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Disco novo tem muita introspecção, tristeza e arrependimento, diz Michael Bublé sobre "Crazy Love"

O cantor canadense Michael Bublé - Divulgação
O cantor canadense Michael Bublé Imagem: Divulgação

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

19/12/2009 10h13

Michael Bublé reconhece que, ao iniciar a gravação de seu quarto álbum de estúdio, “Crazy Love”, “não pensava em cantar essas músicas”. 

O cantor canadense, que se tornou um astro mundial ao interpretar standards norte-americanos, misturando alguns poucos sucessos de rock e pop interpretados naquele estilo, estava passando por “momento muito ruim”, tendo rompido recentemente com sua namorada, a atriz britânica Emily Blunt. Em 2007, ele compôs o sucesso “Everything” para ela, mas sua seleção de canções para “Crazy Love” reflete um estado de espírito muito diferente, desde a abertura, “Cry Me a River”, até “Heartache Tonight” dos Eagles. 

Apesar de seu estado de espírito e seleção de canções combinarem perfeitamente, diz Bublé, ele estava preocupado em conseguir “vender” as apresentações e transmitir adequadamente os emoções que estava vivenciando. 

“Havia muita introspecção, tristeza e arrependimento, e ao mesmo tempo esperança”, diz o cantor de 34 anos, que atualmente está namorando a atriz argentina Luisana Lopilato. “Eu escolhi essas canções porque eu sabia que, especialmente naquele momento, eu realmente estava sentindo o que cantava.” 

“Não foi a coisa mais divertida do mundo”, diz Bublé, falando por telefone de Nova York. “Foi terapêutico, mas não era exatamente algo para fazer se sentir bem. Mas de uma forma estranha, foi empolgante para mim ficar tão vulnerável e, pela primeira vez, ser realmente tão honesto.” 

Aparentemente funcionou. “Crazy Love” passou duas semanas no primeiro lugar da parada Billboard 200, após seu lançamento em outubro, assim como chegou ao topo das paradas no Canadá, Itália e Austrália, onde rapidamente recebeu dois discos de platina. 

Michael Bublé canta "I'm Your Man" em São Paulo

“Minha mãe me telefonou e disse: ‘Você está surpreso?’”, lembra Bublé rindo, “e eu disse que, na verdade, não. Eu o considero um ótimo álbum. Eu estabeleço essas metas para mim mesmo e espero ingenuamente que vou atingi-las. Eu realmente sinto que é o álbum mais autêntico que gravei até agora.” 

É claro, toda a carreira de Bublé como cantor foi construída em cima de esperanças ingênuas e da disposição de trabalhar fora das linhas convencionais. 

Como uma criança criada em Vancouver, ele foi apresentado aos standards por seu avô, que reconheceu cedo o talento vocal de Bublé e lhe ensinou a respeito de Sammy Cahn, Bobby Darin e Frank Sinatra, enquanto Bublé também absorvia mais sons de “garoto comum”, como Beastie Boys, Michael Jackson, Madonna e Prince. O avô, um encanador, levava Bublé aos clubes onde negociava com os músicos, trocando trabalho gratuito de encanador pela chance de permitirem que seu neto menor de idade participasse de suas bandas como ouvinte. 

Na adolescência, Bublé deixou sua marca com algumas vitórias em concursos de talento canadenses, excursionou pela América do Norte com algumas produções, como “Red Rock Diner” e “Swing, e acabou se apresentando no casamento da filha do primeiro-ministro Brian Mulroney, no qual o produtor David Foster, premiado com o Grammy, ouviu o jovem cantor e o contratou para seu selo 143 Records. 

Seu primeiro álbum, “Michael Bublé” (2003), obteve dois discos de platina, enquanto “It’s Time” (2005) e “Call Me Irresponsible” (2007), estrearam no 1º lugar da parada. Bublé também conquistou vários prêmios, incluindo um Grammy. 

Mas apesar de seu sucesso, ele queria expandir seu campo criativo além do que sentiu que tinha obtido com aqueles álbuns. 

“Eu queria gravar um álbum com presença”, explica Bublé. “Eu ficava ouvindo meus trabalhos anteriores... e não os estou menosprezando. Eu realmente me orgulho daqueles álbuns e, obviamente, 22 milhões de pessoas os compraram e eles fizeram as pessoas sentirem algo. É importante não esquecer disso.” 

“Mas, ao mesmo tempo que veio o sucesso comercial, eu senti que tinha a responsabilidade de ser mais honesto comigo mesmo e com os fãs. Eu não quero que um álbum soe bom, eu quero que sua sensação seja boa.” 

Usando seus álbuns favoritos dos Beatles, Elvis Presley e Frank Sinatra como modelo para “Crazy Love” –“eles me fazem ter a sensação de que estou na sala com eles”– Bublé trabalhou com Foster e os outros produtores, incluindo Alan Chang, Humberto Garcia e Bob Rock, para encontrar aquilo que ele procurava. 

“Eu tentei o máximo possível gravar as coisas ao vivo e não usar as máquinas”, diz Bublé, que co-produziu “You’re Nobody Til Somebody Loves You” e também dividiu a composição dos dois primeiros singles do álbum, “Haven’t Met You Yet” e “Hold”. “Eu tentei manter tudo realmente simples.” 

“Há certas coisas que adoro na tecnologia moderna. Há certas coisas que curto, como afinar a voz. Mas você perde algo. Você troca o sentimento pela perfeição e, se você me perguntar o que vale mais, eu acho que terei que responder que é o sentimento.” 

Em nenhum outro lugar isso fica mais claro do que em “Baby (You’ve Got What It Takes)”, que Bublé gravou em Nova York com o formidável grupo de soul Sharon Jones & the Dap-Kings, uma sessão que ele reconheceu que o deixou “um pouco nervoso, porque nunca gravei assim antes”. 

Mas seus nervos se acalmaram quando ele ouviu as primeiras gravações da base rítmica e entrou no estúdio para gravar o vocal. 

“Foi incrível”, lembra Bublé. “A bateria soava incrivelmente calorosa. Soava como os álbuns que eu costumava ouvir.” 

O cantor também assumiu o risco de alienar os fãs de standards em seu público com os covers de rock de “Crazy Love”, a faixa título de Van Morrison, e “Heartache Tonight”.

A segunda é uma canção que Bublé costumava cantar nos clubes, antes de assinar seu contrato de gravação, e ele espera que as duas canções ajudem a ajustar a imagem que ele criou com os primeiros três álbuns. 

“Há essa imagem minha como uma espécie de garotinho da mamãe, que nada tem a ver comigo. Mas veja as canções. É ‘Put Your Head on My Shoulder’. É ‘You’ll Never Find...’ de Lou Rawls. É ‘How Do You Mend a Broken Heart?’ dos Bee Gees. Certamente uma imagem está sendo vendida para um certo público.” 

“Assim, para mim foi incrível fazer coisas diferentes, como ‘Baby (You Got What It Takes)’ com Sharon e os Dap-Kings, assim como trabalhar com meus amigos, como Ron Sexsmith, gravando mais canções pop. Foi muito mais divertido para mim.” 

E há mais de onde elas vieram. Bublé planeja lançar uma segunda versão expandida de “Crazy Love” em 2010, acrescentando algumas das outras canções que ele gravou durante as sessões. Entre elas estão “The End of May”, de um grupo chamado Actual Tigers, que Bublé diz ser “tão bela que nem sei como dizer”, e “Hollywood Dead”, que está prevista para estar no terceiro single do álbum. 

“Esta provavelmente é a melhor canção pop da qual participei”, diz Bublé, que a compôs em parceria com Robert Scott, um compositor de Toronto. “É nossa visão da cultura da celebridade, quão deprimente ela é e como as pessoas perdem seu caminho na busca pela fama.” 

“É uma daquelas coisas dizendo, ‘Se você for atrás disso, não desista de tudo por isso. Lembre-se de onde você veio’ (...) É preciso lembrar daquilo que você pediu quando a conseguir.” 

Enquanto isso, Bublé está preparando uma turnê mundial para divulgar o álbum, que ele iniciará em março na América do Norte e durará até 2011. Ele planeja tocar principalmente em arenas esportivas e está trabalhando com os produtores dos shows abortados “This Is It” de Michael Jackson, em Londres. 

“Eu terei uma produção enorme, mas não quero depender de lasers e pirotecnia para tornar meu show atraente. Eu acho que um bom entertainer deve ser capaz de entreter as pessoas com um banquinho, um microfone e um copo com água. Eu acho que toda a produção deve ser um bônus.” 

“O que eu quero criar é intimidade. Quando você toca em uma arena, ela pode ser muito cavernosa e fria. Eu quero torná-la mais intimista. Isso é o mais importante para mim.” 

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato