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"Eu estava convencido de que ajudaria Amy Winehouse a largar as drogas", diz Tony Bennett após dueto com a cantora

Tony Bennett comemora 85 anos durante apresentação em concerto beneficente no Staples Center, em Los Angeles (24/09/2011) - Getty Images
Tony Bennett comemora 85 anos durante apresentação em concerto beneficente no Staples Center, em Los Angeles (24/09/2011) Imagem: Getty Images

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

19/10/2011 05h00

Há certa ironia em Tony Bennett ter se envolvido em eventos da Associação Americana dos Aposentados nos últimos anos. Afinal, ele está longe de se aposentar. Bennett, que completou 85 anos em agosto, está em sua sétima década profissional, o que o torna o artista há mais tempo em atividade na Columbia Records e em toda a música.
 
Ele já conquistou 15 Grammys e vendeu mais de 50 milhões de discos em todo o mundo. Seu catálogo de mais de cem álbuns inclui o novo "Duets 2", e em novembro ele terá uma caixa cobrindo toda sua carreira: "Tony Bennett: The Complete Collection", com 73 CDs e três DVDs de uma carreira que continua produtiva. Então, qual é a mensagem que ele quer passar aos aposentados?
 
"Quero dizer aos aposentados para se aposentarem para... o quê?", diz Bennett rindo, falando por telefone de seu estúdio de pintura em Nova York. "O engraçado é que, quando surgiram Elvis Presley, os Beatles e toda aquela coisa, era como se eles fossem novos e eu fosse alguém da velha escola. E agora tenho 85 anos, mas os Beatles são sexagenários, estão se tornando septuagenários, não são mais jovens, mas eles também estão seguindo em frente".
 
Bennett é rápido em notar que, atualmente, canta para mais do que apenas seus contemporâneos. "Eu simplesmente toco para o público", ele diz. "Nunca penso em aspectos demográficos, jovens e velhos. Acho que o maior erro das gravadoras foi quando dividiram e disseram: 'esta é a sua música, e seus pais gostam do outro tipo'. Isso foi muito ignorante, porque você tem que tocar para todo mundo, para quem quer ouvir".
 

Acho que o maior erro das gravadoras foi quando dividiram e disseram: 'esta é a sua música, e seus pais gostam do outro tipo'. Isso foi muito ignorante, porque você tem que tocar para todo mundo, para quem quer ouvir

Tony Bennett
A trajetória de Tony Bennett
Bennett segue essa filosofia desde 1946, quando foi dispensado do Exército dos Estados Unidos --após servir na Alemanha na linha de frente durante a Segunda Guerra Mundial e durante a ocupação no pós-guerra-- e fez uso da "G. I. Bill" (lei de desmobilização) para se matricular no American Theatre Wing, em Nova York. 
 
Ele estudou bel canto e o adaptou ao jazz, assinando seu primeiro contrato de gravação em 1949. Naquele ano, Pearl Bailey ouviu Bennett e o convidou para que se apresentasse com ela em Greenwich Village, onde Bob Hope viu sua apresentação e o contratou para uma turnê --e também sugeriu que abreviasse seu sobrenome, de Benedetto para Bennett.
 
A turnê com Hope levou ao contrato de Bennett com a Columbia. Seu primeiro sucesso foi "Because of You" (1951) e logo Frank Sinatra chamou Bennett de seu cantor favorito. Bennett emplacou 20 sucessos nas paradas, incluindo "Cold, Cold Heart" (1951), "Stranger In Paradise" (1953) e "I Left My Heart In San Francisco" (1962), antes dos Beatles chegarem em 1964 e a invasão britânica ter relegado Bennett e seus pares às posições mais baixas das paradas. 
 
Mas, mesmo durante o auge do rock and roll, Bennett permaneceu popular e, com o passar dos anos, um ícone. Sua aparição em 1994 na série "Unplugged" da MTV, tendo Elvis Costello e k.d. lang como convidados, deu a Bennett um inesperado espaço no rock alternativo. O registro feito pelo canal recebeu disco de platina e dois prêmios Grammy, incluindo o cobiçado álbum do ano.  
 

Tony Bennett e Amy Winehouse -
"Body And Soul"

A reação de Amy Winehouse
Nada mais ressalta o apelo de Bennett junto aos fãs de todas as idades do que "Duets 2". Ele não tinha planos para uma sequência, até que o primeiro disco, de 2006, vendeu mais de 3 milhões de cópias. "Não tinha ideia de que faria tanto sucesso", reconhece. "As vendas foram tão fenomenais que a gravadora pediu: 'por favor, faça outro assim'. Eles foram muito gentis, mas não farei um terceiro".
 
Como seu antecessor, "Duets 2" está repleto de astros, unindo Bennett com parceiros que vão desde ícones como Aretha Franklin e Willie Nelson até novatos como Lady Gaga, Josh Groban, Norah Jones, John Mayer e Carrie Underwood, assim como vários artistas consagrados como Andrea Bocelli, Mariah Carey, Natalie Cole e Sheryl Crow.
 
Mas, mesmo com um rol de astros tão potente, o álbum recebeu atenção especial com a versão de "Body and Soul" de Bennett com Amy Winehouse, que foi lançada como o segundo single de "Duets 2", em setembro. Os lucros estão destinados para a fundação criada pela família de Winehouse em nome dela para ajudar jovens com necessidades médicas ou financeiras.
 
"Está registrado em filme e eu acho que surpreenderá a todos quão bem nos demos", diz Bennett, que gravou com Winehouse nos estúdios Abbey Road, em Londres. "Ela estava um pouco apreensiva em como abordar aquilo, e eu disse: 'eu posso estar errado, mas soa como se você tivesse influência de Dinah Washington'. Aquilo a espantou. Ela disse: 'meu Deus, você consegue ouvir isso? Eu sou fã dela!' E aquilo a relaxou e foi a gravação que acabamos fazendo".
 
Antes das sessões de gravação, Winehouse e seu pai assistiram a uma apresentação de Bennett no Royal Albert Hall de Londres. O cantor aproveitou a oportunidade para dar alguns conselhos a Winehouse. "Eu estava convencido de que conseguiria conversar e ajudá-la a largar as drogas", ele diz, acrescentando que a fundação é "uma ótima forma de tirar algo positivo disso tudo".
 

Tony Bennet e Lady Gaga -
"The Lady Is A Tramp"

Lady Gaga: um novo fenômeno
Bennett ficou impressionado com todos seus parceiros de dueto e atribui a excelência deles à nova ênfase atual na educação. "Os novos artistas estão saindo de escolas de arte. Lady Gaga é da Universidade de Nova York, e lá eles ensinam artes performativas", diz Bennett, que co-fundou a Escola Frank Sinatra de Artes em Nova York.
 
"Quando comecei, artistas mais velhos como Jack Benny e George Burns nos diziam: 'você está indo bem, mas precisará de uns seis anos para se tornar um artista'. E realmente foi preciso esse tempo. Mas agora os professores mostram o que é preciso fazer, como se apresentar e se preparar. Isso nunca aconteceu antes", conta ele.
 
Tony Bennett e Lady Gaga podem parecer um par estranho, mas ele não vê dessa forma. "Eu nunca conheci na minha vida uma pessoa mais talentosa do que Lady Gaga. Ela é muito, muito criativa, e é uma pessoa muito doce e gentil com todo mundo com quem ela trabalha. Tem um talento imenso. Acho que ela se tornará tão grande quanto Elvis Presley. Podemos esperar muito dela".
 
Bennett acrescenta que John Mayer, que canta com ele "One for My Baby", é "um sujeito muito talentoso e um ótimo cantor de blues. Ele sabia improvisar muito bem e a transformamos em uma gravação divertida". Aretha Franklin? "Muito profissional. Ela está em excelente forma após sua cirurgia, soa fantástica. Ela entende a música intimamente e dá para ouvir isso na gravação".
  
Bennett divulgou "Duets 2" com shows em setembro no Metropolitan Opera em Nova York, e no Staples Center em Los Angeles. Todas as sessões foram filmadas pelo diretor de fotografia Dion Beebe para um documentário de making-of, enquanto o filho de Bennett, Danny, também trabalha em um longa metragem chamado "The Zen of Tony Bennett", que registra as conversas entre Bennett e seus parceiros de dueto.
 
Tudo isso (e o próximo álbum de Bennett, uma coleção de canções de Jerome Kern) deverá ser lançado em 2012. Ao todo, tem sido uma celebração de aniversário muito especial --"a melhor que já tive", diz o cantor. "Não consigo acreditar que ainda estou aqui fazendo isto. Estou com saúde, tive ótimos professores e eles me ensinaram como me manter em forma. E apenas fico contando as bênçãos de cada dia".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan

Tradutor: George El Khouri Andolfato