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Com novo disco e biografia, Bret Michaels diz que seu legado "será de guerreiro, não de quem teve hemorragia cerebral"

O cantor Bret Michaels em foto de divulgação - Divulgação
O cantor Bret Michaels em foto de divulgação Imagem: Divulgação

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

14/07/2010 09h00

Bret Michaels tem um mantra atualmente: "Todo dia acima do solo é um ótimo dia. Mesmo os dias ruins são dias bons". O roqueiro veterano e astro de reality TV não fala em abstrações filosóficas: há pouco tempo ele esteve próximo de ficar a sete palmos do chão.

No dia 12 de abril, antes de uma apresentação solo na cidade texana de San Antonio, o vocalista do Poison foi levado às pressas para um hospital para uma cirurgia de extração do apêndice. Onze dias depois, Michaels --que é diabético desde a infância-- sofreu uma hemorragia cerebral quase fatal.

Michaels recebeu alta no dia 5 de maio, foi chamado de "uma pessoa de muita sorte" por seu médico, que previu uma recuperação completa. Mas ainda assim, duas semanas depois o cantor estava de volta ao hospital, após sofrer um acidente vascular menor. Exames encontraram um buraco em seu coração, que será operado em breve.

Bret Michaels - "Fallen"

Para Michaels isso tudo é apenas um "obstáculo na sua estrada". "Sou um dos poucos sortudos que terão a chance não apenas de viver, mas de desfrutar de uma recuperação decente", avalia o cantor de 47 anos, que nasceu Bret Michael Sychak em Butler, Pensilvânia. "Quero assegurar que, por mais traumático que isso seja, o legado que eu deixar será o de um guerreiro, não de alguém que teve uma hemorragia cerebral".

De fato, Michaels mal parou desde então. Em meio aos seus males, ele foi escolhido por Donald Trump como vencedor do programa "Celebrity Apprentice" deste ano. Ele também apareceu no final de temporada de "American Idol", e Michaels --um veterano de várias temporadas de seu próprio reality show, "Rock of Love"-- confirmou que está negociando para ser o substituto de Simon Cowell em "American Idol".

E não é tudo. Ele está lançando um novo disco solo, "Custom Built", onde faz um dueto com Miley Cirus no single "Nothing to Lose"; regravou com sabor country o sucesso de 1988 do Poison, "Every Rose Has Its Thorn"; e está preparando um novo reality show para o canal VH1, "Bret Michaels: Life as I Know It".

O programa deve ser lançado neste semestre, antes da publicação de sua autobiografia no início de 2011. Michaels também planeja excursionar neste verão norte-americano com o Lynyrd Skynyrd e o 38 Special, enquanto o Poison estará na estrada no próximo ano para celebrar o 25º aniversário de seu primeiro álbum.

Dado tudo pelo que ele passou, seria de se esperar que Michaels estivesse pegando leve, mas ele diz que ele simplesmente não é assim. "Meu modo de cura é fazer música", diz o pai não-casado de suas filhas, Kristi e Raine. "Passei quase dois meses em três UTIs. Para que eu tenha uma chance de me curar plenamente preciso estar cercado de pessoas e coisas que sinto que podem me ajudar. Preciso estar na estrada e com minha família".

Após assisti-lo no palco, o vocalista Johnny Van Zant do Lynyrd Skynyrd acha que Michaels tomou a decisão certa. "Ele vai ficar bem", disse Van Zant em uma outra entrevista. "Nós nunca o descartamos. Ele é um soldado. Na verdade eu fiquei um pouco preocupado, mas ele veio e agitou a casa. Fiquei muito orgulhoso dele".

Bret Michaels - "All I Ever Needed"

Cantar "Sweet Home Alabama" com Lynyrd Skynyrd foi um item da "lista das coisas para fazer antes de morrer da minha carreira musical", diz Michaels. "Estou grato por tantas pessoas me enviarem votos de recuperação e boas vibrações. Isso me ajudou muito, mental e emocionalmente. E a música foi um fator de cura. Quando estava me recuperando da extração do apêndice, pedi para que me levassem um violão, mesmo que fosse só para dedilhar".

Michaels também recebeu um empurrão de "Celebrity Apprentice", que foi em grande parte gravado antes de seus problemas de saúde. Ao longo das 12 semanas da série, ele -–que estava competindo para arrecadar dinheiro para a Associação Americana de Diabete-– curtiu ser o astro do rock que "tocou no México na noite anterior, chegou sem dormir e trabalhou por dois dias com três a quatro horas de sono. Cheguei lá e disse: 'vamos! Eu quero vencer!'".

Ele acredita que todos achavam que fosse um roqueiro incompetente. "E eles viram essa luta em mim. Até mesmo minha própria equipe, meu pessoal, tentava se livrar de mim! Normalmente isso não acontece tão cedo no programa, mas comigo estava acontecendo logo de cara".

E Trump se revelou "um sujeito bacana com um bom coração" e que também era fã de música, acrescenta Michaels, mas o cantor sente que seu veredicto final envolveu apenas negócios. "Eu acho que ele não viu papo-furado em mim e viu que trabalhei arduamente e até tarde. Posso ter chegado um pouco atrasado, mas fiquei até bem mais tarde para compensar. E ele viu que nunca tratei ninguém mal. Acho que ele me entendeu e por isso fui 'contratado'".

Parceria com Miley Cyrus e biografia
"Custom Built", o sexto disco solo de Michaels, já estava em andamento quando ele adoeceu. O plano era gravar dez músicas novas, mas após a extração do apêndice e a hemorragia cerebral, ele teve que fazer algumas mudanças, acrescentando versões remix de lançamentos anteriores, como "Driven" e a canção-tema de "Rock of Love", "Go That Far", juntamente com material de seu álbum "Freedom of Sound" (2005) e da trilha-sonora de "A Letter from Death Row" (1998).

Dentre as canções, aquela que causa maior surpresa é "Nothing to Lose", sua colaboração com Miley Cyrus, mas Michaels diz que é porque as pessoas não conhecem sua história. O primeiro show de rock que ela assistiu, ele conta, foi um show do Poison em Nashville. "Ela me contou: 'tudo aquilo me deixou empolgada e meio que fez com que eu quisesse fazer música'. É uma ótima sensação meio que ver o fruto disso".

Cyrus o procurou, segundo Michaels, porque ela queria gravar "Every Rose Has Its Thorn" para seu mais recente álbum. "Quando estávamos no estúdio, eu perguntei se ela queria ouvir algumas das minhas novas faixas. Ela disse que sim e eu toquei 'Nothing to Lose'. Ela se apaixonou por ela e disse que adoraria cantar na canção. E eu pensei que isso ia ser demais!".

O som não é o que os fãs de Cyrus estão acostumados. "Uma das heroínas dela é Stevie Nicks. Eu já produzi e gravei a Stevie antes, então só falei: 'Nicks tem um estilo livre, então cante como você quiser'. Ela o fez e acabou se divertindo muito fazendo isso", ele lembra.

"Custom Built" também inclui uma versão de "What I Got", sucesso de 1997 do Sublime --"uma das minhas canções favoritas de todos os tempos desde que saiu", diz Michaels–- e a versão country de "Every Rose Has Its Thorn", que ele diz ser mais de raiz. "Eu a considero muito Allman Brothers, com som country contemporâneo e de rock sulista. Tem um pouco do que o Skynyrd fez em 'Simple Man' (1973) ou de algumas das primeiras gravações dos Rolling Stones".

Seu livro de memórias, "Roses & Thorns", será lançado em 1º de fevereiro, segundo a editora Simon & Schuster, já que os eventos recentes obrigaram outra série de revisões. "Todo dia algo novo acontece comigo. Era para ter saído em 23 de junho do ano passado, mas aconteceu o incidente no Prêmio Tony 2009 [ele foi atingido na cabeça por um pedaço do cenário] e eles quiseram incluí-lo. E aí sofri a hemorragia cerebral. Esse livro será como 'Guerra e Paz' vezes seis", ele diz rindo.

Livros, televisão e até mesmo uma crise médica com risco de vida à parte, diz o cantor, no final tudo ainda gira em torno da música e continuará sendo assim. "Quero que as pessoas saibam que ainda sou apaixonado por fazer música e estou empolgado em fazê-la. E realmente sinto que ainda estou longe de terminar, eu prometo. Eu não estou planejando ir embora tão cedo, ok?".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan