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Irmãs do Dixie Chicks formam Court Yard Hounds e querem receber reconhecimento a que têm direito

Martie Maguire e Emily Robison durante show do Court Yard Hounds no Grammy Museum, em Los Angeles (10/05/2010) - Getty Images
Martie Maguire e Emily Robison durante show do Court Yard Hounds no Grammy Museum, em Los Angeles (10/05/2010) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

31/05/2010 16h48

Martie Maguire ficou surpresa quando sua irmã mais nova, Emily Robison, ligou para ela certo dia em 2009 para conversar sobre formar uma banda. Afinal, as duas já faziam parte da mundialmente famosa --e ainda controversa-- Dixie Chicks, que já vendeu milhões de discos e fez as turnês mais bem-sucedidas da música country. Mas as Chicks estão paradas desde 2007 e Robison estava inquieta. "Eu estava enlouquecendo de tédio. Precisava fazer alguma coisa", ela reconhece.

A terceira Chick, Natalie Maines, estava "em uma situação diferente", por isso Emily decidiu ligar para Martie e perguntar: "você gostaria de formar uma banda de bluegrass?". Ela disse: "Não exatamente, mas vou enviar algumas canções para você". E foi o que fez. "Eu senti que havia um novo som ali que não era das Chicks. Parecia algo interessante de se fazer", lembra Martie, que na época estava no meio da gravação de um "álbum de violino" solo em seu próprio estúdio, em Austin.

O resultado dessa conversa é Court Yard Hounds, o grupo de Emily e Martie. Seu álbum autointitulado de estreia saiu no início de maio, estreando no 7º lugar na parada Billboard 200 e recebendo críticas com comparações favoráveis às Dixie Chicks. As irmãs promoveram a estreia ao vivo da banda no South By Southwest, em Austin, com planos para manter o Court Yard Hounds na estrada ao longo de 2010.

Court Yard Hounds - "The Coast"

A pausa nas Chicks durou muito mais do que Martie e Emily previam --e gostariam. "Chegamos ao ponto em que queríamos algum tipo de escoadouro para as composições. Achei que comporia para outras pessoas ou, talvez, futuros projetos das Chicks. Até fui para Los Angeles para me encontrar com pessoal de cinema, porque queria compor para filmes", diz Emily, de 37 anos, sentada ao lado de sua irmã no restaurante no lobby do Driskill Hotel de Austin.

O telefonema para Martie mudou tudo. "Comecei a enviar para Martie algumas das canções por e-mail. Perguntei para quem ela achava que eu deveria apresentar e ela dizia: 'não ouse oferecer essa canção'. E ela começou a elogiar muita coisa que eu estava compondo. Isso me deu confiança no que estava fazendo, e me deixou confusa, porque pensava no que iríamos fazer com aquilo", lembra Emily, que usou a maioria das canções em "Court Yard Hounds" para explorar seu divórcio em 2008 do cantor e compositor Charlie Robison, após nove anos de casamento.

As duas estavam, acima de tudo, preocupadas com o que um projeto musical separado diria ao mundo a respeito das Dixie Chicks, que Emily e Martie formaram em 1989 em Dallas e, após a entrada de Natalie em 1995, venderam mais de 31 milhões de álbuns e ganharam 13 prêmios Grammy. O trio até mesmo conseguiu suportar a tempestade causada pelo comentário de Natalie no palco, em Londres, às vésperas da invasão ao Iraque em 2003, de que "nós temos vergonha do presidente dos Estados Unidos ser do Texas".

Fim das Dixie Chicks?
Um projeto Martie e Emily sugeriria o fim do trio? "Eu posso dizer que passei um ano tentando convencer Natalie a entrar no estúdio", diz Robison, que é a vocalista principal de 11 das 12 faixas de "Court Yard Hounds". "Ela não queria e nós respeitamos isso. Em primeiro lugar somos amigas e respeitamos a vida individual umas das outras. De certa forma, [o Court Yard Hounds] tira essa pressão sobre ela, assim como o fato de podermos dizer que as Chicks ainda são as Chicks, mas nós vamos fazer outra coisa. É um suspiro de alívio para ela".

Court Yard Hounds - "Ain't No Son"

Os rumores de separação serão calados em junho, quando as Chicks farão oito apresentações em estádio ao lado do Eagles. "Quando esses shows apareceram, estávamos no meio do planejamento para o nosso disco e pensamos se isso iria nos atrapalhar. Mas também nos empolgamos para fazê-los por causa da oportunidade e por responder à principal pergunta: 'as Dixie Chicks acabaram?'. É uma espécie de 'calem a boca! Parem de perguntar! Acreditem quando dizemos que ainda estamos juntas, apenas não estamos trabalhando no momento'", diz Emily.

As comparações com as Dixie Chicks, tanto comercial quanto artisticamente, eram outra preocupação. "Há pontos positivos e negativos", diz Martie, de 40 anos. "É difícil ficar à sombra das Chicks o tempo todo. A voz [de Emily] não era a voz de Natalie, e isso diferencia totalmente o projeto. Eu também fiquei muito orgulhosa dela, porque Natalie é uma cantora incrível, poderosa, e Emily realmente provou estar à altura".

Emily também vê os projetos distintos. "Eu acho que, quando gravamos com as Chicks, há três de nós e todo mundo tenta encontrar seu espaço no arranjo", ela diz. "E às vezes acho que adicionamos camadas e fazemos coisas que não necessariamente teríamos [em 'Court Yard Hounds']. Eu acho que conseguimos deixar as coisas abertas. Há muito mais ar", ela conta.

No ricamente composto e interpretado "Court Yard Hounds", Emily e Martie soam de forma familiar sem parecer uma cópia das Chicks. As palavras iniciais de Emily no álbum --"O que estou fazendo aqui?/É um local tão solitário"-- sugerem apreensão, mas a dupla ganha confiança no single galopante "The Coast" e faixas igualmente para cima como "I Miss You", "It Didn't Make a Sound" e "Ain't No Son". Elas exploram a psicodelia em "Delight (Something New Under the Sun)" e blues para "Then Again", que lembra Sheryl Crow, enquanto a ricamente arranjada "Gracefully" e a canção de raiz "See You In The Spring", um dueto com Jakob Dylan, oferecem mudanças de andamento.

Dificuldade em compor feliz
Para Emily, sua grande questão foi assumir a voz principal após anos fazendo apoio e harmonizações como uma Dixie Chick. "Tive que me acostumar a aceitar a sutileza, porque é a única coisa que posso realmente fazer com minha voz", ela diz. "Até hoje estou aprendendo como ser vocalista principal. Aprendi que meu verdadeiro tom era cerca de dois acima do que eu vinha cantando, porque eu sempre estive nos tons baixos das Chicks. Estamos descobrindo essas novas coisas a respeito de nós mesmas", conta. "Depois de tão velha", intervém Matie, rindo.

Como principal compositora do Court Yard Hounds, Emily também teve que se acostumar com a exposição de alguns pensamentos íntimos e dolorosamente pessoais, dando aos fãs um vislumbre de sua vida em um momento particularmente difícil. "Infelizmente, acho que as palavras e inspirações fluem mais quando você passa por uma turbulência e não está particularmente bem em sua vida", diz a mãe de três filhos.

Emily conta que é mais difícil escrever quando você está feliz, e Martie diz que esse é o motivo para não ter composto muito ultimamente. "Mas ao mesmo tempo foi bastante catártico", continua Emily, "e foi difícil explorar tudo, mas foi mais fácil compor as canções porque eu tinha muito a dizer. Tinha tantas ideias, tanto musicais quanto para as letras, que não sabia como dar vazão a todas elas".

A meta agora, elas dizem, é assegurar que o Court Yard Hounds receba o reconhecimento a que tem direito. Sem nenhum disco das Dixie Chicks no futuro próximo, as irmãs terão tempo para fazer isso, e prometem que este não será um projeto paralelo isolado. "Estamos prontas para gravar o próximo álbum", diz Martie. "Nós temos mais repertório, porque já tínhamos 20 canções. Só esperamos que as pessoas gostem das canções e que queiram continuar as ouvindo por muitos anos. Essa é a meta, fazer algo que viva por muito tempo e que as pessoas queiram ouvir mais".