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Com projetos paralelos, dupla Hall & Oates revê seus 40 anos de carreira olhando para frente

A dupla Hall & Oates durante show no BMI Pop Awards em Beverly Hills (20/05/2008) - Getty Images
A dupla Hall & Oates durante show no BMI Pop Awards em Beverly Hills (20/05/2008) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*<br>The New York Times Sindycate

25/11/2009 22h08

Na primeira vez em que Daryl Hall e John Oates fizeram música juntos, parecia que a parceria não duraria 40 segundos, muito menos 40 anos. Os dois se conheceram em 1967, enquanto fugiam de uma briga entre gangues rivais que estourou durante um concurso de bandas no Adelphia Ballroom, na Filadélfia. "Nós começamos a conversar sobre os grupos e músicas que gostávamos e coisas assim", lembra Hall, "e percebemos que tínhamos muito em comum".

Eles se reuniram não muito tempo depois no estúdio da emissora de rádio da Universidade Temple para compor uma música juntos. "E foi horrível", diz Oates rindo. "Era uma droga e nós dois sabíamos disso, daí olhamos um para o outro, e foi algo como 'uau, isso não é nada bom. Talvez a gente devesse ser só amigos'".

Felizmente eles mudaram de idéia. Dois anos depois, formalmente se transformaram em Daryl Hall & John Oates, lançando-se em um trajeto que resultou em vendas de 60 milhões de álbuns, duas dúzias de sucessos no Top 40 --seis deles chegaram ao 1º lugar da parada-- e participações na faixa "We Are the World" do USA for Africa (1985), no Live Aid e na canção anti-apartheid "Sun City" (1985). Em 2003, eles ingressaram no Salão da Fama dos Compositores.

Hall & Oates - "Maneater"

"O estilo de composição de Hall & Oates é enganadoramente complexo", escreveu Ben Gibbard, líder da banda Death Cab for Cutie, em um texto para a nova caixa "Do What You Want, Be What You Are: The Music of Daryl Hall and John Oates", que celebra os 40 anos da dupla. "Há algo incrivelmente satisfatório a respeito das canções deles".

Hall argumenta que não é "alguém que olha para o passado ou o analisa demais", mas tanto ele quanto Oates ficam satisfeitos com o trabalho que criaram juntos. "Eu vejo vários tipos de evolução", diz Hall, de 63 anos, que nasceu Daryl Hohl em Pottstown, na Pensilvânia.

"Eu ouço esses dois garotos da Filadélfia que faziam parte do som regional, e depois nossa saída de Philly e a ida para Nova York, e então nosso ingresso na cena musical de Los Angeles entre meados e o final dos anos 70", ele lembra. Para Hall, é tudo uma continuidade. "Há certamente um tipo de evolução constante em andamento. Talvez eu consiga ouvir melhor do que as pessoas de fora, mas acho que cobrimos bem esse período ao longo das últimas quatro décadas".

Subproduto inesperado
Por toda sua carreira, Hall & Oates misturaram folk, pop, soul e, a partir do final dos anos 70, elementos dance e hip-hop de vanguarda em um produto distinto, que frequentemente se conectava com o gosto das massas. Mas Oates, de 60 anos, argumenta que o sucesso comercial foi um "subproduto inesperado" --e não intencional-- do que ele e Hall estavam fazendo.

"Nós não éramos motivados por singles de sucesso", diz Oates, nascido em Nova York e criado nos subúrbios da Filadélfia. "Acredite, eu tenho muito orgulho e fico muito feliz com os sucessos, mas não eram exatamente a música que nos definia como pessoas e compositores. Felizmente, nós surgimos durante um período em que a indústria musical permitia o tipo de música que queríamos e conseguia selecionar as faixas certas para promover como singles, mas não compusemos nada visando ser um sucesso".

O primeiro ingresso de Hall & Oates nas paradas veio com "She's Gone", faixa do segundo álbum, "Abandoned Luncheonette" (1973). O refrão cheio de soul e com rica melodia era singular na época, e as letras, inspiradas em um fora que Oates levou de uma garota no Ano Novo, tocou os sentimentos dos ouvintes: "Eu me sentei em meu apartamento com meu violão, esperando que ela aparecesse / e finalmente, por volta da meia-noite, eu percebi que ela provavelmente não viria".

Hall & Oates - "Out of touch"

Oates conta que os dois compuseram a música juntos. "Foi praticamente no tempo que levamos para tocá-la. Eu acho que o que torna a canção única e a faz tão duradoura é o fato das imagens serem bastante reais, imagens com as quais qualquer um pode se identificar".

"She's Gone" se tornou um sucesso ainda maior depois que "Sara Smile" (1975) chegou ao quarto lugar nas paradas, seguido pelo primeiro single a chegar ao primeiro lugar, "Rich Girl" (1977). Mas o período mais prodigioso da dupla foi durante o início dos anos 80, quando emplacou 15 sucessos Top 20, incluindo "Kiss on My List" (1980), "Private Eyes" (1981), "I Can't Go For That (No Can Do)" (1981), "Maneater" (1982) e "Out of Touch" (1984).

Isso coincidiu com o nascimento da MTV --quando os dois eram VJs convidados "semana sim, semana não", segundo Hall-- mas também foi uma de suas fases mais aventureiras musicalmente, à medida que exploravam técnicas de produção e tecnologias de vanguarda.

Hall estava estava "escondido" em Nova York, onde foi muito influenciado. "Mais do que por qualquer outra cidade fora a Filadélfia. Eu estava muito interessado na cena de rhythm & blues e de art-rock de Nova York. Eu ficava sentado lá, escutando e absorvendo os sons que ouvia ao meu redor, todos sendo misturados às minhas raízes naturais da Filadélfia".

Yin e yang
Em 1985, Hall & Oates realizaram um sonho ao se unirem com David Ruffin e Eddie Kendrick, integrantes dos Temptations, para o álbum "Live at the Apollo...", que produziu um medley Top 20 dos sucessos do grupo da Motown. "Quando nos convidaram a reabrir o Apollo nos anos 80", diz Hall, "meu primeiro pensamento foi, 'se vou me apresentar lá, vou levar os caras responsáveis por eu estar lá. Eddie e David foram as primeiras pessoas em que pensei. Foi incrível estar no palco com eles. Muito psicodélico é o melhor que posso descrever".

Hall e Oates também cantaram com os Temptations no Live Aid, em 1985, mas os sucessos começaram a secar no final dos anos 80. A dupla chegou ao terceiro lugar com "Everything Your Heart Desires" (1988), mas não conseguiu mais entrar em nenhum Top 40 desde "So Close" (1990), coproduzida e composta em parceria com Jon Bon Jovi.

Mas eles dizem não se importar. Nos últimos anos, ambos tratam sua associação mais como uma nave-mãe do que seu interesse principal. Apesar de ainda se apresentarem juntos, eles não gravam um álbum em dupla desde "Home For Christmas" (2006), preferindo se dedicarem aos seus próprios projetos.

Hall & Oates - "Private Eyes"

Hall, que lançou seu primeiro álbum solo em 1980, está trabalhando em outro para 2010 e também apresenta a popular série de internet "LiveFromDarylsHouse.com", que conta com convidados como Smokey Robinson, K.T. Tunstall, integrantes do The Doors e Fall Out Boy, além de, é claro, Oates. Ele também gosta de reformar casas coloniais.

Oates, por sua vez, lançou dois álbuns solo, o mais recente "1,000 Miles of Life" (2008), e em 2010 planeja lançar outro, que ele diz ser mais voltado para música de raiz, bluegrass, folk e country. "Eu acho que não poderíamos ser mais diferentes como pessoas", diz Oates. "Acho que somos absolutamente yin e yang, preto e branco, norte e sul. Eu sou todo simplicidade, ele parece ser todo complexidade. Ele odeia esportes, eu adoro esportes".

Além disso, Oates conta que as coisas que motivam Hall, as quais ele parece se importar, têm pouco a ver com as coisas que "quero ou gosto". "Eu sou muito mais zen do que ele. Daryl gosta de ter muitas casas e sempre parece estar fazendo algo, envolvido nisso e naquilo, viajando para toda parte. Eu apenas quero ficar em casa".

No entanto, a parceria perdura --e continuará, dizem ambos, pelo futuro previsível. "Nós gostamos de trabalhar separadamente", diz Hall. "Isso não significa que não gostamos de trabalhar juntos. Passamos por ciclos. Sempre fazemos turnês. Não há grandes planos para um disco de Hall & Oates no futuro próximo, mas isso não significa que não haverá um. Nós estamos à vontade um com o outro";

Oates concorda com esse diagnóstico. "Nós temos certas coisas que fazemos juntos", ele diz. "Apreciamos e respeitamos o que cada um de nós consegue fazer e traz à mesa, e não ficamos no caminho um do outro profissional ou pessoalmente. Mas ainda estamos em sincronia a respeito do que queremos fazer. É uma daquelas coisas estranhas que só acontecem porque crescemos juntos e passamos nossa vida adolescente e adulta juntos. Somos como irmãos, eu acho, para colocar de forma sucinta".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato