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"Imagino que muitos fãs estejam decepcionados pelo Yes não se manter unido como grupo", diz ex-vocalista da banda

A formação atual do Yes: Steve Howe, Alan White, Benoit David, Chris Squire e Geoff Downes - Robin Kauffman/NYT
A formação atual do Yes: Steve Howe, Alan White, Benoit David, Chris Squire e Geoff Downes Imagem: Robin Kauffman/NYT

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

26/08/2011 06h00

Steve Howe gosta de gabar que sua banda Yes é "feita para seguir em frente". Este foi o caso durante quase 45 anos de reviravoltas, mudanças de integrantes, controvérsias internas e ocasionais períodos de inatividade. E, ao longo de tudo isso, o Yes resistiu e até prosperou, com quase 50 milhões de álbuns vendidos em todo o mundo. Mesmo assim, os eventos que levaram a "Fly From Here", o primeiro álbum de inéditas da banda em dez anos, estiveram entre os mais incomuns e inesperados na carreira do Yes.
 
Em 1980, o vocalista original Jon Anderson e o tecladista Rick Wakeman deixaram o grupo britânico de rock progressivo. Seus substitutos foram uma surpresa: Trevor Horn e Geoff Downes, mais conhecidos como a dupla new wave The Buggles, que numa época pré-MTV lançaram "Video Killed The Radio Star" (1979). Foi uma parceria breve, que durou apenas dois anos e polarizou os fãs do Yes, resultando em um único álbum, "Drama" (1980) --basicamente uma nota de rodapé curiosa na longa história do Yes.
 

Yes - "We Can Fly"

Agora a história parece se repetir. Anderson está fora da banda de novo, dispensado em 2008 quando problemas de saúde o impediram de sair em turnê. Seu substituto, Benoît David, foi tirado da banda tributo ao Yes, a canadense Close To The Edge. Downes voltou ao Yes e Horn produziu "Fly From Here". "Não é algo que eu esperava", reconhece o baixista Chris Squire, que co-fundou o Yes em 1968 e é a única constante entre os 16 músicos que já passaram por suas fileiras. "Mas muitas coisas aconteceram ao longo dos anos que nós também não esperávamos. Você aprende a conviver com isso. Estamos ficando bons nisso".
 
Independente de quem brilhou em determinado momento da banda, o Yes continua florescendo no nicho que estabeleceu pouco depois de sua formação, em meio à revolução do rock psicodélico do final dos anos 60. Seguindo o exemplo do Moody Blues, Pink Floyd, Procol Harum e dos Beatles após "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" (1967), o Yes fundiu as convenções do pop melódico com ambições avançadas de composição. 
 
Canções longas, semelhantes a suítes, como "Starship Trooper" (1971), "Yours Is No Disgrace" (1971), "I've Seen All Good People" (1971) e "Roundabout" (1972) foram destaques de seus álbuns. "Close To The Edge" era uma peça de quase 19 minutos que ocupava todo o primeiro lado do álbum de mesmo nome de 1972, enquanto "Tales From Topographic Oceans" (1973) tinha apenas uma canção em cada um de seus quatro lados. "Como muitos outros músicos da época", lembra Anderson em uma entrevista separada, "nós queríamos expandir as fronteiras e explorar, e não nos sentirmos restringidos pelas regras convencionais do rock. Estávamos determinados a ser originais".
 
O Yes encontrou rapidamente uma base de fãs que apreciavam suas ambições. O grupo conseguiu quatro discos de platina e mais três álbuns de ouro durante os anos 70, enquanto "90125" (1983) foi um sucesso comercial de três discos de platina, que deu ao Yes seu único sucesso a ocupar o primeiro lugar nas paradas, "Owner of A Lonely Heart". Mas Howe, de 64 anos, admite que criar essas obras ambiciosas "pode ser exaustivo" e, somado aos problemas inerentes de reunir músicos que são "muito criativos, teimosos e determinados", leva à grande rotatividade nas fileiras do Yes e a obstáculos periódicos no lançamento de músicas novas.
 

Yes - "Life on a Film Set"

Adaptações para o novo disco
“Não parece que se passaram dez anos desde que fizemos 'Magnification' (2001)", diz Squire. "Muita coisa aconteceu nesse período, o que explica o motivo de não termos lançado um novo álbum". O primeiro revés, ele diz, foi a saúde de Anderson. O cantor, que co-fundou o Yes, sofreu uma insuficiência respiratória aguda em 2008, forçando a banda a cancelar uma turnê de verão. O grupo respondeu trazendo David e, apesar de Squire dizer que "estamos abertos à possibilidade de fazer algo com Jon no futuro", a separação gerou certa animosidade --apesar de Anderson, de 66 anos, insistir que "não há mais raiva".
 
"Acho que fiquei decepcionado por agirem dessa forma, motivados mais pelo dinheiro e pelos negócios", diz o cantor, que lançou um novo álbum solo neste ano e está trabalhando em um projeto com Wakeman e Trevor Rabin, o guitarrista do Yes de 1983 a 1994 e co-autor de "Owner of A Lonely Heart". "Eu imagino que muitos fãs estejam decepcionados pelo Yes não conseguir se manter unido como grupo e ter se dividido no que é agora, mas isso não diminui o grande trabalho que fizemos ao longo de muitos anos", diz Anderson. "E após algum tempo você começa a perceber que mudar faz bem a você. É saudável".
 
O Yes teve que adiar os planos de músicas novas para permitir que David se adaptasse e, como coloca Squire, "perceber o que significava ser o vocalista do Yes. Ele lidou muito bem e continuou melhorando na direção certa. Então chegou a hora de gravar". Essa decisão, entretanto, levou a ainda mais mudanças dentro do Yes. Squire estava conversando com Horn --que também produziu "90125" e "Big Generator" (1987)-- sobre um projeto paralelo no qual estava trabalhando com o ex-guitarrista do Genesis, Steve Hackett, quando surgiu a ideia de um novo álbum do Yes. 
 
A conversa então se voltou para "We Can Fly from Here", uma canção na qual o Yes estava trabalhando durante a passagem de Horn e Downes pela banda, que não foi incluída em "Drama", mas que apareceu na caixa "The Word Is Live" (2005). "Trevor disse: 'nós nunca fizemos uma versão de estúdio. Talvez devêssemos nos unir e fazer isso'", lembra Squire. "Essa era a ideia, fazer apenas uma canção". A peça cresceu em um épico de 23 minutos, em seis partes, ao estilo de "Close To The Edge" e outras obras longas do Yes. Depois disso, diz Squire, "percebemos o quanto gostamos de trabalhar juntos e expandimos para Trevor produzir o álbum todo".
 

"Eu imagino que muitos fãs estejam decepcionados pelo Yes não conseguir se manter unido como grupo e ter se dividido no que é agora, mas isso não diminui o grande trabalho que fizemos ao longo de muitos anos. E após algum tempo você começa a perceber que mudar faz bem a você. É saudável"

  • Jon Anderson
O próximo álbum do Yes
Foi ideia de Horn trazer Downes de volta ao grupo. "Trevor sugeriu minha participação porque eu compus ['We Can Fly from Here']", diz o tecladista, que nos anos em que esteve longe da banda trabalhou com Howe na banda Asia. Mas isso levou a outra decisão difícil para Squire, Howe, David e o baterista Alan White: o que fazer com o tecladista Oliver Wakeman, o filho de Rick, que ingressou na banda em 2008 e também tinha trabalhado no novo material para o Yes, incluindo "Into The Storm", que aparece em "Fly From Here"?
 
"Isso incomodou um pouco”, reconhece Squire, de 63 anos, "porque estávamos nos dando bem com Oliver, mas Trevor me persuadiu de que faríamos um álbum melhor com Geoff", diz o baixista. "É difícil explicar para alguém, 'olha, você não fez nada errado, mas sentimos que esta combinação de pessoas funcionará melhor para este projeto'. Ele aceitou muito bem e pode estar de volta à banda daqui alguns anos".
 
Mas não é isso o que se espera. Squire prevê que o Yes manterá essa formação por algum tempo e diz que já há conversa a respeito do próximo álbum. "Quando um álbum é bem-sucedido todo mundo fica disposto a falar sobre o próximo. Eu espero que isso aconteça, porque gosto muito de trabalhar com o Trevor".
 
Downes, de 58 anos, diz que "é realmente bom tocar de novo com o pessoal" e acrescenta que gravar o álbum, e especialmente "We Can Fly From Here", permitiu que ele resolvesse o que lhe parecia um negócio inacabado quando deixou o grupo em 1981. "O Yes é uma banda muito especial. Eu me sinto privilegiado de ser uma pequena parte da história dela. Acho que o que temos agora se desenvolverá muito bem, o Yes é capaz de seguir em frente, independente de quem esteja no grupo. Trata-se mais do estilo de música, e não dos integrantes individuais".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato