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Na Europa, Caetano Veloso toca música em homenagem a Obama

17.set.2016 - Caetano Veloso e Gilberto Gil se apresentaram juntos no palco do Citibank Hall, em São Paulo, com a turnê "Dois Amigos, Um Século de Música" - Rafael Cusato/Brazil News
17.set.2016 - Caetano Veloso e Gilberto Gil se apresentaram juntos no palco do Citibank Hall, em São Paulo, com a turnê "Dois Amigos, Um Século de Música"
Imagem: Rafael Cusato/Brazil News

Javier Herrero

Madri (ESP)

04/05/2017 20h05

Caetano Veloso finaliza nesta quinta-feira (4) sua turnê na Espanha ao lado da cantora Teresa Cristina com um show em que faz questão de incluir "Cucurrucucu Paloma", que o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama tem em sua lista de músicas favoritas.

"Me perguntaram se era porque a canção reaparecia cantada por mim em um filme ['Moonlight', que ganhou o Oscar de melhor filme, e também apareceu em 'Fale Com Ela', do diretor Pedro Almodóvar]. Respondi que a escolhi porque Obama a tinha incluído em sua playlist'. E era verdade. Agora canto e tenho vontade de gritar 'Viva o México", disse Caetano em uma entrevista à Agência Efe.

"Teresa (Cristina) foi, como quase tudo em minha vida artística, obra da casualidade", explicou o cantor e compositor sobre a parceria com uma artista que ele definiu como "muito querida e respeitada no Brasil, sobretudo no Rio". Após vários encontros e colaborações, Caetano assistiu no ano passado ao espetáculo que ela fez com canções de Cartola e ficou encantado. "Era tão elegante e refinado", afirmou.

Graças a seu apoio, o prestigiado selo Nonesuch Records decidiu editar mundialmente aquele projeto e, para divulgá-lo, foi sugerido que o próprio Caetano o apresentasse ao lado de Teresa em Nova York. "Fizemos, gostamos, os outros gostaram e os convites chegaram de todos os lugares", contou.

No repertório, além do clássico de Pedro Infante e de músicas de Teresa Cristina, não faltarão composições conhecidas do autor de "O Leãozinho". Resta saber se incluirá a nova versão de "O Quereres", lançada em 1984, regravada com Jaques Morelenbaum e Carlinhos Brown.

"Não ficou nada na minha cabeça para conflitos ou preconceitos nesse sentido", disse Caetano, "feliz" por voltar a trabalhar com estes dois ícones da música.


A boa e a má música

Aos 74 anos, mais de 30 depois da primeira gravação de "O Quereres" para seu disco "Velô", "exemplo de sonoridade dos anos 80", Caetano brinca ao dizer que teria que "escrever um ensaio" para enumerar tudo o que mudou neste período: "Estou muito mais velho, o mundo está mais louco e a indústria musical tem outra cara", diz.

Para ele é evidente "que existe a boa e a má música". "Mas isso muda segundo as perspectivas históricas", opinou.

A arte de Caetano continua atraindo novas gerações, como mostrou na mítica participação na Primavera Sound, de 2014, em Barcelona, um festival jovem e alternativo predominantemente anglo-saxão.

"Me senti muito bem. O show saiu forte com a Banda Cê, e o público, que era grande, ficou até o final", lembrou Caetano. Seu último disco, "Abraçaço", foi lançado em 2014. Portanto, cabe perguntar quando sairá um novo disco e qual seria seu estilo. "Ainda não sei o que poderá ser. Tenho ideias para músicas e tenho vontade de cantar com meus filhos", respondeu.

 



Dores

O músico, que desde os anos 60 canta "É Proibido Proibir", dominou as manchetes recentemente por sua defesa da legalização da maconha e de todas as drogas no Brasil. Confia sempre no bom julgamento do ser humano?

"Seria uma loucura fazer isso. Eu não uso drogas. Nunca usei nada além de tabaco e álcool, e já faz uns 30 anos que os deixei. Mas há princípios liberais que ainda me interessam", disse o artista, para quem "a guerra contra as drogas é um fracasso".

Sobre este tema, Caetano destacou que em Colômbia, México e Brasil "cresceram as máfias de narcotraficantes, e a violência ganhou uma dimensão que assusta", em relação a experiências como as de Holanda, Portugal e Uruguai.

Sobre o futuro político brasileiro, ele se mostrou otimista. "Se tenho algo, fé é a palavra justa para definir. Amo o Brasil e sua sugestiva unicidade: é um país de dimensões continentais, o único que fala português na América e é muito misturado racialmente", afirmou ele, que vê a crise atual como "dores do crescimento".