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"Ouvi com os ouvidos de fã para saber o que gostaria da banda agora", diz baixista do Stone Temple Pilots sobre novo disco

Stone Temple Pilots em show no festival South by Southwest em Austin, no Texas (18/03/2010) - Mariana Tramontina/UOL
Stone Temple Pilots em show no festival South by Southwest em Austin, no Texas (18/03/2010) Imagem: Mariana Tramontina/UOL

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

17/05/2010 08h30

O sinal de paz na capa do novo disco autointitulado do Stone Temple Pilots diz muito a respeito do estado atual do quarteto veterano do rock. Em particular, marca a trégua abraçada pelos quatro músicos em 2008, quando se reuniram após seis anos separados. Na época, disse o guitarrista Dean DeLeo, parecia "como voltar para casa".

Atualmente, entretanto, seu irmão mais novo, o baixista Robert DeLeo de 44 anos, diz que a banda não é mais um "lar" para ele e seus companheiros, que lançam seu primeiro disco desde "Shangri-La Dee Da" (2001). "Eu não considero [a banda] como minha vida", diz Robert. "Acho que o que me incomodava era o fato de tentar deixar o STP me definir. Isso é assustador, principalmente quando as coisas não vão bem com o grupo".

Agora, ele conta que tem outras coisas e pessoas que o definem. "Então se conseguir pegar essas coisas e empregar na minha música, acho que gera uma música melhor e um melhor relacionamento [com os outros integrantes da banda] para desfrutar o que estamos fazendo. Eu acho que tudo isso anda de mãos dadas", diz Robert.

Stone Temple Pilots - "Between The Lines" (trecho do show no SXSW 2010)

Este é um equilíbrio difícil, reconhece Robert, e foi dedicado muito pensamento na realização do novo "Stone Temple Pilots". "Nós não lançávamos um álbum há nove anos", diz Robert, que co-produziu o disco com seu irmão, "tive que me recostar e pensar no que queria ouvir em um álbum do STP a esta altura. Tive que ouvir com os ouvidos de um fã e me perguntar: 'o que eu gostaria de ouvir desta banda agora?' Esta é a forma como abordamos tudo desta vez".

A abordagem parece ter funcionado. "Between The Lines", o primeiro single de "Stone Temple Pilots", chegou rapidamente ao 1º lugar na parada de canções de rock da Billboard. O álbum é um dos lançamentos mais aguardados do ano e visto como a culminação de um retorno que muitos acharam que nunca veriam ou que, dado o retrospecto da banda, não esperavam que duraria.

De volta a uma base sólida
Em seus 23 anos de existência, o Stone Temple Pilots certamente deu muitos motivos para seus fãs tanto para altas expectativas quanto para profundo ceticismo. Formada em San Diego como Mighty Joe Young em 1987, a banda --composta pelos DeLeos, pelo vocalista Scott Weiland e pelo baterista Eric Kretz-- emplacou um sucesso logo de cara com seu álbum de estreia, "Core" (1992), que conseguiu oito discos de platina.

De lá para cá, os cinco discos do Stone Temple Pilots venderam mais de 35 milhões de cópias em todo mundo e a banda conseguiu seis primeiros lugares na parada de singles de rock, incluindo "Plush" (1994), e conquistou um prêmio Grammy de melhor performance de hard rock.

Mas a banda também teve uma história problemática, absorvendo as pancadas dos críticos que desprezavam o Stone Temple Pilots como "pseudogrunges" --eles foram votados como a pior banda nova pelos críticos em uma pesquisa da revista "Rolling Stone" de 1994, mas foi votada como melhor banda nova pelos leitores-- e cambaleando devido aos problemas de Weiland com as drogas, que ocasionalmente interrompiam as atividades e colocavam os DeLeos em projetos paralelos, como Talk Show e Army of Anyone.

"Com o STP, eu não acho que alguma vez esteve em equilíbrio", diz Robert, "e acho que foi isso o que passei a aceitar". Foi por este motivo, quando a banda se reuniu em 2007 e começou a excursionar de novo no ano seguinte --com Weiland deixando sua outra banda, o Velvet Revolver--, que a discussão sobre qualquer música nova ficou guardada até o quarteto sentir que estava de volta a uma base sólida.

  • Divulgação

    Capa do disco "Stone Temple Pilots" (2010)

"Eu acho que a primeira coisa é dar pequenos passos, especialmente para uma banda como esta", diz Robert. "Era importante entrarmos em uma sala e começarmos tocando canções com as quais estávamos familiarizados. Essas músicas, como 'Plush' e 'Creep' (1993), trazem instantaneamente muitos sentimentos diferentes e coisas com que, como banda, todos podemos nos relacionar", conta.

O baixista diz ainda que tocar essas músicas é uma terapia. "Especialmente para o Scott. Acho que elas nos levam de volta a um tempo em que as coisas eram mais fáceis, mais simples. E quando você consegue manter essa postura em relação à forma como está tocando e na convivência uns com os outros, acho que é um passo apropriado passar para o próximo nível, dizendo: 'ei, vamos gravar um álbum'".

Enquanto o Stone Temple Pilots cuidava desses planos, havia algumas pendências legais com as quais tinham que lidar. Weiland, em particular, era contrário a gravar outro álbum para a Atlantic Records, a antiga gravadora da banda. "Se tivermos que gravar um certo número de discos para a Atlantic, para podermos ficar livres, eu não sei se serei capaz", ele disse na época.

Desafio de trabalhar juntos
Em junho de 2008, a Atlantic abriu um processo contra Weiland e Kretz, alegando que os dois estavam ameaçando quebrar seu contrato com a empresa enquanto o Stone Temple Pilots ainda devia mais um álbum para a gravadora. O processo foi retirado, com Weiland e a Atlantic dizendo coisas agradáveis um sobre o outro, mas estava claro que o vocalista --que no ano seguinte lançou seu segundo álbum solo, "Happy' In Galoshes"-- ainda nutria certa suspeita a respeito das pessoas que controlavam o destino de sua banda.

"Nós sempre fizemos as coisas da forma como queríamos", ele disse, "e nunca tivemos nenhum problema com a gravadora. Mas o cenário da indústria mudou tanto que as coisas deixaram de ser divertidas". Encontrar material suficiente, entretanto, não foi um problema quando o grupo finalmente decidiu gravar em fevereiro de 2009. "Dean e eu sempre estamos compondo", diz Robert. "('Beetween The Line' é) uma canção que já tínhamos há algum tempo e sentimos que algo assim seria apropriado para o álbum".

O desafio era encontrar uma forma de trabalharem juntos que não ameaçasse a solidariedade recém desenvolvida da banda. Os três instrumentistas se reuniram nos estúdios de Robert e Kretz em Los Angeles, preparando as canções que o baixista chama de formato "demo finalizada". Elas eram entregues para Weiland, que trabalhava separadamente em seu próprio Lavish Studios com o produtor premiado com o Grammy Don Was.

"Don estava ajudando Scott em seu estúdio com os vocais e arranjos de voz", diz Robert, acrescentando que Was também ajudava a unir os dois campos quando necessário. "Don foi responsável por trazer Scott e nos colocar todos na mesma sintonia. Don é muito bom nisso, ele sabe lidar com pessoas. E eu acho que às vezes é preciso alguém no meio para unir as pontas, e Don fez isso", conta.

Enquanto Was trabalhava com Weiland, os DeLeos e Kretz continuavam desenvolvendo ideias para canções, um processo que Robert admite que foi complicado. "Nós meio que adivinhamos nosso caminho", diz o baixista, rindo. "Foi um desafio, porque tínhamos que completar o máximo possível uma canção, mas tínhamos que esperar para sabermos se estava no tom certo", explica.

Mas eles já são uma banda há 18 anos. "Quase 23 anos, contando o tempo antes de termos assinado um contrato. Nós temos um certo entendimento, onde sabemos o que a outra pessoa vai gostar ou não, e você sabe o que vai funcionar. Mesmo sendo desafiador e não estando todos na mesma sala, para mim foi um grande feito conseguir compor, produzir e gravar um álbum da forma como fizemos. Tenho muito orgulho disso", conta Robert.

Com "Stone Temple Pilots" pronto, o grupo está se preparando para mais turnês, apesar de Wailand também estar concluindo sua autobiografia, que ele espera publicar ainda neste ano. O grupo tem datas marcadas até 2011, diz Robert, incluindo visitas à Austrália, ao Japão, Nova Zelàndia e América do Sul, assim como múltiplas datas na Europa e América do Norte.

Esta turnê tem uma sensação diferente da turnê de reunião de 2008-2009, o baixista acrescenta. "Há uma diferença entre estarmos juntos tocando as músicas conhecidas e voltarmos a gravar um novo álbum. Isso representa uma volta a gravar discos, realizar esse tipo de divulgação e de turnê. Tocar é sempre divertido e empolgante, mas isso é mais".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato