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"Vou ficar decepcionado se este álbum não for bem recebido", diz cantor do Maroon 5 sobre novo trabalho

Os integrantes da banda norte-americana Maroon 5 - Divulgação
Os integrantes da banda norte-americana Maroon 5 Imagem: Divulgação

GARY GRAFF*

The New York Times Syndicate

14/10/2010 07h00

 Os integrantes do Maroon 5 já estavam compondo para seu terceiro disco quando "muitos elementos estranhos", como chama o cantor Adam Levine, entraram em ação e os colocaram na rota para "Hands All Over". O evento principal: uma chance de trabalhar com o produtor Robert John "Mutt" Lange, responsável por álbuns famosos de AC/DC, The Cars e Def Leppard, assim como de sua ex-esposa, Shania Twain. Era uma associação que a banda não tinha previsto, mas da qual não podia reclamar.

"Gosto de dizer que ele desceu do céu, em uma nuvem de fumaça, e disse: 'eu quero produzir este álbum'", diz Levine, "porque foi meio o que aconteceu. Ele fica na dele e não necessariamente sai da marcenaria a menos que realmente queira trabalhar em algo que o inspire. Daí ele disse: 'ei, eu quero mesmo produzir este álbum', e ficamos submissos diante do fato de ele ser quem ele é, dando ouvidos às suas opiniões e seguindo sua orientação. Estávamos curiosos demais para dizer 'não'".

O tecladista Jesse Carmichael concorda. "O fato de ele ter nos procurado fez com que ficássemos empolgados. Ele nos colocou em um estado mental diferente porque ele já produziu muitos álbuns extremamente bem-sucedidos. Ele podia olhar para o que tínhamos feito em nossos dois primeiros álbuns e dizer, 'tudo bem, nada mal, mas vamos tentar fazer algo realmente especial'".

Aqueles dois primeiros álbuns estavam longe de desleixados: "Songs About Jane" (2002), gravado depois que o quinteto de Los Angeles mudou seu nome de Kara's Flowers, recebeu quatro discos de platina, enquanto "It Won't Be Soon Before Long" (2007) ganhou dois discos de platina. O Maroon 5 vendeu 15 milhões de álbuns em todo o mundo e ganhou três prêmios Grammy, incluindo artista revelação em 2005, e entre seus sete sucessos Top 40 estão hits como "This Love" (2004), "She Will Be Loved" (2004) e "Makes Me Wonder" (2007), que chegou ao topo das paradas.

Devido ao sucesso, diz Levine, a banda sente menos pressão atualmente. "Nós já encontramos nosso lugar no mundo a esta altura", explica o cantor de 31 anos, natural de Los Angeles que conheceu Carmichael no Frenchwoods Festival of the Performing Arts Camp, em Hancock, Nova York. "Antes do segundo álbum eu diria para você que não estava nervoso, mas estava, e que não havia pressão, mas havia. Era meu trabalho demonstrar confiança e convencer todo mundo de que eu não estava pensando em coisas assim", ele conta.

Levine lembra que, desta vez, sentiram que já tinham vários hits, que venderam milhões de álbuns, que fizeram turnê por todo o mundo muitas vezes. "Nós tivemos uma vida incrível. Qualquer coisa que vier a acontecer daqui para frente é apenas o que é". Só que não foi fácil trabalhar com o exigente Lange, que é conhecido pelo esmero sônico detalhista de suas produções. "(Lange) almeja alto", diz Levine.

O cantor diz que o produtor quer atingir todo mundo em todos os países. "Ele não quer nivelar as coisas por baixo, mas gosta de tornar as coisas compreensíveis e acessíveis. E nós não pensamos em coisas assim. Eu penso em como estou me sentindo em um momento em particular ou o que quero expressar musicalmente. E acho que ele pegou esta música e realmente a ampliou, a tornando maior do que era antes".

"Hands All Over" é certamente o álbum mais diverso do Maroon 5 até o momento, incluindo desvios como a faixa título de hard rock, a faixa country "Out of Goodbyes" --ma colaboração com a banda country de sucesso Lady Antebellump-- e o pop com sabor anos 60, "Stutter". "Nós amamos todos os estilos de música", diz Carmichael, 31 anos, nascido no Colorado. "Um dia nós podemos nos ver mais interessados em algo estilo country, no outro pode ser um território tipo Michael Jackson, e assim por diante. (Lange) estava ligado nisso e nos encorajou"

Experimentalismo
O Marron 5 começou a compor "Hands All Over" em janeiro de 2009. Lange ingressou posteriormente naquele ano, e o grupo começou a enviar ideias para ele por e-mail, que iam e vinham de um lado para outro do Atlântico. A produção de fato levou cinco meses, em visitas intermitentes ao quartel-general de Lange na Suíça. "Eu não sou compulsivo-obsessivo a respeito de nada mais na vinha vida, mas quando se trata de música, por algum motivo eu começo a sentir a necessidade de assegurar que nenhuma opção seja ignorada e que toda ideia possível para uma canção seja apresentada. Eu quero assegurar que façamos o melhor possível, e isso leva tempo", conta Levine.

Um exemplo é "Misery", o primeiro single do álbum. A ideia para a canção já circulava há algum tempo, mas ela ficou engavetada até Levine "ter tido essa ideia enquanto eu cantarolava para mim mesmo no chuveiro", que então a levou para as sessões na Suíça, onde o Maroon 5 e Lange a moldaram em sua forma final. "Nós sempre escolhíamos as melhores partes de canções diferentes e fazíamos uma música Frankenstein. Foi o que aconteceu aqui e estou realmente feliz com isso", diz Carmichael. O resultado é o que Levine chama de "a canção que soa mais Maroon 5 do álbum". "Houve um momento em que não queríamos mais soar como nós mesmos, mas por que não? Nós quisemos assumir a propriedade daquele som ainda mais com esta canção".

O grupo explora sons notadamente diferentes em outras partes do álbum. Carmichael e o guitarrista James Valentine trabalharam "Out of Goodbyes" como um dueto de guitarra, mostrando a Levine apenas após o arranjo já estar bem avançado. "Caminhei para a cabine de voz e comecei a cantar por provavelmente uma hora, e estava pronta. Foi provavelmente o processo mais orgânico de ouvir algo e imediatamente começar a escrever para ela", diz o cantor. Como a canção também parecia precisar de uma voz feminina, o Lady Antebellum foi adicionado à faixa, apesar dos astros country terem gravado sozinhos em Nashville, sem o Maroon 5 presente na sessão. "Eles fizeram um ótimo trabalho", diz Carmichael.

A faixa título é um rock de arena mais inclinado para clientes de Lange como o AC/DC e o Def Leppard do que o Maroon 5. Levine reconhece que a banda inicialmente compôs "um ritmo despojado, acompanhado por um loop estranho que meu colega tinha criado, e compusemos a canção em cima disso". Entra Lange. "Nós apresentamos ao Mutt e ele disse: 'está ok. Vamos recomeçar'", lembra Levine rindo. "E é preciso engolir sua vaidade de uma só vez, basicamente, e recomeçar do zero. Ele deu as direções e, relutantemente, eu dei ouvidos a ele e compusemos esta canção, que ficou ótima. Eu não sei se já me empenhei tanto quanto nesta música. É um alívio saber que me esforcei ao máximo".

O Maroon 5 deu início à turnê logo após o lançamento do single "Misery" e antes do lançamento de "Hands All Over". A agenda da banda está ocupada pelos próximos dois anos, diz Carmichael, mas a sensação é diferente daquela de turnês anteriores. "A atmosfera é mais otimista, relaxada, de seguir com a corrente", diz o tecladista. "Estamos fazendo isto há tanto tempo que finalmente eu percebi que, independente do local onde eu durma ou de onde estivermos no mundo, eu vou me sentir em casa".

As novas canções, especialmente aquelas com nova sonoridade, podem tornar as coisas um pouco desconfortáveis para o público, é claro. Mas, diz Levine, ele está otimista de que até mesmo as faixas mais experimentais de "Hands All Over" serão aceitas pelo público do Maroon 5. Se não forem, isso não diminuirá a experiência de fazê-las.

"Eu vou ficar realmente decepcionado e triste se este álbum não for bem recebido", reconhece o cantor, "mas também não vai arruinar minha vida. Ele me deu a liberdade de esticar um pouco as pernas e dizer: 'ok, eu fiz o melhor que podia aqui. Nós trabalhamos com um produtor incrível e tudo está ótimo'. Há sempre algum problema", conclui Levine, "mas há cada vez menos a cada álbum, porque eu sinto que, quanto mais você grava, mais divertido fica. Eu realmente apenas espero pelo melhor a esta altura".

Tradutor: George El Khouri Andolfato