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Alison Krauss diz que abandonou parceria com Robert Plant porque não houve paixão pelas novas músicas

Alison Krauss durante apresentação no The Loveless Barn, em Nashville (09/09/2009) - Getty Images
Alison Krauss durante apresentação no The Loveless Barn, em Nashville (09/09/2009) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

14/07/2011 06h00

Alison Krauss e os integrantes de sua banda Union Station não planejaram uma pausa de sete anos entre o lançamento do último álbum e um novo. Ao finalizarem seu mais recente disco, "Paper Airplane", eles ficaram chocados ao perceber quanto tempo se passou desde o ganhador de três prêmios Grammy, "Lonely Runs Both Ways" (2004). "Fizemos shows durante os últimos anos, mas ficamos surpresos com a demora para lançarmos um disco inteiro. Não era nossa intenção, mas acabou sendo assim", lembra Krauss.
 
Muito se passou entre os dois álbuns da banda, particularmente para Krauss, que saltou para o estrelato internacional graças a "Raising Sand" (2007), uma colaboração com o ex-vocalista do Led Zeppelin, Robert Plant, e que ganhou disco de platina e seis prêmios Grammy, incluindo álbum do ano. Isso manteve Krauss ocupada por dois anos, enquanto ela e Plant se juntaram ao produtor de "Raising Sand", T-Bone Burnett, em uma turnê.
 
Os outros integrantes do Union Station deram um "apoio incrível", ela diz, e o banjista e guitarrista Ron Block avalia que o sucesso de Krauss também foi um triunfo para a banda. "Quase sempre que ela era mencionada, o Union Station também era", diz Block, de 46 anos, em uma entrevista separada. "O nome da banda se espalhou para lugares onde nunca antes tinham ouvido sobre nós. Talvez ['Raising Sand'] tenha nos impedido de trabalhar juntos por algum tempo, mas também saímos ganhando".
 
O Union Station poderia ter ficado de molho quando Krauss, Plant e Burnett iniciaram uma sequência para "Raising Sand": Krauss diz que "várias faixas" foram gravadas, mas as sessões foram abandonadas. "Achamos que era prematuro", diz ela, de 39 anos. "Não nos apaixonamos pelo que tínhamos gravado. Ainda falamos sobre trabalharmos juntos toda vez que conversamos, e tenho certeza que revisitaremos algum tipo de parceria no futuro".


Shows lotados e boas críticas
Não é como se Krauss não tivesse outras coisas a fazer. O Union Station --que também inclui Dan Tyminski na guitarra, bandolim e vocais, Barry Sales no baixo e Jerry Douglas no dobro-- está longe de ser um projeto paralelo. Lançado em abril, "Paper Airplane" estreou no primeiro lugar nas paradas country e bluegrass. As críticas foram altamente positivas e a banda, que fez turnê durante o hiato entre álbuns, com forte venda de ingressos em um mercado de concertos em baixa.
 
O grupo se formou em 1987, quando Krauss tinha 16 anos, e o Union Station a apoiou em seu álbum de estreia, "Too Late to Cry". Ela fez parte da banda em "Two Highways" (1989) e tem alternado entre o Union Station e trabalhos solo desde então, ganhando 26 Grammys --o maior número para uma artista do sexo feminino-- e conseguindo discos de ouro para "So Long So Wrong" (1997), "New Favorite" (2001) e "Lonely Runs Both Ways" do Union Station. "Live" (2002) recebeu disco de platina.
 
Antes mesmo de "Raising Sand", Krauss ganhou destaque como artista solo graças às faixas das trilhas sonoras dos filmes "E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?" (2000) e "Cold Mountain" (2003). Mas ela não é a única integrante da banda a fazer trabalho solo: Tyminski também aparece na trilha sonora de "E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?", interpretando "Man of Constant Sorrow" de Dick Burnett, enquanto Douglas era um astro do bluegrass antes de se juntar ao Union Station em 1998. Bales e Block mantêm igualmente interesses musicais fora do grupo.
 
Suas várias influências externas influenciaram a realização de "Paper Airplane", acredita Krauss. "Fazia muito tempo e precisamos nos ajustar um pouco para retomarmos o ritmo. Nós todos tínhamos feito outros projetos e todo mundo tinha produzido outras coisas. Quando nos reunimos, estávamos sete anos mais velhos e sete anos diferentes em nossas personalidades e gostos".
 

Um disco sério, mas não triste
Selecionar as 11 faixas de "Paper Airplane" levou algum tempo, inclusive tempo longe uns dos outros. A faixa título surgiu quando Krauss começou a sofrer de fortes enxaquecas --"eu estava com dificuldade para julgar o que estávamos fazendo", ela recorda-- e teve que interromper por um tempo as sessões. Nesse intervalo ela chamou o compositor Robert Lee Castleman, que também estava enfrentando um bloqueio criativo, mas que estava disposto a compor algo para Krauss.
 
"Ele disse: 'me diga o que está acontecendo com você'", lembra Krauss, que tem um filho de seu casamento com Pat Bergeson --eles se divorciaram em 2001-- e estava passando por um momento difícil em sua vida. "Fui até lá e quando passei pela porta, ele já tinha uma melodia. Eu preparei dois sanduíches de queijo grelhado e conversamos por quase uma hora, e então voltei para casa. Castleman me ligou mais tarde naquela noite e me disse que o título era 'Paper Airplane' [avião de papel, em português], e gostei demais".
 

Este álbum trata de
uma provação e um momento em que as coisas estão
difíceis, e aquilo pelo que
você está esperando é uma mudança

Alison Krauss
Krauss considera o tom geral do álbum "sério, mas não triste, como se fosse deprimente. Acho que há uma honestidade reconfortante nele. Quando você olha para trás, acho que este álbum trata de uma provação e um momento em que as coisas estão difíceis, e aquilo pelo que você está esperando é uma mudança. Não que você a veja se aproximando, você apenas sabe que acontecerá, porque é o que a história já mostrou".
 
A maioria das canções conta com contribuição de compositores de fora da banda. "Miles To Go", que Bales co-compôs, é a única que contou com participação de um membro do Union Station, apesar de Viktor, o irmão de Krauss, ter co-composto "Lie Awake". Compositores como Lori McKenna, Tim O'Brien e Peter Rowan contribuíram com outras faixas originais, e o álbum também inclui covers de "Dimming of the Day" de Richard Thompson, que Krauss considera "a segunda metade de 'Paper Airplane'", e "My Opening Farewell" de Jackson Browne.
 
Ausente de grande parte de “Paper Airplane”, e não proeminente mesmo quando está presente, é o violino de Krauss. "Barry chegou a brincar a certa altura: 'você vai tocar violino aqui?'", Krauss lembra rindo. "Eu não gosto de acrescentar [instrumentos] apenas por acrescentar, ou apenas porque o toco também. Isso não tira o meu sono".
 
Às vezes, ela reconhece, o violino literalmente atrapalha seu canto. "Eu tenho uma amiga, [violinista original do Union Station] Andrea Zonn, que sempre diz: 'por que precisa estar em frente ao seu rosto o tempo todo? Eu ficaria mais contente se não ficasse na frente do seu rosto o tempo todo’", diz Krauss. "É engraçado, mas ela está certa".
 
Com violino ou não, "Paper Airplane" tirou o Union Station de seu hiato inesperado de gravação e o fez com estilo. Eles decidiram que não levará outros sete anos até o próximo álbum da banda. "Eu certamente espero que não", diz Krauss. "O principal é sincronizar a agenda de todos. São cinco pessoas e mais o engenheiro de som, e todos são muito ocupados. Foi uma loucura, mas espero que isso não volte a atrapalhar como aconteceu desta vez".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan