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Líder do Dashboard Confessional diz que não vê grande separação entre formato acústico e elétrico

Os integrantes da banda Dashboard Confessional - Divulgação
Os integrantes da banda Dashboard Confessional Imagem: Divulgação

GARY GRAFF<br>The New York Times Sindycate

22/03/2010 13h20

Chris Carrabba mudou muito em relação ao jovem ansioso de 20 e poucos anos que fundou o Dashboard Confessional há mais de uma década. 

Naquela época, o cantor, compositor e guitarrista da Flórida adotou o apelido “Dashboard Confessional” (painel do confessionário) como um projeto acústico solo paralelo ao Further Seems Forever, uma banda de rock independente de inclinação cristã que ele co-fundou e comandou por três anos, chegando a gravar um álbum. Ele achou que o Dashboard Confessional seria apenas um complemento ao seu trabalho com o grupo, uma forma de expressar as inclinações acústicas que não se encaixavam no Further Seems Forever. 

Mas o Dashboard Confessional foi muito mais além. 

Desde “Places You Have Come to Fear the Most” (2001), o Dashboard Confessional lançou mais sete álbuns. O “MTV Unplugged 2.0” (2002), ganhou disco de platina. Três outros ganharam disco de ouro e, apesar de Carrabba sentir que “eu nunca emplaquei uma canção de sucesso nas rádios”, o grupo tem desfrutado de reconhecimento com singles como “Hands Down” (2005), “Don’t Wait” (2006), “Stolen” (2006), “These Bones” (2007) e “Vindicated”, este último da trilha sonora de “Homem-Aranha 2” (2004). 

Ao longo do caminho, o grupo tem alternado entre os estilos acústico e elétrico. Seu mais recente lançamento, “Alter the Ending” (2009), chegou às lojas com dois discos, com duas versões da cada canção, uma acústica e uma elétrica. 

A esta altura, entretanto, Carrabba diz que não vê uma grande separação entre os dois. 

“Eu tenho laços aos quais acho que permaneço ligado porque gosto deles”, diz o músico de 34 anos, que estudou pedagogia pela Universidade Atlântica da Flórida, em Boca Raton, e lecionou em uma escola primária antes de se dedicar à música em tempo integral. “Eu componho basicamente empunhando um violão, ou sentado ao piano.” 

“Certa vez ouvi Bon Jovi dizer, quando eu era garoto, que se uma canção não resistisse tocada apenas com um violão, então você realmente não possui uma canção.” 

“Há uma verdade nisso. Quando reduzida à sua forma mais simples, ela ainda precisa ser eficaz se for uma boa canção. Então esse é o teste definitivo, eu acho.” 

“Alter the Ending”, que estreou em novembro no 19º lugar na parada Billboard 200, encontra Carrabba e a mais recente versão do Dashboard Confessional –o guitarrista John Lefler, o baixista Scott Schoenbeck e o baterista Mike Marsh– misturando os estilos que o grupo tem buscado ao longo de sua carreira. Apesar dos primeiros álbuns explorarem o som acústico, Carrabba passou para a guitarra e tocou mais pesado em “A Mark a Mission a Brand a Scar” (2003) e “Dusk and Summer” (2006), antes de voltar em “The Shade of Poison Trees” (2007) ao modo “apenas um garoto com seu violão”. 

Mas ele não lamenta nenhuma dessas mudanças e diz que ele ainda carrega suas lições consigo de um álbum para outro. 

“Há tanto sobre estrutura de canção que aprendi ao longo do caminho para fazer álbuns elétricos”, diz Carrabba. “A banda realmente entendeu o que eu estava buscando e nós todos aprendemos como adicionar o suficiente lá para enfatizar o sentido da letra e o conteúdo emocional. Eu acho que aprendi um pouco mais sobre o que fazer quando quis adicionar uma seção rítmica ou músicos adicionais, em que momento eles realmente resultam em algo melhor.” 

“Isso é algo que utilizarei em tudo o que faço, eu acho.”

Líder do emo
Mesmo assim, ele acrescenta, é igualmente importante não permanecer no mesmo lugar.

“Eu acho que a repetição, para o compositor, o deixa preguiçoso, sem inspiração ou ambos. Então eu decidi conscientemente não manter aqueles parâmetros (acústicos) antes que se tornassem desinteressantes para mim. Eu decidi gravar álbuns elétricos, que eu também gosto. E antes de chegar ao ponto de me cansar disso, eu pensei: ‘Aqui está uma boa oportunidade de voltar ao velho papel do qual sinto falta (em “The Shade of Poison Trees”)’. Foi como calçar um sapato confortável ou algo assim. Foi bom.” 

O que todos os álbuns do Dashboard Confessional têm em comum, entretanto, são as letras intensamente pessoais –apelidadas de “emo” por sua qualidade altamente emotiva– o que levou Carrabba a ser considerado um líder nesse subgênero específico do rock and roll. 

“Eu realmente não conheço nenhuma outra forma de escrever letras, de forma que elas são tão pessoais quanto parecem.” 

“Mas não acho que são, tipo, ‘Me deixe cortar minhas veias tristes e sangrar por todo o álbum’. Pelo menos não mais. No início eu estava genuinamente compondo a respeito de mim mesmo (...) detalhes muito específicos da minha própria vida sem esperar nenhum apelo universal para isso, sem esperar que alguém encontraria sua própria história naquelas canções, porque eu não esperava que alguém fosse ouvir aquelas canções. Então, é claro, eu apenas as compus a respeito de minhas próprias experiências, como se eu fosse o único ouvinte.” 

“Foi por acaso que descobri que todos nós temos algum tipo de grande experiência universal, que você pode pegar detalhes mais específicos e falar sobre eles e ainda assim eles terão um significado pessoal para o ouvinte. Ainda é a história deles, apesar de ser a sua.” 

Carrabba explorou vários pontos de inspiração quando se sentou para compor as canções para “Alter the Ending”. Um foi “a liberdade de me sentar em casa e compor” após um longo ciclo de turnês para “The Shade of Poison Trees”. Ele também explorou o que chama de “pontos de nostalgia” e, mais seriamente, o envolvimento de sua irmã em um acidente de automóvel que a deixou em coma por algum tempo. 

“Eu considero o processo de composição como uma trégua do tipo de peso do mundo real. Ao sair do lado do leito da minha irmã ao final do horário de visita e voltar para casa sem saber o que fazer, pegar o violão acabava sendo natural para mim.” 

Com tudo isso acontecendo ao seu redor, Carrabba se viu gravitando de volta ao material que melhor conhecia. 

“Eu estava explorando temas que já tinha antes, mas por um novo ponto de vista. É um tema simples, mas poderoso –dos relacionamentos entre homens e mulheres e também a forma como você vê a si mesmo, como me vejo no mundo. Obviamente, você não está tentando reescrever a mesma canção, mas há histórias que iniciei há 10 anos (...) mas elas mudaram e cresceram, de forma que há mais o que contar. Há novos capítulos nessas canções.” 

Ele ri ao ouvir a si mesmo. 

“Tudo isso soa grandioso e elevado, mas não me parece assim. É apenas complicado quando você tenta explicar.”

O melhor de dois mundos
O Dashboard Confessional acabou despojando as canções de “Alter the Ending” não intencionalmente, após ter gravado a versão elétrica do álbum com os produtores Butch Walker e Bill Lefler, o irmão do guitarrista John Lefler. 

“Nós estávamos sentados na minha sala de estar empunhando violões”, lembra Carrabba. “Nós estávamos passando as canções acusticamente e elas simplesmente tinham uma certa personalidade quando as tocávamos daquela forma. E eu disse: ‘Por que não gravamos esta? Ela soa bacana. De repente ela pode virar um lado B legal’. Nós gravamos rapidamente, então começamos a tocar outra e dissemos a mesma coisa –‘Por que não gravamos esta da mesma forma que aquela?’” 

“Quando a gravadora ouviu o que fizemos, ela ficou empolgada e achou que poderíamos adicionar as gravações ao álbum, algo com que fiquei empolgado.” 

“É como se fosse o melhor dos dois mundos.” 

A decisão serviu bem ao Dashboard Confessional, logo após o lançamento do álbum, quando o grupo teve que desistir da turnê planejada devido a uma “emergência familiar” não revelada envolvendo um de seus integrantes. Em vez disso, Carrabba e Lefler caíram na estrada para uma série de datas acústicas. 

Passada a crise, a banda na íntegra agora está abrindo para o Bon Jovi –“uma banda incrível que eu amo”, diz Carrabba– mas espera sair em turnê própria após o fim destas datas. 

“Nós somos realmente afortunados”, diz Carrabba. “Os fãs parecem ter essa paciência comigo. Eles parecem permitir que eu vá em qualquer direção que eu desejar. Eu acho que a maioria deles me permitiu crescer e mudar. Isso é um verdadeiro golpe de sorte.” 

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato