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Rob Zombie lança sequência de "Hellbilly Deluxe" e conta como ficou amargo em relação à música

Rob Zombie no programa "Let It Rock" da Fuse TV, em Nova York (20/08/2009) - Getty Images
Rob Zombie no programa "Let It Rock" da Fuse TV, em Nova York (20/08/2009) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

26/02/2010 09h00

Rob Zombie não tem nada contra sequências de filmes ou refilmagens. Ele ressuscitou uma das mais famosas séries de horror com "Halloween - O Início" (2007), uma refilmagem mais explícita que faturou mais de US$ 80 milhões, e a seguiu com o também bem-sucedido "Halloween II" (2009). E está agora trabalhando em uma nova versão do monstro clássico "A Bolha" (1958).

Assim não pareceu algo deslocado quando, na condição de roqueiro, ele voltou ao poço de "Hellbilly Deluxe" (1998) --seu álbum solo de estreia que ganhou três discos de platina-- para fazer "Hellbilly Deluxe 2: Noble Jackals, Penny Dreadfuls and the Systematic Dehumanization of Cool", que estreou em fevereiro no 8º lugar na parada Billboard 200, com 49 mil discos vendidos na primeira semana.

"Há muitos anos eu tinha a ideia de que seria legal fazer [uma sequência]", diz Zombie, falando por telefone de sua casa em Los Angeles. "As pessoas fazem sequências de filmes e para a TV, mas não fazem muito de discos". Ele conta que não estava certo de que "Hellbilly Deluxe 2" teria esse nome até a etapa final do processo de gravação. "Eu não daria esse nome ao álbum a menos que fizesse sentido", diz.

Ele não queria passar a impressão de que deu o título sem nenhum motivo. "Eu não tinha certeza mesmo até o concluirmos. Quando terminamos o disco, senti que fazia um par perfeito com o primeiro álbum". E Zombie não considera "Hellbilly Deluxe 2" uma sequência direta, mas sim um projeto paralelo ao seu antecessor. "Tem a mesma vibração, mas não tenta recriar o mesmo tipo de som", diz o músico e cineasta de 45 anos.

"'Hellbilly Deluxe' provavelmente representou o maior esforço que já dediquei a algo. Eu estava por conta própria e precisava que o disco funcionasse", conta Zombie, cujo nome verdadeiro é Robert Cummings, e que passou a se dedicar à carreira solo após o término de sua banda White Zombie, no final dos anos 90.

Clipe de "Dragula"

O fim do White Zombie
Uma forte ética de trabalho também é uma característica de Zombie. Nascido em Haverhill, no Estado norte-americano de Massachusetts, ele desenvolveu desde cedo um interesse por horror, ficção científica e histórias em quadrinhos, particularmente filmes B. "Nós absorvemos todas essas coisas enquanto crescíamos", diz o irmão mais novo, David Cummings, que sob o nome Spider One lidera a banda Powerman 5000. "Rob era como uma enciclopédia, muito entusiasmado".

Até hoje Zombie mantém uma extensa coleção de literatura pulp e memorabilia de cinema, e esse interesse também deu um empurrão em sua carreira atual. "De um modo estranho eu sempre previ isso", ele diz. "Toda criança desenha e pinta e, quando você está no jardim de infância, você começa a ver as pessoas se afastarem disso. Por algum motivo, a sociedade em geral tende a fazer com que você pare de fazer as coisas que gosta, porque 'você precisa crescer'".

Bem, ele não precisava. "Eu não queria uma vida normal ou um emprego normal. Não queria passar o tempo fazendo algo que não gostasse. Isso pode soar como uma atitude bonitinha quando você é pequeno, mas me mantive firme. Certa vez eu ouvi uma grande frase: 'se você não tiver uma visão para sua vida, você trabalhará para a visão de outra pessoa', algo que nunca quis fazer".

Zombie frequentou o Instituto Pratt em Nova York e era um artista gráfico em desenvolvimento quando, em 1985, deu início ao White Zombie, batizando sua banda com o nome de um filme de Bela Lugosi de 1932 ("Zumbi Branco") e enchendo suas canções com fantasias de horror e um estilo estridente, industrial, de hard rock. Após dois álbuns independentes, o grupo assinou com a Geffen Records para dois trabalhos que receberam dois discos de platina e produziram os sucessos "Thunder Kiss '65" (1992) e "More Human Than Human" (1995).

Turnês fatigantes e brigas internas levaram ao fim da banda. Em sua última turnê, em 1996, os integrantes do grupo viajavam em veículos separados e não viam uns aos outros, exceto nos shows. "O principal motivo para o fim do White Zombie foi que nós não nos dávamos mais bem", diz Zombie, que deu o nome de "Let Sleeping Corpses Lie" (em português, "não perturbar o sono dos mortos") à caixa de 2008, em resposta às perguntas sobre a possibilidade de uma reunião da banda. "Acho que fizemos muitas coisas boas e inovadoras, e que estávamos à frente no início, mas na verdade foi uma situação dolorosa durante grande parte do tempo".


Fiquei amargo em relação à música. Estava cansado de lidar com as brigas dentro da banda. Tive que botar a música na gaveta e sair. E nem mesmo sabia ao certo se voltaria

Rob Zombie sobre desgastes na banda

Zombie reconhece ter ficado "um pouco assustado" quando deu início à carreira solo, mas ficou animado pelo sucesso de seus primeiros passos experimentais --um dueto com Alice Cooper em "Hands of Death (Burn Baby Burn)" para "Arquivo X", que foi indicado ao Grammy em 1997, assim como "The Great American Nightmare", uma canção para o filme de Howard Stern, "O Rei da Baixaria" (1997), que também se tornou a canção-tema do programa de rádio de Stern.

O multiplatinado "Hellbilly Deluxe" acabou com qualquer dúvida, chegando ao 5º lugar na parada Billboard 200 e lançando os singles Top 30 "Dragula" e "Living Dead Girl", que permanecem no repertório de Zombie. Seus dois outros álbuns de estúdio, "The Sinister Urge" (2001) e "Educated Horses" (2006), também estrearam no Top 10, e ele contribuiu com canções para uma série de trilhas sonoras de filmes, como "Matrix" (1999), "Missão: Impossível 2" (2000), "Demolidor - O Homem Sem Medo" (2003) e "Justiceiro: Zona de Guerra" (2008).

O cinema e o palco
Só quando se estabeleceu na música é que Zombie, casado com a atriz Sheri Moon desde 2002, pôde se voltar para o cinema. Antes da série "Halloween", ele dirigiu "A Casa dos 1000 Corpos" (2003) e "Rejeitados pelo Diabo" (2005), e reconhece que achou o mundo do cinema tão cativante que a música acabou em segundo plano, a ponto de ter considerado em 2005 parar com ela totalmente. "Fiquei um pouco amargo em relação à música. Estava cansado de lidar com as brigas dentro da banda. Isso me desgastou. Tive que botar a música na gaveta e sair. E nem mesmo sabia ao certo se voltaria".

Mas a entrada de novos integrantes na banda --o ex-guitarrista do Marilyn Manson, John 5, e o baterista de Alice Cooper e Ted Nugent, Tommy Clufetos-- trouxeram "um grau ridículo de entusiasmo" ao grupo e reacenderam sua empolgação pela música. O grupo excursionou como parte do Ozzfest em 2006, fazendo shows altamente teatrais para "voltarmos a ser apenas uma banda de rock de novo", como coloca Zombie.

Clipe de "Living Dead Girl"

Eles começaram rapidamente a trabalhar em "Hellbilly Deluxe 2", compondo na estrada pela primeira vez em sua carreira, como diz Zombie, e deram uma pausa em tudo enquanto ele trabalhava em "Halloween 2". "O que mais gostei foi que, pela primeira vez, permaneci com algo que fizemos. Muitas vezes você conclui um álbum e leva ele correndo para a masterização e fábrica, e de repente ele está lançado. Dessa vez o disco ficou com a gente e pudemos voltar e refazê-lo. E fizemos mesmo algumas pequenas mudanças".

Zombie, que adiou o lançamento de "Hellbilly Deluxe 2" de novembro para fevereiro por causa da troca de gravadora, diz que ele e sua banda também conseguiram uma maior síntese entre sua música e seu cinema no novo álbum, particularmente em faixas como "Jesus Frankenstein", "Mars Needs Women", "Virgin Witch" e "Werewolf Women of the S.S.", esta última baseada em um trailer falso que fez parte do filme "Grindhouse" (2007), de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, e que pode ser que nunca venha a se tornar um filme de verdade.

Ele também aumentou o interesse dos fãs ao dizer que "Hellbilly Deluxe" pode ser seu último álbum convencional, mas acha que esse comentário foi mal compreendido. "Não é que eu não queira fazer mais discos. Eu espero que possa fazer mais. Estava falando apenas do produto físico, porque parece estar caminhando nesta direção. E, se for, eu preciso estar aberto a novas ideias e talvez lançar uma música de cada vez na internet, não esperar até ter 12 faixas que estejam prontas para ser lançadas. Eu acho que isso pode ser uma coisa boa, mas veremos".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato