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"The New York Times": Keith Urban revela seu lado claro em disco novo

09/04/2009 16h49

GARY GRAFF
The New York Times Syndicate


"Clareza" é um palavra importante para Keith Urban atualmente.

Ela reflete a vida mais assentada do cantor e compositor country desde seu casamento em 2006 com a atriz Nicole Kidman e o nascimento da filha do casal, Sunday Rose, em julho de 2008. Também é um dos resultados de um tratamento de reabilitação bem-sucedido em 2008 no Betty Ford Center, na Califórnia.

Segundo Urban, também é o ingrediente secreto de "Defying Gravity" (desafiando a gravidade), seu quinto álbum de estúdio em uma carreira que inclui quatro álbuns ganhadores de disco de platina ou mais e 10 singles que chegaram ao 1º lugar nas paradas.

Reuters
Keith Urban e a atriz Nicole Kidman em premiação de música country, em Las Vegas (05/04/2009)
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"Eu senti muita clareza gravando este álbum", diz Urban, 41 anos, por telefone de sua casa em Nashville. "Havia uma clareza em particular a respeito de quem sou, o que quero dizer e que tipo de música gosto de fazer."

"E neste álbum eu também não pensei demais. Eu acho que calculei demais no passado, e neste álbum eu agi muito mais por instinto, entrando no estúdio e criando as canções... eu simplesmente mantive tudo bastante espontâneo, e acho que é um álbum bem mais forte por causa desta abordagem."

Urban claramente estava em um estado de espírito melhor para "Defying Gravity", cujo primeiro single, "Sweet Thing", chegou rapidamente ao topo das paradas country. Enquanto o duplamente platinado "Love, Pain & the Whole Crazy Thing" (2006) foi uma espécie de declaração pós-reabilitação, e também seu primeiro álbum após o casamento com Kidman, o novo o encontra mais aberto e desfrutando assumidamente sua felicidade e romance.

"É um álbum bastante para cima", concorda Urban, "um álbum alegre e de espírito livre. Obviamente, eu componho bastante sobre amor, e este álbum trata não apenas de estar apaixonado, mas de ter a coragem de amar".

"É difícil à medida que você fica mais velho, porque você já se apaixonou, teve o coração partido e sua tendência é manter o pé atrás. Mas é preciso estar totalmente, inteiramente nisso. Mesmo se você tiver alguma hesitação a respeito, é preciso dar tudo nisso. É essa entrega, fechar os olhos e acreditar que vai voar e flutuar -apenas soltar e flutuar."

A música country tem sido o plano de voo de Urban desde cedo. O cantor, compositor e guitarrista nascido na Nova Zelândia e criado na Austrália credita à coleção de discos de seu pai a sua doutrinação no country, enquanto crescia em Brisbane.

"Era tudo country americano -Charlie Pride, Jim Reeves, Ronnie Milsap" , lembra Urban, que começou a tocar violão quando tinha 6 anos. "Desde pequeno, eu queria ir para Nashville, porque 'Nashville, Tennessee' estava escrito no verso de cada um daqueles discos."

O rock também fez parte das raízes de Urban, principalmente graças ao seu irmão mais velho, que ouvia uma dieta constante de discos de Jackson Browne, Eagles, Electric Light Orchestra e Supertramp. O estilo de tocar de Mark Knopfler do Dire Straits e de Lindsey Buckingham do Fleetwood Mac se tornaram influências-chave para o músico.

Ele passou o início de sua carreira no ambiente de muito mais apoio do rock: "principalmente pubs australianos, que eram lugares bastante duros", ele diz. "Realmente não há bares country. É um público de rock and roll, de forma que se for tocar uma canção de Glen Campbell, é melhor fazê-lo com alguma atitude ou convicção ou eles acabam com você."

Urban começou a gravar álbuns country na Austrália no início dos anos 90, emplacando sucessos e conquistando vários prêmios locais. Nashville ainda estava na sua mira, e em 1997 ele e sua banda na época, The Ranch, fizeram a mudança e lançaram um álbum de mesmo nome naquele ano.

"The Ranch" chamou muita atenção pelo trabalho de guitarra de Urban, e ele acabou tocando em álbuns de Garth Brooks, Dixie Chicks e outros antes do produtor Matt Rollings o colocar sob sua asa e lançá-lo em uma carreira solo com "Keith Urban" (1999).

"Eu passei grande parte da minha carreira como artista solo", diz Urban, que voltou ao Ranch para um segundo álbum em 2004. "A banda foi um desvio do que eu já estava fazendo, sério, e olhando para trás provavelmente foi o motivo para não ter dado certo."

Urban resumiu seus primeiros oito anos em Nashville com "Greatest Hits: 18 Kids" (2007), uma coleção de canções favoritas como "Somebody Like You" (2002), "Raining on Sunday" (2003), "Days Go By" (2004) e "Stupid Boy" (2007).

Esse levantamento, ele diz, teve um impacto significativo sobre "Defying Gravity".

"Eu queria entender o que faço e tentar manter o foco claro e centrado", diz Urban. "Em 'Love, Pain & the Whole Crazy Thing', eu acho que estava tentando buscar muitas coisas e talvez tenha aberto demais o leque de possibilidades, mas acabei ficando sem um foco central, claro."

"Eu não quero desmerecer o álbum, porque aprendi muito ao gravá-lo, mas apenas parece que há mais coesão neste álbum."

No início as coisas não transcorreram de forma suave. Urban e o produtor Dann Huff, que produziu os três álbuns anteriores do cantor e compositor, entraram no estúdio em meados de 2008, mas apenas uma das canções que trabalharam naquele momento -uma versão de "I'm In" de Radney Foster- acabou em "Defying Gravity".

"As canções simplesmente continuam evoluindo ou não. Aparentemente eu não tomo uma decisão realmente consciente de descartar certas canções e manter outras. Elas parecem encontrar organicamente seu espaço no que virá a se tornar um álbum."

"Eu sou um fã legítimo de música comercial. Eu adoro canções que pegam fácil e, espero, tenham também algum conteúdo. Simplesmente não é do meu feitio fazer uma peça de arte escancaradamente indulgente que não tem apelo para ninguém."

Kidman é a fonte de várias canções em "Defying Gravity", diz Urban. O título de "My Heart Is Open" (meu coração está aberto), por exemplo, foi algo que ela disse para ele no início do relacionamento deles. "Thank You" (obrigado) fala por si só, enquanto "Why's It Feel So Long" (por que parece tanto tempo) foi inspirado por seu anseio em falar com Kidman logo após deixá-la no aeroporto certo dia.

Os fãs provavelmente lerão algo a respeito do casamento dele em todas as canções que ele escreve sobre amor, reconhece Urban, mas ele insiste que há mais nelas do que uma autobiografia.

Para mim, escrever muito a respeito de qualquer coisa pessoal é um equilíbrio difícil. Por um lado, ambos somos pessoas bastante privadas, mas por outro lado eu componho canções que são sobre minha vida, minha vida doméstica, minha família."

"Eu acho que escrevo a respeito de tudo isso de uma forma que me sinto à vontade. Não é algo detalhado demais ou explícito a ponto de parecer uma invasão da minha privacidade, mas posso criar arte vinda do meu coração e que é inspirada diretamente pela minha vida."

Essa vida é muito diferente atualmente, ao Urban repentinamente se ver como pai de três: Sunday Rose e os dois filhos adotivos de Kidman com o ex-marido Tom Cruise.

"Eu nem mesmo sabia se teria filhos nesta vida", diz o cantor e compositor, "e não tinha nenhum problema com isso. Eu até mesmo pensava, 'Bom, talvez não esteja no meu destino ter filhos. Tudo bem'. Mas agora tenho dois enteados que adoro e, de repente, acabamos ganhando nossa anjinha."

Sunday Rose conta com "guarda-roupa de rock" abastecido em grande parte por outras pessoas, incluindo amigos de seus pais e fãs de Urban, que atiram itens no palco em seus shows. Ele aprecia em especial um vestido com a inscrição "I Crawl the Line" (eu engatinho na linha, uma referência ao sucesso "I Walk the Line" de Johnny Cash), mas acrescenta que grande parte das roupas é doada para a Goodwill ou para a Cruz Vermelha.

Urban voltará para a estrada neste ano com sua turnê mundial "Escape Together", que o colocará de volta em contato com os fãs que o apoiaram durante seus momentos difíceis de poucos anos atrás.

"Eu acho que o fato das pessoas comprarem seus discos é provavelmente o mais forte, porque significa que a música as afeta e estão ligadas a ela de alguma forma. Ver as pessoas conectadas à música é sem dúvida a maior recompensa."

"Minha postura para cada álbum que faço é exatamente a mesma. Compor e encontrar as melhores canções que puder, reunir uma equipe com a qual me sinta à vontade no estúdio e gravá-las da melhor forma possível. É assim simples e difícil."

"Mas é tudo o que posso fazer -o restante é apenas fé, o tempo certo e sincronicidade."

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradução: George El Khouri Andolfato