o número real dos descendentes de Marley. Rita reconhece em seu livro de memórias "No Woman, No Cry: My Life with Bob Marley" (2004), que ele foi infiel em diversas ocasiões.

De qualquer forma, Salewicz defende que toda a família de Bob Marley está "orgulhosa de seu legado", que incluiu o disco "Legend" (1984), uma coletânea póstuma que se tornou o álbum mais vendido da história do reggae.