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Há 30 anos, Michael Jackson lançava Bad e tentava ultrapassar o insuperável

Capa do álbum "Bad", lançado por Michael Jackson em 1987 - Reprodução
Capa do álbum "Bad", lançado por Michael Jackson em 1987 Imagem: Reprodução

David Villafranca

Em Los Angeles (EUA)

31/08/2017 10h26

Com apenas 29 anos, ele tinha o mundo a seus pés após lançar, em 1982, o disco "Thriller", o mais vendido da história, mas com "Bad", de 1987 e que hoje completa três décadas de lançamento, Michael Jackson enfrentou o desafio de voar ainda mais alto e ultrapassar o que parecia insuperável.

"Havia muita tensão, porque sentíamos que estávamos competindo contra nós mesmos", explicou o rei do pop na autobiografia "Moonwalk", publicada em 1988.

"Não importa como você veja, as pessoas sempre comparariam 'Bad' com 'Thriller'. Podia sempre dizer 'ah, esqueça Thriller', mas ninguém fará isso", acrescentou Jackson, antes de admitir que, no fundo, toda aquela expectativa era para ele "uma leve vantagem", porque seu melhor trabalho era realizado sempre "sob pressão".

Seus fãs tiveram que esperar cinco anos para saborear a continuação de "Thriller", um fenômeno mundial que, segundo o Guinness Book, o livro dos recordes, continua sendo o disco mais vendido da história, com 66 milhões de cópias.

O revolucionário videoclipe de "Thriller", que mudou as regras da promoção musical, enormes sucessos como "Beat It" e "Billie Jean", e os oito Grammy que o álbum conquistou confirmaram o status de grande astro de Jackson nos anos 80, com concorrência à altura apenas de Madonna e Prince na época.

"Por que levei tanto tempo para fazer 'Bad'? A resposta é que Quincy Jones (seu lendário colaborador) e eu decidimos que este álbum tinha que ser tão próximo à perfeição quanto humanamente possível. Um perfeccionista tem que respeitar seu tempo: dar forma, moldar e esculpir essa coisa até que seja perfeita. Não pode abandoná-la antes de estar satisfeita, não pode", comentou Jackson.

O certo é que, no período entre "Thriller" e "Bad", o rei do pop não ficou ocioso, algo nada estranho para um artista que começou como menino prodígio sob os cuidados do selo Motown e que viveu a juventude sem tirar o pé do acelerador.

Em 1984, ele retomou a parceria com os irmãos no grupo Jackson Five para o disco "Victory". No ano seguinte, fez a quatro mãos com Lionel Richie o single beneficente "We Are The World", e também em 1985 adquiriu o lucrativo catálogo de músicas dos Beatles, uma jogada de mestre no campo dos negócios, mas que arruinou sua amizade com Paul McCartney.

Fechados no estudo, Jackson e sua equipe decidiram que, para o novo disco, queriam mostrar uma face mais dura do cantor, mais afiada, mais direta, como se viu no clipe de "Bad" que, dirigido por Martin Scorsese, mostrava o rei do pop envolvido em brigas de rua contra um jovem Wesley Snipes.

"Toda a agitação (na sua vida) estava começando a se acumular, por isso lhe disse que pensava que era o momento de que ele fizesse um disco muito honesto, compondo todas as canções", afirmou o produtor Quincy Jones em uma entrevista publicada ontem pela revista "Rolling Stone".

"Bad" chegou às lojas em 31 de agosto de 1987 e incluía baladas românticas como "I Just Can't Stop Loving You", assim como as insinuantes "The Way You Make Me Feel", e a elétrica "Smooth Criminal".

O disco também contou com a colaboração de Stevie Wonder em "Just Good Friends", e suas sessões de gravação tiveram espaço ainda para uma música de Jackson cantada em espanhol: uma versão de "I Just Can't Stop Loving You" que, após a tradução encarregada ao panamenho Rubén Blades, foi batizada como "Todo Mi Amor Eres Tú".

"Bad" vendeu mais de 30 milhões de discos e estabeleceu um novo recorde ao colocar cinco singles de um mesmo álbum no número 1 da lista de sucessos, uma marca que em 2010 foi igualada por Katy Perry com "The Tourist".

Mas a genialidade e o talento do astro dividiam espaço com sua vulnerabilidade e timidez, como pode ser visto no documentário "Bad 25" (2012), de Spike Lee, em que os seus colaboradores tratam o músico como uma delicada jarra de porcelana de incalculável valor colocada na borda de uma mesa.

"Bad" levou Jackson à sua primeira grande turnê mundial, com espetaculares resultados artísticos e financeiros, mas este disco também encerrou sua trilogia irreparável, após "Off The Wall" (1979) e "Thriller", e encaminhou o artista aos anos 90 de escândalos e escassa sorte musical. Foi como se, após ter conquistado o Everest, não lhe restasse vontade de voltar a escalar nenhuma outra montanha.