Topo

"Nunca atacaria Noel, o Oasis definitivamente funcionou", diz ex-baixista da banda e atual Beady Eye

Banda britânica Beady Eye em imagem de divulgação - Divulgação
Banda britânica Beady Eye em imagem de divulgação Imagem: Divulgação

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

27/05/2011 06h10

Quando Noel Gallagher deixou o Oasis em 28 de agosto de 2009, depois de uma briga em Paris com seu irmão, Liam, os outros quatro integrantes da banda enfrentavam um dilema. "Ou continuávamos tocando juntos ou iríamos para casa assistir TV", diz Andy Bell, o baixista do Oasis que agora toca guitarra no Beady Eye, a banda que ele, Liam Gallagher, Colin "Gem" Archer e Chris Sharrock formaram e lançaram um álbum, "Different Gear, Still Speeding", em fevereiro.
 
A decisão de permanecerem juntos não foi difícil. "Nenhum de nós teve o desejo de sair procurando outra pessoa com quem tocar", diz Bell, de 40 anos, que liderou a banda britânica Ride antes de se juntar ao Oasis em 1999. "Nós estávamos felizes tocando juntos, parecia a coisa mais natural do mundo eu, Gem, Liam e Chris continuarmos. E decidimos fazer isso como uma nova banda".
 

Beady Eye - "Bring the Light"

Uma nova banda, mas uma com currículo musical que poucos novos artistas podem contar, assim como uma história louvável e notória. Afinal, o Oasis teve uma carreira que incluiu oito álbum consecutivos no 1º lugar da parada britânica e 70 milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. 
 
Os Estados Unidos não se entusiasmaram tanto, mas o Oasis mesmo assim conseguiu três lançamentos platinados no mercado norte-americano, com "(What's the Story) Morning Glory" (1995) vendendo mais de 4 milhões de cópias, e desfrutando de sucessos como "Live Forever" (1994), "Wonderwall" (1995), "Don't Look Back In Anger" (1996), "Champagne Supernova" (1996) e "Don't Go Away" (1998).
 
O choque do fim do Oasis
O Oasis terminou devido às brigas públicas entre os irmãos Gallagher, nas quais os vários outros integrantes da banda --oito nos 19 anos de história-- eram meros espectadores. Noel Gallagher falava com frequência em sair em carreira solo, e na briga final em Paris, Liam quebrou uma das guitarras de Noel.
 
Mesmo assim, diz Bell, o fim foi "um choque". "Eu deveria estar preparado para que terminasse daquela forma", acredita o guitarrista, falando por telefone de sua casa em Manchester, na Inglaterra. "Mas quando você olha para trás... as brigas sempre ocorriam, quem ia saber quando seria realmente o fim?".
 
Bell se apressa em acrescentar que não quer passar a impressão de que era sempre ruim. "Porque se você briga a cada seis meses, você ainda tem outros seis meses de bons tempos no intervalo. Passávamos grande parte do tempo rindo, e aí ocorriam alguns momentos sombrios. Essa é a melhor forma como posso descrever".
 
Seria fácil para os músicos menosprezados atacarem seu ex-líder, mas Bell não fará isso. "Eu nunca atacaria Noel. O Oasis foi uma banda que definitivamente funcionou. Foi uma ótima banda para se estar, e teríamos prosseguido com o Oasis até todos morrermos, se essa fosse a intenção. Mas era uma cria do Noel, ele era o líder e aquele que tomava as decisões, o que era o certo. E muita música boa foi feita".
 
E o Beady Eye é o oposto disso, segundo Bell. "É uma banda democrática. A palavra de todos conta igualmente. Nós apresentamos ideias e canções e estamos todos envolvidos com a arte da capa, com o vídeo e fotos. Estamos tentando fazer isso como uma unidade, e gostamos da novidade disso no momento. É atraente para nós".
 

Beady Eye - "The Roller"

Empreendimento de valor
Com o fim do Oasis, Bell e companhia não demoraram para colocar o Beady Eye em ação. "Voltamos para Londres decididos continuar de alguma forma", lembra o guitarrista. "Não havia menção do nome da banda e nem nada". A tentativa poderia ter fracassado, ele admite. "Poderíamos não tocar bem juntos dessa nova forma", diz Bell.
 
Não foi o caso. O quarteto começou a trabalhar imediatamente em músicas novas, começando por "Beatles and Stones", uma homenagem aos seus antepassados musicais e, como diz Bell, também "resume a ideia de querermos passar pelo teste do tempo". 
 
O grupo gravou uma série de demos em um pequeno estúdio, operando eles mesmos o equipamento e produzindo faixas como "Millionaire" e "The Roller", que fizeram do Beady Eye um empreendimento que valia a pena. "Assim que essas três foram feitas começamos a sentir que iria funcionar", diz Bell. "Não teve algo como 'vamos marcar uma reunião e decidir como será o som do Beady Eye'. O som do álbum é o som das 13 canções que compusemos".
 
Houve uma empolgação instantânea quando a notícia da banda vazou. O produtor Steve Lillywhite, que já produziu Dave Matthews Band, Psychedelic Furs, Rolling Stones, U2, XTC e mais, sondou o Beady Eye a respeito de trabalhar com eles. "Ele nos contatou logo depois da separação (do Oasis)", lembra Bell, "e disse: 'se algo rolar, eu quero participar'. E ia rolar, então marcamos uma reunião com ele e mostramos as demos que já tínhamos. Ele gostou delas e nós gostamos dele".
 
Reverência ao pop britânico
"Different Gear, Still Speeding" soa bastante como... bem, o Oasis. "Ora, nós todos estávamos naquela banda e Liam era o vocalista", diz Bell com indiferença. Mas está mais próximo do Oasis em ascensão dos anos 90 do que a banda de seus anos posteriores, quando Archer, Bell e Liam Gallagher se juntaram a Noel Gallagher na composição. 
 
A banda tem o mesmo tipo de reverência em relação ao pop britânico e os antepassados do rock, ciente de ser parte de uma linhagem musical e desafiadora em sua reivindicação dos mesmos elementos melódicos e sonoros de seus antecessores. "The Roller" soa como se fosse se transformar em "Instant Karma!" (1970) de John Lennon a qualquer instante, enquanto "The Beat Goes On" remete a David Bowie da era "Ziggy Stardust".
 

Beady Eye - "Four Letter Word"

"Não há uma mensagem, exceto a de que trata-se apenas de canções", diz Bell. "Trata-se apenas da música, e nossa motivação é gravarmos os melhores álbuns que pudermos, e sermos a melhor banda ao vivo que pudermos ser, e esse é o fim em si mesmo. É muito simples. É apenas rock and roll e o desejo de ser uma boa banda", ele diz.
 
Como o Oasis, o Beady Eye ingressa às vezes em reinos épicos, como "Wigwam" e "The Morning Son", se estendendo além da marca de seis minutos, em arranjos ambiciosos. A primeira, segundo Bell, foi particularmente difícil de combinar. "Essa nasceu de três canções diferentes que Liam reuniu em uma só. Fomos bem duros com nós mesmos quando a estávamos gravando. Quando finalizamos, nem sabíamos se tinha dado certo".
 
Com o lançamento de "Different Gear, Still Speeding", o Beady Eye está se concentrando em estabelecer sua reputação como banda ao vivo no Reino Unido e na América do Norte. Até o momento, diz Bell, ele está comovido pela resposta do público. "Parece ser um público do Beady Eye, que eu não poderia prever", ele diz. "Não vi nenhuma camiseta do Oasis. E as pessoas estão cantando cada palavra de nossas canções, é incrível, considerando que o álbum saiu há pouco tempo. Como você chamaria isso? Um gol de placa".
 
E ele acrescenta que não vai demorar para o Beady Eye voltar ao estúdio. "Há planos em andamento enquanto falamos", diz o guitarrista. "Há canções que sabemos que serão gravadas para o próximo álbum. Agora estamos entrando no embalo de excursionar, e quando se está em turnê, o que se costuma fazer é sentar e ficar brincando com ideias para novas canções".
 
Bell conclui que todos os integrantes ganhraram um novo sopro de vida. "Eu acho que pegamos esta nova situação e extraímos o melhor dela, saindo com uma mentalidade realmente positiva. É difícil pensar em um desdobramento melhor, sério".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato