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Após fazer parte do Abba, posso fazer o que tiver vontade na música, diz Benny Andersson

O músico sueco Benny Andersson, ex-integrante do Abba - Divulgação
O músico sueco Benny Andersson, ex-integrante do Abba Imagem: Divulgação

GARY GRAFF

The New York Times Sindycate

03/05/2010 12h01

Em 1974, o Abba incluiu a canção “Dance (While the Music Still Goes On)” em seu álbum “Waterloo”, e Goran Bror “Benny” Andersson, o co-fundador da banda e compositor, ainda está dançando.

Nos 28 anos desde o fim do grupo, Andersson e o companheiro letrista de longa data, Bjorn Ulvaeus, criaram os musicais “Chess” (1984), “Kristina from Duvemala” (1995) e, é claro, o musical do Abba, “Mamma Mia!” (1999), que ainda está em cartaz em Londres e na Broadway, e que em 2008 se transformou em um filme de sucesso tendo Andersson como produtor executivo.

Desde 2001, ele lidera a Benny Andersson’s Orkester, um conjunto de 16 pessoas que lançou três álbuns na Suécia e “Story of a Heart”, uma compilação de canções dos três álbuns que foi lançada nos Estados Unidos neste ano.

Resumindo, aos 63 anos a música ainda é a vida de Andersson, para sua satisfação.

“Eu venho aqui todo dia e tento lidar com a inspiração”, diz Andersson, falando por telefone de seu estúdio em Estocolmo. “Eu faço exatamente o que desejo fazer. Eu não tenho que me preocupar em ganhar a vida e tudo isso, então posso me concentrar no que sinto que é importante fazer. E, como você pode ouvir pelas gravações com minha banda, eu posso fazer o que tiver vontade.”

“Este é um grande privilégio resultante de ter sido integrante do Abba.”

Abba - "Waterloo"

Influências da infância
A Benny Andersson’s Orkester representa um caminho musical percorrido por Andersson muito antes da formação do Abba em 1972, que rapidamente se transformou em uma sensação mundial e vendeu 375 milhões de álbuns até hoje. Como pode ser ouvido em “Story of a Heart”, a banda o leva de volta para a música folclórica sueca, polcas, valsas e arranjos de big band que ele ouvia enquanto crescia, que eram tocadas em sua casa por seus pais. Seu pai e avô –ambos “músicos por hobby”, diz Andersson– o introduziram ao acordeão, que ele começou a tocar aos 6 anos.

“Nós temos uma grande tradição musical na Suécia”, diz Andersson, “que na verdade é baseada mais no violino do que no acordeão. Mas foi assim que comecei a me interessar pelo mundo da música folclórica sueca, que sempre esteve comigo ao longo dos anos. Eu me sinto muito próxima dela”.

Como um jovem crescendo nos anos 50 e início dos anos 60, Andersson começou a ser exposto a outro tipo de música.

“Foi um pouco diferente estar aqui”, diz o músico, cujos primeiros discos foram “Jailhouse Rock” (1957), de Elvis Presley, e “Du Bist Musik” (1956), da cantora italiana Caterina Valente. “Todas as influências que chegavam à Suécia vinham da Itália, Alemanha e França, tanto os sucessos da Alemanha quanto Little Richard, Chuck Berry, Elvis Presley, os Beatles e tudo isso. Ser criado em uma tradição europeia é um pouco diferente, eu acho, em comparação à maioria das bandas anglo-saxãs.”

Andersson logo se viu em uma banda de rock, a Hep Stars, e inspirado pelos Beatles começou a compor sua própria música.

“Antes disso, ninguém sabia quem eram os compositores das canções. As pessoas apenas pensavam: ‘Esta é uma canção do Elvis’ ou ‘esta é uma canção do Cliff Richard’. Então, de repente, você percebe: ‘Uau, eles compõem sua própria música. Talvez eu deva tentar o mesmo...’”

Nunca fui letrista
“Minha primeira canção não era tão boa”, Andersson admite rindo. “Minha segunda foi uma canção chamada ‘Sunny Girl’, que tinha uma boa melodia. Mas a letra era ruim. Naquela época eu não falava bem inglês. Eu tinha um dicionário e começava com as rimas, tentando preencher as linhas de trás para frente. Eu nunca fui um letrista e nunca serei.”

Felizmente Andersson teve ajuda nessa área. Ele conheceu Ulvaeus em 1966 e o recrutou para escrever as letras para o Hep Stars, começando com “Isn’t It Easy to Say” (1966). Os dois criaram sucessos para os Hep Stars, como “Speleman” (1969), assim como “Ljuva Sextiotal” (1969), para a cantora Brita Borg, antes de lançarem seu próprio álbum, “Lycka” (1970). Eles então lançaram o Abba em 1972, com vocais da mulher de Ulvaeus, Agnetha Faltskog, e Anni-Frid “Frida” Lyngstad, que se casou com Andersson em 1978. O nome do grupo vinha das iniciais do primeiro nome dos quatro membros.

Abba - "Mamma Mia"

Após o modesto sucesso inicial, o Abba estourou no Festival da Canção Eurovision de 1974, com a canção vencedora “Waterloo”, que posteriormente chegou ao topo das paradas na Austrália, Alemanha e Reino Unido, assim como ao 6º lugar nos Estados Unidos.

Andersson e seus companheiros nunca olharam para trás. Os oito álbuns do grupo renderam 13 sucessos Top 40 nos Estados Unidos, incluindo favoritos perenes como “SOS” (1975), “Mamma Mia” (1975), “Take a Chance on Me” (1977) e o primeiro lugar nas paradas, “Dancing Queen” (1976). O catálogo do Abba continua vendendo 3 milhões de álbuns por ano, o que ainda surpreende Andersson.

“Quando deixamos o Abba em 1983, eu acho que todos nós dissemos: ‘Talvez as pessoas ainda comprem alguns álbuns por um ano. Talvez tenhamos um ano ou dois com algum dinheiro oriundo dos álbuns mais antigos e então pronto’. Logo, é uma surpresa para todos nós o fato de ainda haver vida no que fizemos nos anos 70.”

O ingresso do Abba no Salão da Fama do Rock and Roll, em março, foi outra surpresa, diz Andersson, especialmente considerando que ele não pensa na música da banda como sendo rock.

“Eu considero uma verdadeira honra”, diz Andersson, que esteve presente na cerimônia com Frida Lyngstad e tocou teclado enquanto Faith Hill cantava uma canção do grupo. “Nós fomos uma banda pop sólida e há uma diferença entre música pop e rock and roll. Entrar para o Salão da Fama do Rock and Roll não estava no mapa, sério, para nós.”

“Por outro lado, há muitos artistas pop já nomeados, de forma que não me importo. “Não sou eu nomeando a mim mesmo, não é?”

Carreira pós-Abba
Andersson e Ulvaeus começaram a se envolver em musicais e obras conceituais logo após o fim do Abba –“Chess”, uma colaboração com Tim Rice, foi um álbum conceitual três anos antes de sua montagem teatral– e também começaram a trabalhar como produtores, começando pela dupla de irmãos Anders e Karin Glenmark. Andersson lançou um álbum solo, “Klinga Mina Klockor (Chime My Bells)” em 1987, e posteriormente formou a Benny Andersson’s Orkester, começando com cinco violinos e então recrutando cantores como Tommy Korberg, de “Chess”, e Helen Sjoholm, que participou de “Kristina from Duvemala”.

Abba - "Super Trooper"

A banda começou gravando um álbum autointitulado em 2001, com letras de Ulvaeus. Andersson diz que tenta manter o grupo o mais ocupado que pode.

“O problema com esta banda é que todos eles têm suas próprias carreiras-solo, de forma que conseguir com que todos estejam no mesmo lugar ao mesmo tempo é complicado. Mas é um bom projeto para mim, porque, quando não estou trabalhando em um projeto, o que é muito raro, eu posso sempre compor material para minha banda.”

O grupo se reúne para sete ou oito shows por ano, geralmente datas ao ar livre na Suécia, com pista de dança e apresentações que duram várias horas. “As pessoas dançam e escutam a música, o que é muito divertido.” Isso também permite que Andersson continue colaborando com Ulvaeus, que atualmente mora na Inglaterra.

“Nos velhos tempos do Abba, nós nos sentávamos juntos com guitarra e piano, mas não é mais assim desde ‘Chess’. Atualmente eu componho música e envio para ele. Se ele sente que há uma letra para ela, então ele escreve.”

Os dois homens conversam umas duas vezes por semana, não apenas sobre seu trabalho atual, mas também sobre assuntos ligados ao Abba, como os pedidos de licenciamento das músicas, montagens de “Mamma Mia!” em todo o mundo e o que Andersson chama de “milhares de propostas e ideias que chegam o tempo todo”.

Andersson espera levar a Benny Andersson’s Orkester aos Estados Unidos –até hoje ele só fez duas apresentações em Minnesota– mas é cauteloso com o custo de transportar e manter uma banda grande. Além disso, ele está ocupado com “Kristina from Duvemala,” que é baseado em “The Emigrants”, uma série clássica de quatro romances suecos de Vilhelm Moberg. Ele e Ulvaeus criaram recentemente uma versão em inglês que foi apresentada em setembro de 2009 no Carnegie Hall, em Nova York, e gravada para um álbum que foi lançado na Europa.

“Eu não tenho ideia de qual seja seu valor comercial. É uma peça séria. É algo muito diferente de ‘Mamma Mia!’, por exemplo. Foi uma sensação boa apresentá-la para um público americano... mas veremos. Ela pode acabar em um teatro, uma produção completa, mas é um pouco prematuro dizer algo a respeito.”

Alguns previram que este pode ser o último trabalho do compositor, mas ele não tem planos de abandonar seu piano tão cedo.

“Eu continuarei fazendo isto enquanto puder, porque tenho sorte de ter algum talento para isto, e acho que isso merece um trabalho árduo. Mas... não é um trabalho árduo. Não é como trabalhar em uma mina de carvão, mas exige tempo e esforço para fazer com que as coisas aconteçam. E adoro fazer isso.”

(Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato