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"É um filme sobre o garoto que viria a ser John Lennon", diz ator de "O Garoto de Liverpool"

Aaron Johnson, intérprete de John Lennon em "O Garoto de Liverpool", no Festival de Cinema de Cannes, na França (14/05/2010) - Getty Images
Aaron Johnson, intérprete de John Lennon em "O Garoto de Liverpool", no Festival de Cinema de Cannes, na França (14/05/2010) Imagem: Getty Images

IAN SPELLING*

The New York Times Syndicate

19/10/2010 19h20

Quando "Kick-Ass - Quebrando Tudo" estreou meses atrás, e faturou quase US$ 100 milhões em todo o mundo, projetou seu ator principal, Aaron Johnson, como um astro em potencial. Mas o britânico de 20 anos, que agora vem recebendo elogios por sua interpretação do jovem John Lennon no drama independente "O Garoto de Liverpool", admite que ainda não sabe ao certo o que fazer.

"'Kick-Ass' me colocou no mapa na América", diz Johnson. "Eu trabalhava muito em casa, por isso estou também no mapa na Inglaterra. O difícil é sempre encontrar o próximo projeto. 'Kick-Ass' me abriu as portas, mas se as pessoas assistirem 'O Garoto de Liverpool' e me virem mostrando outros pontos fortes, ficarei feliz. Isto é algo de que me orgulho, e eu quero que as pessoas assistam".

Trailer de "O Garoto de Liverpool"

Johnson conta que, agora, pretende encontrar um personagem pelo qual realmente se apaixone, como por John Lennon, mas isso nem sempre acontece. "As pessoas dizem: 'você é um ator, apenas faça seu trabalho'. Mas eu não quero estar sempre nessa posição. Como você se transforma no Daniel Day-Lewis? Como fazer tão poucos filmes, mas acertar toda vez?". Ainda não há resposta para isso, especialmente em relação a Johnson, que atua desde os 6 anos de idade.

Entre seus créditos estão peças, programas de televisão e filmes como "Bater ou Correr em Londres" (2003) e "O Ilusionista" (2006). Ele brinca que, ao estrelar em "Kick-Ass - Quebrando Tudo", ele pode ter arruinado sua chance de ser o próximo Day-Lewis. Ele poderá ter que se contentar em ser o próximo Gary Oldman ou Ralph Fiennes.

Johnson tem apenas 20 anos, mas durante uma entrevista em um salão de conferência em um hotel de Manhattan, ele passa a imagem de uma pessoa muito mais velha, tanto na aparência quanto na postura. Com seu cabelo encaracolado, Johnson poderia ser o irmão mais novo de Tim Burton e já é pai de três filhos: ele está noivo da diretora de "O Garoto de Liverpool", Sam Taylor-Wood, que é 23 anos mais velha do que ele, e está ajudando a criar os dois filhos dela de um casamento anterior, além da própria filha do casal, Wylda Rae, que nasceu em 7 de julho.

Johnson e Taylor-Wood se conheceram durante as filmagens de "O Garoto de Liverpool", que recebeu a bênção tanto da viúva de Lennon, Yoko Ono, quanto do ex-beatle Paul McCartney. O filme narra a juventude de Lennon em Liverpool, na Inglaterra, onde o Lennon adolescente passou parte dos anos 50 com sua rígida tia Mimi (Kristin Scott Thomas), buscava uma conexão com sua mãe (Anne-Marie Duff), que o deu para criação, e no final formou a banda de skiffle pré-Beatles, The Quarrymen.

"O Garoto de Liverpool" estreia no Brasil no dia 3 de dezembro. "Eu sei que o filme é sobre John Lennon", diz Johnson, "mas para mim sempre foi mais a respeito do garoto que se tornaria John Lennon, sobre o relacionamento dele com sua tia e sua mãe. Para mim é uma história de amadurecimento. Foi como pude abordá-la sem ter que me preocupar com todo o lance de John Lennon, sem todo o aspecto dos Beatles. Isso me deu um personagem para desenvolver".

O ator continua: "Ele é um garoto. Nós temos que seguir sua jornada, temos que descobrir tudo com ele. Ele tem que encontrar sua mãe, se apaixonar por ela, lidar com sua tia e descobrir a voz para sua forma de arte. O violão que sua mãe lhe deu, foi esse presente especial que ela lhe deu e, quando ela morreu, ele quis fazer algo com aquilo".

Foi o que ele fez, é claro. Lennon se tornou um beatle, um cantor e compositor mundialmente famoso, um ativista da paz, um marido e pai e, no final, uma vítima de um assassinato sem sentido em 1980, que para muitas pessoas representou o último e triste capítulo da saga dos anos 60. Nada disso teve a ver com a interpretação de Johnson. O jovem ator se esforçou ao máximo para minimizar a consciência do público do Lennon icônico dos anos 60 e além.

"Francamente, eu não queria que nada disso estivesse lá", ele diz. "Apenas em um momento eu quis que as pessoas sentissem algo como 'ah, esse é o Lennon que eu conheço'. É exatamente no fim, quando canto 'In Spite of all the Danger [uma canção dos Quarrymen que foi a primeira que Lennon gravou com McCartney e George Harrison]. Quando você assiste as apresentações de Lennon no palco e cantando, sua postura é característica. Ele pega a guitarra como se fosse uma arma e toca com lábios cerrados e mal se move, enquanto todo mundo balança a cabeça. Todo mundo sorri, exceto ele. Foi essa sensação que tentei passar no final, quando ele está próximo de se tornar o John Lennon que todo mundo conhece".