Jane's Addiction lança primeiro disco inédito em oito anos e garante: "não ficamos hibernando neste tempo"
Os discos não saem facilmente para o Jane's Addiction. Os integrantes principais do grupo estão juntos desde 1985, mas entre muitas separações e pausas, o quarteto só conseguiu lançar quatro álbuns de material inédito nesse tempo todo. O mais recente, "The Great Escape Artist", saiu neste mês, oito anos após seu antecessor, "Strays".
A palavra "prolífica" não costuma ser associada à banda, mas o cantor Perry Farrell, o guitarrista Dave Navarro e o baterista Stephen Perkins, que estão no grupo há 26 anos, alegam que o processo criativo lento pode ser gratificante.
"Se você é fã do Jane's Addiction", diz Navarro, 44 anos, "pode parecer só um quarto álbum, mas para nós, como artistas individuais, é um dos muitos discos de nossas carreiras. Eu gravei discos solo, gravei com o Panic Channel, com os Chili Peppers. Perry gravou vários álbuns, assim como Stephen. Não ficamos hibernando entre os álbuns do Jane's Addiction".
Jane's Addiction - "Been Caught Stealing"
Farrell, que também co-fundou o Lollapalooza, primeiro como um festival itinerante e agora como um evento em Chicago e na América do Sul, concorda. "A chave é a diversificação", diz o cantor de 52 anos. "Eu tenho outras aventuras musicais, tenho o Lollapalooza, ao qual dedico muito esforço e amor e é uma coisa linda. E faço meu DJing, onde toco electro. E gosto de ter o Jane's sempre lá", ele acrescenta.
Por sua vez, Perkins argumenta que as ausências periódicas só fazem com que os músicos da banda sintam mais saudade uns dos outros e especialmente da música. "Temos o Jane's Addiction desde que tínhamos 17 anos", diz o baterista de 44 anos. "Foi bom nos separarmos e voltarmos tantas vezes quanto fizemos. Não quer dizer que o Metallica e outros que gravaram por 20 anos estão errados, nós nunca tivemos essa experiência. Para nós é muito empolgante quando voltamos para gravar outro álbum juntos".
O começo e as separações
A banda nasceu em Los Angeles, quando o nova-iorquino Farrell e o baixista Eric Avery saíram de outra banda, a Psi Com, e começaram a procurar outros músicos na cena de rock alternativo da cidade. Perkins namorava a irmã mais nova de Avery na época, e o baterista, por sua vez, recomendou seu amigo de infância, Navarro.
Com uma abordagem musical posteriormente descrita pela "The Rolling Stone Encyclopedia of Rock & Roll" como "uma sobreposição musical ambiciosa de beleza sublime e decadência completa", o Jane's Addiction se tornou uma sensação nas casas noturnas e foi contratado pela Warner.
Os primeiros dois álbuns do grupo, o platinado "Nothing's Shocking" (1988) e o duplamente platinado "Ritual de Habitual" (1990), foram abraçados pela crescente cena de rock alternativo e geraram sucessos como "Jane Says" (1988), "Stop!" (1990), "Been Caught Stealing" (1990) e "Classic Girl" (1991). Um cover de "Ripple" do Grateful Dead, gravado para o álbum tributo "Deadicated" (1991), também se saiu bem.
Também foi o ano em que o Jane's Addiction se separou pela primeira vez, após um concerto em Honolulu em que Farrell se apresentou nu. O abuso de drogas foi em parte responsável pela separação, diz Navarro, assim como "conflitos de personalidade". "Acho que cada um pode ter sua própria resposta separada", diz o guitarrista. “Na época, nós quatro não estávamos olhando na mesma direção. Éramos muito jovens e imaturos neste negócio. E na vida, ponto final".
O Jane's Addiction se reuniu brevemente em 1997, com Flea do Red Hot Chili Peppers ocupando o lugar de Avery. O grupo saudou o novo milênio com uma nova reunião em 2001, por um período de três anos, que resultou no terceiro álbum da banda, "Strays" (2003). Dali, hibernou até 2008, quando fez turnê --com Avery de volta-- e lançou uma caixa chamada "A Cabinet of Curiosities".
Trent Reznor e um Guns 'N Roses
Naquele mesmo ano a banda entrou em estúdio com Trent Reznor do Nine Inch Nails, com o qual o Jane's Addiction excursionou em 2009, mas fracassou em produzir algo para ser lançado. "Passamos uma semana com Trent, mas não estávamos com cabeça para aquilo", lembra Perkins. "Estávamos nos preparando para a turnê e alguém disse: 'vamos gravar com o Trent'. Quem diria não? Mas o timing foi errado. Tínhamos boas canções, mas sentíamos que não estavam prontas, então por que lançá-las?".
Jane's Addiction - "Ocean Size"
Em vez disso, a banda trouxe outro produtor, Rich Costey, e trabalhou gradualmente até "The Great Escape Artist". Mas o caminho estava acidentado: Avery quis sair de novo, por motivos que seus companheiros preferem não discutir. "Não gosto de falar publicamente sobre outras pessoas", diz Navarro. "Essa é uma pergunta para o Eric. Já houve muita conversa e especulação sobre esse assunto. Prefiro seguir em frente, para ser franco".
Duff McKagan, baixista do Guns 'N Roses e do Velvet Revolver, fez uma passagem temporária pelo Jane's Addiction. "Acho que algumas coisas saíram de proporção”, diz McKagan, que foi coautor das faixas "Broken People", "Ultimate Reasons" e "Words Right Out of My Mouth", em uma entrevista separada. "Minha intenção nunca foi entrar para a banda, eu só os ajudei a compor algumas canções. Eu os conheço desde os anos 80 e eles são músicos realmente dotados, bons sujeitos e boa companhia, mas foi só isso".
McKagan passou a se dedicar à sua própria banda, Loaded, deixando o Jane's Addiction com outra crise de integrantes. "Algumas coisas boas saíram dos três ou quatro meses que trabalhamos com ele, mas tivemos que repensar", diz Perkins. "Eu e Dave estávamos conversando com Perry e dissemos: 'já estamos fazendo isto há tanto tempo, não dá para sermos atrapalhados por um baixista. Precisamos ser criativos. Como podemos fazer isso?'".
Toques de um TV on the Radio
Por sugestão de Costey, eles conversaram com Dave Sitek, do TV on the Radio, que tinha algum tempo livre enquanto seu grupo gravava seu mais recente álbum. A química foi instantânea. "Dave realmente abriu meus olhos", diz Perkins. "Adoro o TV on the Radio. Eles são muito diferentes do que eu faço, e eu adoro isso, esses tipos diferentes de vozes e ideias, qualquer coisa que possamos trazer e misturar com o que fazemos. É importante, como artista, ser forçado a mudar".
Navarro também apreciou os métodos de trabalho diferentes dos recém-chegados. "Dave gosta de trabalhar rápido, ter uma ideia, executá-la, passar para outra, enquanto eu e Perry somos mais inclinados a sentar, mexer em botões, trabalhar por três ou quatro dias em cima de uma ideia", explica o guitarrista. "Quando estava trabalhando com Sitek e Perkins, apenas nós três, minha inclinação natural seria me sentar e ficar brincando com efeitos e botões. E Dave basicamente dizia: 'não, chega. Vamos para a próxima' e eu o deixei tomar as rédeas".
Ele achou Costey "um tanto perfeccionista", como ele mesmo. "É engraçado", diz Navarro, "porque Sitek e Rich são diferentes como a noite e o dia na forma como operam. Eu meio que tive que me reajustar emocionalmente no dia a dia, dependendo de com quem estava trabalhando, o que sempre mantinha as coisas frescas".
No final, a banda peneirou a grande quantidade de material para dez faixas relativamente curtas. Apenas "Splash a Little Water on It" dura mais que cinco minutos, e seis delas têm menos de quatro minutos de duração. "São canções que conduzem você por uma jornada, que passam de suaves a duras, de tribais a psicodélicas, até mesmo uma de metal. Estamos explorando esse trabalho híbrido de novo", diz Perkins. "Simplesmente soa como o Jane's", diz Navarro.
O Jane's Addiction fará uma turnê com datas esporádicas nos próximos meses, para divulgação de "The Great Escape Artist", até mesmo retornando a Honolulu em 30 de dezembro, e pode vir a realizar uma turnê mais convencional em 2012. Ou não. "Aprendi minha lição de não prever o futuro, especialmente em relação a esta banda", diz Navarro, rindo.
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan
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