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"Sem pausa na banda não teríamos chance de fazer um grande disco", diz Train sobre novo trabalho

Patrick Monahan durante show do Train no James K. Polk Theater, em Nashville (12/09/2010) - Getty Images
Patrick Monahan durante show do Train no James K. Polk Theater, em Nashville (12/09/2010) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Syndicate

20/09/2010 15h41

Tirar o Train dos trilhos em 2006 foi uma decisão arriscada para a banda de rock da Baía de San Francisco. Agora, com o sucesso de seu mais recente álbum, "Save Me San Francisco" (2009), e seu sucesso Top 5, "Hey, Soul Sister", o trio concorda que a pausa de dois anos provavelmente salvou a banda e prolongou sua vida. "É como a maioria dos relacionamentos que ficam banais após algum tempo", diz o guitarrista de 36 anos, Jimmy Stafford.

O músico assegura que "às vezes é preciso recuar para realmente apreciar o que você tem. Acho que os fãs precisavam de uma pausa da agenda que tínhamos, das turnês e gravações constantes", ele prossegue. "Também deu aos integrantes da banda uma pausa uns dos outros, e voltamos totalmente revitalizados e reenergizados, realmente apreciando o que temos", completa.

O que o Train tinha àquela altura certamente não era nada para se queixar. A banda, formada em 1994 pelo cantor Pat Monahan, Stafford e o baterista Scott Underwood, teve uma série de discos platinados com seus três primeiros lançamentos, "Train" (1998), "Drops of Jupiter" (2001) e "My Private Nation" (2003). Também emplacou sucessos Top 20 como "Meet Virginia" (1998), "Drops of Jupiter" (2001) --que conquistou dois prêmios Grammy-- e "Calling All Angels" (2003).

Train - "Hey, Soul Sister"

Mas o Train descarrilou com "For Me, It's You" (2005). O baixista Charlie Colin deixou o grupo antes das sessões de gravação e, apesar do álbum ter estreado no 10º lugar na parada Billboard 200, ele rapidamente sumiu de vista, tornando-se o primeiro trabalho do Train a não receber um disco de ouro ou platina.

Continuar ou parar?
O resultado do álbum exacerbou as tensões que já fermentavam dentro do Train, diz Monahan. "Estávamos tendo problemas como uma banda", reconhece o cantor de 41 anos. "Sinto que tínhamos as pessoas erradas envolvidas em nossas vidas, desde o pessoal com os quais estávamos no palco até nossos empresários. Sabíamos que estávamos no caminho de nos tornarmos uma daquelas bandas que não existem mais ou apenas tocam seus velhos sucessos em festivais ocasionais, e não era isso o que queríamos".

Então Monahan, Stafford e Underwood fizeram uma reunião para deixar as coisas às claras e decidir se o Train continuaria ou não. "Jimmy, Scott e eu passamos por muitas coisas juntos", diz Monahan, "e tivemos que parar de ter medo de falar o que estávamos pensando e dizer: 'olha, são nossas carreiras, nosso ganha-pão, que estão em jogo aqui. É isso o que eu quero. O que vocês querem?' E todos nós queríamos as mesmas coisas. Nós precisávamos passar por muitas mudanças".

Isso levou algum tempo para ser conseguido. Monahan preencheu o intervalo lançando um álbum solo, "Last of Seven" (2007), enquanto Stafford escreveu um romance, o ainda não publicado "The Guitar on the Wall". O Train também mudou de empresário. Stafford reconhece a preocupação sobre se a banda sobreviveria à pausa intacta. "Nós fomos desde o início uma banda que trabalhava arduamente. Foi um ciclo constante e ininterrupto de gravações, então é difícil pisar no freio repentinamente. Aquilo me assustou um pouco".

Monahan diz que não se preocupou. "Eu tenho uma esposa incrível que substituiu a mãe incrível que eu tinha como minha maior fã, alguém que me faz levantar todo dia e me faz querer vencer. Ela escuta tudo o que tenho a dizer, como 'eu não sei mais se pertenço à indústria musical. Talvez nós devêssemos abrir um pequeno restaurante'. E ela diz 'tá, o único problema é que você precisa estar no palco'. E eu digo: 'tá bem, vou dar mais uma chance'", diz Monahan.

Train - "Save Me, San Francisco"

Química para compor
A chave para o retorno do Train foi a disposição de Monahan de, como ele coloca, "abrir as portas que estavam fechadas por muito tempo para compor canções com pessoas de fora da banda". Ele começou a colaborar com outras pessoas, como Ryan Tedder do One Republic e Kevin Griffin, do Better Than Ezra, e notou um padrão. "Assim que deixamos outras pessoas entrarem, eu acho que nos tornamos melhores compositores", diz ele.

Nem todas as colaborações são boas, ele pondera. "Trata-se de química. E há uma coisa que acontece quando você fica sozinho em uma sala com outra pessoa: você deseja ser ótimo. Você quer mostrar o seu melhor. Por competição ou o quer que seja, alguns desses caras são alguns dos melhores compositores do mundo, e você quer estar à altura".

Eles acabaram com cerca de 80 possíveis canções --11 das quais entraram em "Save Me San Francisco"-- e Monahan e seus companheiros rapidamente afastaram qualquer reserva a respeito de trabalhar material do Train com outras pessoas. "Foi muito divertido", ele diz. "Toda a experiência para mim foi excelente, porque não se tratava de compor canções de sucesso, e sim que gostássemos e considerávamos especiais. Já tínhamos vencido antes das canções serem sucesso, porque simplesmente as amávamos".

Monahan se juntou a Amund Bjorklund e Espin Lind para compor "Hey, Soul Sister", que chegou ao 3º lugar na parada Billboard Hot 100 e no topo da parada Adulta Contemporânea, vendendo mais de 3 milhões de cópias. "Eu queria compor uma canção tipo INXS, tipo 'Need You Tonight' (1987), não exatamente como ela, mas parecida", lembra Monahan, que compôs o segundo single do álbum, "If It's Love", com Gregg Wattenber no mesmo dia. "[Bjorklund e Lind] começaram a tocar um riff e eu disse 'cara, eu sei exatamente o que fazer aqui, me dê uns 45 minutos'".

Egos fora do estúdio
O cantor lembra que escreveu a respeito de um grupo de belas mulheres no Burning Man, dançando ao redor de uma fogueira. "Eu nunca estive lá, mas era como eu imaginava que seria. Então escrevi essas palavras e cantei para eles, e um deles pegou um ukelele e tudo fez sentido. O ukelele é um instrumento feliz e aquilo do que eu estava falando era muito feliz. Eu mal podia acreditar em quão bem aquilo soava com o que fiz".

Train - "Drops of Jupiter"

Mas quando Stafford pegou o ukelele nas mãos... não conseguiu tocá-lo direito. A banda acabou usando a gravação presente na demo, o que o guitarrista diz ser evidência do crescimento ocorrido na pausa do Train. "Havia um brilho na demo que não conseguíamos reproduzir no estúdio. Foi meu grande momento na gravação, deixar meu ego de lado, porque eu tinha tocado todas as guitarras até aquele momento e eu sabia que a canção tinha potencial de virar um single, mas meu interesse era em fazer um grande álbum, e acho que foi melhor manter o ukelele tocado pelo outro cara".

Com "Save Me San Francisco" ainda rolando, o Train pretende continuar na estrada por algum tempo, excursionando pela Europa, América do Sul e América do Norte até o final do ano. Uma viagem para a Austrália está marcada para 2011. O Train também deu início a um clube de vinho interativo para seus fãs, com curadoria de Stafford. O grupo também está pensando no próximo álbum, diz Monahan. Ele já tem algumas canções compostas --"por mim e dois outros caras"-- e está conversando com os executivos da Columbia Records a respeito de possíveis candidatos para produzir o álbum.

Resumindo: outra pausa não é iminente, apesar da decisão de fazer a primeira ter dado bons resultados para o Train. "Sem ela nós não teríamos a chance de fazer um grande álbum", diz Monahan. "Agora estou me sentindo incrivelmente motivado e como se tivesse encontrado um lugar especial para mim como compositor. E também sinto como se isso significasse que as pessoas querem ouvir mais música do Train, o que me deixa empolgado. Eu quero fazer isso. Eu quero criar algo legal".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan