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Bruce Hornsby abandona solos de piano no novo "Levitate" e concentra-se nas canções

O pianista Bruce Hornsby, dono do hit "The Way It Is", lança o novo álbum "Levitate" - Megan Holmes/NYT
O pianista Bruce Hornsby, dono do hit "The Way It Is", lança o novo álbum "Levitate" Imagem: Megan Holmes/NYT

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

20/10/2009 07h00

Bruce Hornsby vem surpreendendo a cena musical desde que lançou seu primeiro disco, em 1986. Com seus solos longos e virtuosos de piano, canções como "The Way It Is" (1986) e "The Valley Road" (1988) dificilmente pareceriam destinadas ao sucesso nas paradas pop, mas mesmo assim a primeira chegou ao topo da Billboard Hot 100 e a segunda alcançou a quinta posição. E teve ainda "Mandolin Rain" (1986), uma pepita musical que também chegou ao Top 5 e ajudou Hornsby a conquistar um prêmio Grammy como melhor artista revelação.

"Eu sou uma anomalia", diz o cantor e compositor nascido no Estado norte-americano de Virgínia, que também foi coautor dos sucessos "Jacob's Ladder" (1986), da banda Huey Lewis & the News, e "The End of the Innocence" (1989), de Don Henley. "Eu não acho que você escute essas músicas e diga que é um sucesso garantido. Todas as vezes que toquei no rádio é como se tivesse realizado algum tipo de truque maluco na música popular. Ou, no mínimo, eu tive muita, muita sorte".

Agora Hornsby, que não emplacou outro single Top 40 desde "Across the River" (1990), está brincando novamente com seu público. Após gravar com o astro do bluegrass Ricky Skaggs, em "Ricky Skaggs and Bruce Hornsby" (2007), e com os jazzistas Jack deJohnette e Christian McBride, em "Camp Meeting" (2007), ele deixou seus solos de piano característicos de fora de seu 12º álbum, o novo "Levitate", que gravou com sua banda The Noisemakers.

"Este álbum não trata do piano, nem do virtuosismo no instrumento", diz Hornsby, de 54 anos. "Eu senti que já tinha feito isso antes, em especial nos discos de bluegrass e jazz. Esses estilos envolvem tocar bem o instrumento. Então quis que "Levitate" se concentrasse nas canções", conta.

O músico não tocou nenhum solo em "Levitate". "Há apenas quatro solos: um de clarinete e três de guitarra. Eu queria que tudo se concentrasse especificamente na canção, e não nas coisas virtuosas que faço". Comprovando isso há "The Black Rats of London", a faixa que abre o álbum e que começa com Hornsby no acordeão em vez do piano. "Eu quero que ['Levitate'] seja sobre minha banda [The Noisemakers], daí o início com o acordeão".

Bruce Hornsby - "Prairie Dog Town"

Hornsby sabe que escolheu um percurso controverso, mas reconhece que faz parte do malabarismo criativo que manteve ao longo de sua carreira. "Desde que me interessei em tocar bem um instrumento, eu tento encontrar um jeito de me expressar nas minhas músicas, mas a qualidade da canção sempre foi importante para mim. Depois de 23 anos trabalhando com isso, queria que dessa vez fosse diferente".

Elogios e auto-crítica
Equilibrar gravação, apresentação ao vivo e composição é a essência da vida musical de Hornsby há décadas. Ele cresceu em Williamsburg, o lar de sua família por gerações. Bruce não tem parentesco com a lenda do beisebol Rogers Hornsby, apesar de que costumava manter um busto do jogador sobre seu piano como uma brincadeira. Hornsby era um atleta no colégio, um astro do basquete que idolatrava o jogador Bill Bradley e sonhava em seguir um caminho semelhante, passando pela liga universitária e depois para a NBA, antes de ser conquistado pela música.

Depois de estudar na Universidade de Richmond, também na Virgínia, na Faculdade de Música de Berklee, em Boston, e na Escola de Música da Universidade de Miami, Hornsby começou a tocar pelo sul dos Estados Unidos com seu irmão Bobby, que tinha uma banda de covers de rock and roll. Após abrir para os Doobie Brothers na cidade de Hampton, Hornsby fez amizade com o cantor Michael McDonald, que o encorajou a se mudar para Los Angeles.

Hornsby foi acompanhado de outro irmão, John, também um compositor, e eles arrumaram um emprego compondo música para a 20th Century Fox, trabalhando em filmes como "Toque de Recolher - Academia de Valentes" (1981) e "Sem Regras Para Amar" (1982). Enquanto isso, o pianista mantinha afiada sua técnica como instrumentista, excursionando como membro da banda de Sheena Easton. "Todas aquelas apresentações tinham o apelido de 'pagando o aluguel'", ele diz.

Os irmãos Hornsby continuaram fazendo suas músicas e, em 1985, uma demo com quatro faixas, que incluía "The Way It Is", lhes rendeu um contrato com a gravadora RCA. O sucesso do disco "The Way It Is", que vendeu 3 milhões de cópias, pegou Hornsby de surpresa. "Nós esperávamos algo como um público cult. Para mim isso já bastaria".

Ele ficou surpreso com os elogios de heróis pessoais como Elton John e Steve Winwood, fora os convites para colaborar com artistas como Mark Knopfler do Dire Straits, o astro country Willie Nelson e Robbie Robertson da The Band. Os muitos executivos de gravadoras que perderam a chance de contratá-lo pareciam bobos. "Eles ficavam desconfortáveis perto de mim, do tipo: 'por que não contratamos esse cara?' E eu dizia: 'cara, eu não sei se eu mesmo me contrataria'".

A melhor parte do sucesso rápido, ele diz, foi a sensação de libertação. "Eu já estive no topo da montanha. Depois disso eu senti que podia fazer o que quisesse". E esse foi seu caminho desde então, enquanto fazia experimentações em seu som, tocava em vários shows com outros artistas, participava de apresentações com o Grateful Dead e com sua banda sucessora, The Other Ones. Ao longo desse caminho ele conquistou mais dois Grammys e doou dinheiro para o programa Música Americana Criativa, em Miami.

Bruce Hornsby - "The Way It Is"

Prato cheio
Em "Levitate", a ligação com o Grateful Dead aparece na contribuição do antigo colaborador da banda, Robert Hunter, dividindo a composição da música "Cyclone". "Eu sempre amei as canções assinadas por Jerry Garcia e Hunter. Muitas delas soam como se pudessem ter sido compostas há cem anos. E sempre esteve no ar a possibilidade de Hunter compor comigo".

Sentindo que "Cyclone" soava como "uma música que Garcia teria composto para uma letra de Hunter", Hornsby enviou a faixa para Hunter, que duas semanas depois respondeu com palavras "que se encaixavam meticulosamente na melodia", diz o músico. Hornsby ri quando lembra da primeira reação de Hunter à versão concluída. "Eu enviei uma gravação e ele respondeu com um bilhete dizendo: 'bom trabalho, mas o vocal poderia ser um pouco melhor para mim'. Eu não discordei, voltei e cantei de novo".

Outra canção em "Levitate", a animada "Space Is the Place", conta com um solo de guitarra de Eric Clapton --que, na verdade, foi gravado para "Halcyon Days" (2004)-- e um rap de um dos filhos gêmeos de Hornsby, Russell, que tinha 12 anos na época e agora tem 17.

Uma ocasião mais séria envolve "Continents Drift", que tem uma guitarra tocada por seu sobrinho, Robert S. Hornsby, que morreu em um acidente de carro seis dias após a gravação. Faltava uma semana para seu 29º aniversário. "Fico feliz por ela servir como um belo testamento de Robert", diz Hornsby, que dedicou o álbum ao seu sobrinho. "Não há escala de tragédia para algo assim, alguém morrendo tão jovem. Ele era um músico tão dotado, um garoto cheio de vida. Nós ainda estamos nos recuperando disso".

Várias das canções de "Levitate" fazem referência a outros projetos de Hornsby. A faixa título vem da trilha que ele compôs para "Kobe Doin' Work", um futuro documentário de Spike Lee sobre o jogador de basquete Kobe Bryant, enquanto "Invisible" pode ser ouvida no filme "O Melhor Pai do Mundo", comédia de Bobcat Goldthwait e estrelada por Robin Williams. Hornsby está presente no filme como uma piada recorrente e faz uma participação especial como ele mesmo.

Outras faixas de "Levitate" aparecerão em "SCKBSTD", um musical teatral no qual Hornsby está trabalhando com a diretora e coreógrafa da Broadway Kathleen Marshall. O show, ele diz, "está caminhando em seu próprio ritmo para ser concluído, porque a Broadway é um mundo diferente".

Em outras palavras, o prato de Hornsby está cheio, como está desde a década de 1980. "A sensação é de ser uma atividade sem fim. No momento parece só uma versão um pouco mais ativa do mesmo sem-fim de atividades que tem sido desde que comecei a tocar. Há sempre alguma coisa acontecendo. Nunca termina. E eu não me queixarei disso".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato