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Jon Bon Jovi fala sobre o sucesso de "The Circle", quarto disco da banda a chegar ao topo das paradas

Richie Sambora (esq) e Jon Bon Jovi em apresentação do Bon Jovi no programa da TV norte-americana "Today", em Nova York (25/11/2009) - AP Photo/NBC, Peter Kramer
Richie Sambora (esq) e Jon Bon Jovi em apresentação do Bon Jovi no programa da TV norte-americana "Today", em Nova York (25/11/2009) Imagem: AP Photo/NBC, Peter Kramer

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

14/12/2009 11h36

Jon Bon Jovi não planejava lançar um novo álbum em 2009, muito menos almejava conseguir o quarto álbum de sua carreira a chegar ao primeiro lugar nas paradas, com “The Circle”.

Seu plano de jogo era bem simples: após o sucesso platinado de “Lost Highway” (2007) e o lançamento de um documentário, “When We Were Beautiful” (2008), ele e seus companheiros de banda do Bon Jovi iam apenas gravar algumas poucas novas faixas para serem incluídas em uma coletânea de sucessos, que ele prometeu à sua gravadora em troca dela ter permitido a gravação do comercialmente arriscado, influenciado por Nashville, “Lost Highway”.

Isso foi em setembro de 2008, disse Bon Jovi, quando “não havia muito a respeito do que escrever”, nos meses finais do governo Bush.

“O mercado de ações ainda estava vivendo um boom, todo mundo estava desfrutando”, disse o cantor e compositor, falando por telefone de Londres. “Então, em outubro, o mundo mudou drasticamente e se você abrisse seus olhos e ouvidos, havia assunto de sobra. E outubro levou a dezembro, com as coisas tipo Bernie Madoff, a queda do mercado de ações e o medo de falência de Detroit... Então começamos a compor um tipo diferente de canção.”

Bon Jovi comemora bodas de prata

Bon Jovi e o guitarrista Richie Sambora compuseram muitas delas, na verdade.

“Nós começamos a compor canções sem nos preocuparmos em cumprir quaisquer compromissos, compor sucessos ou coisas assim”, diz Bon Jovi.

Então, em janeiro de 2009, ele se viu na sala do presidente de Island Def Jam, L.A. Reid, tocando meia dúzia de novas canções e propondo algo consideravelmente diferente da coletânea de sucessos que planejavam.

“Nós nos sentamos e tivemos uma conversa honesta, de gravadora, à moda antiga. E ele disse: ‘Minha experiência é de que se um artista realmente tem alguma coisa a dizer e você engaveta, o tempo passará e aquilo ficará datado. Façam o que têm que fazer. Façam o que quiserem, como quiserem, e veremos como faremos’.”

Essa provou ser a decisão certa. Em novembro, “The Circle” seguiu o exemplo de “Lost Highway” ao estrear no primeiro lugar na parada Billboard 200, com vendas na primeira semana de 163 mil cópias, e também ocupando o primeiro lugar nas paradas no Canadá, Alemanha e Japão. Bon Jovi também fez um pouco de história como “Artista Residente” na NBC, quando a banda estava presente em todos os programas da emissora, do “Today” e “Saturday Night Live” até o noticiário “The NBC Nightly News”, passando por eventos esportivos e até mesmo no programa “Inside the Actor’s Studio” do canal Bravo, uma subsidiária da NBC. A seguir virá uma turnê mundial que começará em 19 de fevereiro.

“Nós estamos muito além do conceito de pensar ‘Oh, como faremos para chegar ao Top 40 das rádios?’”, diz Bon Jovi, cuja banda já teve 20 sucessos Top 40 desde sua origem em Sayerville, Nova Jersey, em 1983. “Nós já estamos presentes há muito, muito tempo. Nós estamos –no melhor sentido, eu acho– bem estabelecidos, então podemos nos concentrar no trabalho e no tipo de qualidade desse trabalho.”

“Isso é o mais importante para nós agora e é ótimo podermos fazer isso.”

“As canções de ‘The Circle’ são habitadas por homens e mulheres comuns, que declaram que ‘We Weren’t Born to Follow’ (nós não nascemos para seguir), lembram de dias mais simples em ‘When We Were Beautiful’ (quando éramos bonitos), esperam ‘Live Before You Die’ (viver antes que você morra), procuram ‘Work for the Working Man’ (trabalho para o trabalhador) e tentam viver segundo o credo de que ‘Love’s the Only Rule’ (o amor é a única regra), com frequência em hinos contagiantes, com batidas de sacudir os altofalantes e refrões do tipo que soam melhor quando cantados por um estádio cheio de fãs.

É um som que tem tanto músculo quanto carne, uma abordagem que o Bon Jovi –que também inclui o tecladista David Bryan e o baterista Tico Torres (o baixista Alec John Such saiu em 1994)– desenvolveu cuidadosamente em 11 álbuns de estúdio que venderam mais de 120 milhões de cópias em todo o mundo.

O próprio Bon Jovi reconhece, entretanto, que isso não é necessariamente o que ele aspirava em seus primórdios como astro do rock.

"Living on a Prayer" ao vivo

“Quando eu tinha 25 e compusemos ‘You Give Love a Bad Name’, nós éramos os garotos com cabelo comprido no shopping –sexo, drogas, rock and roll e todas as coisas. Eu era o caubói, entrando cavalgando na cidade, procurado vivo ou morto. Era quem eu era na época. Mas não sou mais.”

“Mas mesmo naquela época eu sabia que nunca chegaria aos 50 anos ainda pintando as unhas de preto, pintando ‘Cadela’ na minha barriga. Mesmo aos 25 anos eu sabia disso. Eu não sabia aonde iria chegar, eu apenas sabia que não seria esse sujeito. Mas também não queria compor chavões. Esse pensamento... soava vazio.”

“Eu queria o respeito dos meus pares. Mesmo quando são os mais velhos nos quais me inspiro, quando dizem: ‘É uma boa canção’, isso tem peso.”

O despertar de Bon Jovi foi “Livin’ on a Prayer”, o sucesso que ocupou o primeiro lugar nas paradas saído do álbum “Slippery When Wet” (1986), que recebeu nove discos de platina. Cantar sobre as dificuldades dos jovens amantes Tommy e Gina levou Bon Jovi e sua banda a um novo território criativo e a reação entusiástica ao álbum lhes deu um novo senso de propósito.

“Nós começamos a tentar compor esses pequenos minifilmes e demos nome àqueles dois garotos. E as pessoas diziam: ‘Não, esse sou eu. Essa é a minha vida’. E então você passa a pensar: ‘Ok, quem diria?’”

“Eu pensava naquele garoto que desistiu de uma bolsa de estudos jogando beisebol porque engravidou sua namorada, e apenas isso”, diz o cantor e compositor. “Mas quando vem daquele lugar puro, as pessoas se apossam dela. Eu vi isso acontecer com ‘It’s My Life’ (2000), ‘Who Says You Can’t Go Home’ (2006) ... As pessoas tomam posse de uma letra e aquela letra se torna delas. Elas dizem ‘Essa pessoa sou eu!’”

“De vez em quando nós nos deparamos com um canção dessas e ela funciona.”

A banda trabalhou em “The Circle” com o produtor John Shanks, que também trabalhou em “Have a Nice Day” (2005) e “Lost Highway”. Mas pensando no projeto da coletânea de sucessos, Bon Jovi já tinha dado sinal verde para Shanks liberar sua agenda para outros artistas, de forma que o processo de gravação seguiu um caminho diferente dos esforços anteriores.

“Nós chegávamos com duas, três ou quatro canções por vez para Shanks, sempre que havia tempo disponível”, diz Bon Jovi.

Esse ritmo mais lento, mais difuso, também permitiu que outros projetos se desenvolvessem juntamente com o álbum. Em junho, sensibilizados pelos protestos no Irã em torno das eleições contestadas do país, Bon Jovi e Sambora se juntaram ao cantor iraniano exilado Andy Madadian para gravar uma versão de “Stand By Me” (1961) de Ben E. King, no que o produtor Don Was chamou de “uma mensagem musical de solidariedade mundial”, que foi distribuída pela Internet. Logo depois, Bon Jovi e Sambora compuseram a desafiadora “We Weren’t Born to Follow”, a última canção de “The Circle”, mas que virou o primeiro single do álbum.

“Foi o que fez Richie e eu dizermos, ‘Basta. Nós entendemos’”, lembra Bon Jovi. Em 9 de novembro, os músicos interpretaram a canção no Portão de Brandemburgo, em Berlim, na comemoração do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. “Depois que fizemos (‘Stand By Me’), Richie e eu queríamos fazer uma declaração, então nos sentamos e compusemos essa canção.”

“Cada uma daquelas linhas, eu acho, estava relacionada ao que estava acontecendo (no Irã), em que cada voz individual pode e deve ser ouvida. E estava relacionada a aquele sujeito afro-americano de 47 anos que decidiu, ‘Eu quero ser presidente’. Estava relacionada a todas essas coisas ocorrendo ao mesmo tempo.”

“Assim que chegamos a essa canção, nós sabíamos que era hora de parar de compor e começar a fazê-las serem ouvidas.”

Bon Jovi ainda planeja lançar aquela coletânea de sucessos, provavelmente no final de 2010, e incluir três novas canções que ele apresentará durante a turnê de “The Circle”.

“O último ‘Greatest Hits’ foi lançado há 15 anos, em 94, de forma que este será diferente”, diz Bon Jovi que, juntamente com sua mulher e quatro filhos, divide seu tempo entre Nova York e Nova Jersey. “Eu estou certo que acabaremos colocando ‘Livin on a Prayer’ nele, mas não haverá muitas das músicas do início de carreira, porque surgiram mais sucessos de lá para cá.”

E, ele espera, haverá mais sucessos no futuro.

“Eles continuam surgindo e eu só posso ser grato. Eu já passei do ponto de tentar analisar ou entender, e estou feliz por isso. Fazer música por si só já é difícil o bastante.”

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan)

Tradutor: George El Khouri Andolfato