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"Não sou mais apenas o sujeito que canta esta ou aquela canção", diz Trey Songz

Trey Songz durante apresentação no Best Buy Theater, em Nova York (05/10/2010) - Getty Images
Trey Songz durante apresentação no Best Buy Theater, em Nova York (05/10/2010) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

29/03/2011 08h00

Trey Songz chamou seu álbum de estreia de "I Gotta Make It" (em português, "eu terei que fazer isso"). Bastava alguém assistir à apresentação de abertura do cantor de R&B na turnê "OMG" de Usher para se ter uma ideia de quanto Songz avançou desde seus lançamentos iniciais com título insistente. O público o recebia com um entusiasmo tão grande que rivalizava o da atração principal, especialmente quando ele tirava a camisa. "É incrível", diz Songz, de 26 anos, rindo. "Eu estou recebendo tanto amor que é irreal. É um sonho".
 
O sucesso de Songz se reflete em quanto sua música é tocada nas rádios e nas vendas de seus quatro álbuns, que já totalizam 2 milhões de cópias vendidas. "Ready" (2009) e "Passion, Pain & Pleasure" (2010) já receberam disco de ouro, com este último alcançando o topo da parada de álbuns de R&B. Songz também emplacou 11 sucessos no Top 20, chegando ao primeiro lugar com "I Invented Sex", que tem participação do rapper canadense Drake, e "Can't Be Friends".
 
Ele também aparece como convidado em sucessos de Mary J. Blige, Toni Braxton, Drake, Yung Joc e Ludacris. "Ele é um cantor incrível", diz Braxton, que trabalhou com Songz na faixa "Yesterday" de seu álbum "Pulse" (2010), em uma entrevista separada. "Ele é expressivo e muito, muito sensual de uma forma como não se ouve com frequência, quase com um Marvin [Gaye] mais jovem ou um Teddy [Pendergrass]".
 

Trey Songz e Toni Braxton - "Yesterday"

Songz --nascido Tremaine Aldon Neverson-- acha que só agora está encontrando seu caminho. "Fui abençoado com muitos sucessos nos últimos dois ou três anos", ele diz, falando por telefone de Atlanta, onde agora está morando. "Acho que foi um desenvolvimento gradual até onde estamos agora, de 2005, quando comecei, até hoje. Eu trabalhei bastante para chegar onde estou".
 
Ele acredita que seus contatos começaram a ficar mais fortes. "Eu passei de ser uma 'canção' que você ouve no rádio a um 'artista' que você ouve no rádio. E isso veio com o acúmulo de sucessos. Acho que muita gente pode cantar uma canção de sucesso, mas é difícil encontrar uma ligação entre cada canção e ser visto como um artista, em vez de ser apenas o sujeito que canta esta ou aquela canção", teoriza.
 
Progresso lento
Songz foi apresentado à música enquanto crescia em Petersburg, na Virgínia, e seus pais tiveram um papel nisso, incluindo seu pai, um oficial militar que deixou a família quando seu filho era pequeno. "Ele não teve participação na minha vida", diz Songz, "mas dizem que ele compunha música e cantava muito bem, então acho que herdei isso dele".
 
A mãe do futuro astro, uma agente correcional juvenil, mantinha música tocando na casa, desde cantores clássicos de R&B, como Marvin Gaye e Luther Vandross, até artistas mais contemporâneos, como Guy e Prince. Amigos e parentes perceberam que o menino tinha talento para cantar, mas ele era tímido e os ignorava. "Eu não levava a sério naquela época. Sou de uma cidade pequena, e não achava que conseguiria sair de lá com minha música. Era irreal".
 
Mas ele começou a se apresentar no colégio e a participar do circuito de shows de calouros na Costa Leste. Em 2000, conheceu o produtor Troy Taylor em um concurso em Nova Jersey, e logo assinou com ele. "Ele disse que eu tinha 'aquilo' que é necessário", lembra Songz, que ganhou seu nome artístico por compor suas próprias canções e com a abreviação de seu primeiro nome. "Ele ajudou me a aperfeiçoar, me dava CDs e não dizia quem era quem, eu apenas tinha que escutar, como um estudante de música. Ele me fazia estudar as canções com seriedade. Foi muito trabalho, mas três anos depois eu estava com um contrato com gravadora".
 

Trey Songz - "Missin You"

Songz precedeu seus álbuns oficiais para a Atlantic Records com fitas underground gravadas como Prince of Virginia. Ele chamou atenção com "Open the Closet" (2005), uma resposta à "Trapped in the Closet" (2005-2007) do cantor de R&B R. Kelly. Então "I Gotta Make It" (2005) estreou no 20º lugar da parada Billboard 200, enquanto o single da faixa título, com a participação rapper Twista, e o single seguinte, "Gotta Go", tiveram bom desempenho nas paradas de R&B.
 
Taylor reforçou "Trey Day" (2007) com outros produtores e compositores --incluindo Kelly, a equipe Stargate, Nate "Danja" Hills e Bryan-Michael Cox-- colocando Songz ainda mais alto nas paradas e um dos singles, "Can't Help But Wait", na trilha sonora do filme "Ela Dança, Eu Danço 2" (2007). A canção foi seu primeiro sucesso pop Top 20 e também foi indicada para um prêmio Grammy. Songz e Taylor conservaram o formato de multiprodutores em "Ready", que manteve a trajetória para o alto.
 
Tem sido um progresso relativamente lento em uma indústria que busca sucesso imediato, mas Songz sente que isso trabalhou a seu favor. "Eu consegui me preparar para muitas coisas na vida por causa disso, do dinheiro aos fãs, dos shows ao aprendizado do rádio e do jogo, e crescer como homem, mudando a forma como componho e tudo mais. Eu tive tempo para mostrar às pessoas uma variedade de canções que posso compor e interpretar. A margem de erro não é tão pequena como seria se tivesse estourado instantaneamente".
 
Sacrifícios por amor
A meta de Songz para "Passion, Pain & Pleasure" era, como ele diz, "mostrar os altos e baixos, as alegrias e tristezas de um relacionamento e da vida, apesar de não haver paralelo entre as canções e minha vida. Acho que todo mundo é apaixonado por algo e também sofre. Você sacrifica algo para fazer aquilo pelo que é apaixonado. No momento, eu estou muito apaixonado pela música e sacrifico muito da minha vida para fazer isso, o que às vezes me causa dor, mas o prazer disso é saber quantas pessoas me amam e ser capaz de fazer o que amo".
 
Seus principais sacrifícios, diz Songz, são "tempo e privacidade, porque quando você assina para se tornar um astro, você entrega sua vida para as pessoas e as pessoas querem bisbilhotar tudo. Elas não querem apenas ouvir sua música, elas querem saber sobre sua vida, com quem você está namorando, tudo a seu respeito. Sempre há algo sendo dito a seu respeito, e você precisa ser resistente. Mas é doloroso quando pessoas que não conhecem você começam a dizer mentiras. Eu aprendi a lidar com isso, mas às vezes também é algo com que odeio lidar".
 
O primeiro single de "Passion, Pain & Pleasure", "Bottoms Up", é uma colaboração com Nicki Minaj que chegou ao 6º lugar na parada Billboard Hot 100 e recebeu, assim como o álbum, disco de ouro. Songz reconhece que é "uma gravação muito estratégica, bem pensada para o rádio". "Assim que a parte instrumental ficou pronta eu disse: 'esse é o single!' antes mesmo de entrar a letra. E logo após escrevermos (a melodia e a letra), liguei para Nicki Minaj e disse: 'cara, você ficaria ótima nessa faixa'. Ela escutou e adorou. E no final saiu tudo perfeito".
 

"Love Faces" foi uma ideia que Songz mantinha em seu Blackberry há algum tempo, aguardando pelo momento certo para usá-la. "Eu conheci uma mulher linda e nós ficamos juntos por algum tempo. O rosto dela era muito bonito e no primeiro instante em que a vi eu pensei nas expressões que ela faria se fizéssemos amor. Troy Taylor cuidou do arranjo instrumental e saiu muito bom. Eu não narrei como aconteceu na minha vida, apenas fiz de uma forma com que outras pessoas pudessem se relacionar".
 
Songz espera continuar trabalhando "Passion, Pain & Pleasure" por mais algum tempo, mas também está coçando para gravar músicas novas. Ele pretende lançar seu próximo álbum antes do final de 2011, mas não fará previsões específicas sobre quando seu quinto álbum ficará pronto e como soará. "Eu estou sempre pensando na música", ele diz. "O bom é que não estou sendo pressionado ou com pressa de gravar um álbum, mas sempre tenho necessidade de fazer música. Eu estou me sentindo altamente criativo, então pode sair algo que nunca fiz antes"
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato