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"Estava disposta a abrir mão do Evanescence", diz Amy Lee após gravar primeiro disco da banda em cinco anos

Amy Lee se apresenta com a banda Evanescence no último dia de Rock In Rio (2/10/2011) - Marco Antonio Teixeira/UOL
Amy Lee se apresenta com a banda Evanescence no último dia de Rock In Rio (2/10/2011) Imagem: Marco Antonio Teixeira/UOL

GARY GRAFF*

The New York Times Sindycate

23/11/2011 06h10

O Evanescence não teve pressa para voltar, mas claramente seus fãs acharam que a espera valeu a pena. O terceiro álbum autointitulado do grupo de heavy rock com ares góticos, seu primeiro desde "The Open Door" (2006), estreou em outubro no 1º lugar da parada Billboard 200, a segunda vez que a banda atinge o topo. 
 
Para a cantora Amy Lee, a única remanescente do Evanescence original, a receptividade recompensa o tempo tão grande entre os álbuns, assim como sua decisão de descartar a primeira tentativa da banda de gravar um álbum. Segundo Amy, ela estava plenamente preparada para reconstruir o público do Evanescence caso os fãs da banda tivessem partido durante os cinco anos entre os álbuns.
 
"Eu literalmente não pensei (na banda) por algum tempo", diz a cantora de 29 anos, falando por telefone de Nashville. "Eu me afastei completamente do Evanescence. Estava disposta a abrir mão. Na minha cabeça, era tipo: 'se eu tiver inspiração de novo e gravarmos outro álbum, mesmo que leve dez anos, valerá a pena aguardar pela inspiração e fazer algo que seja incrível. Se isso significar não termos mais nenhum fã e todo mundo tiver nos esquecido, então tudo bem'", lembra.
 
Amy pensou que, se a música fosse boa o suficiente, eles conseguiriam recomeçar e estourar de novo. "Há essa ideia de que todo mundo tem déficit de atenção e que, se você não correr e lançar música, então você não tem nenhum futuro", conclui Amy. "Mas não vejo isso nos nossos fãs. É muito legal voltar depois de todo esse tempo e reencontrá-los em todo o mundo". E esse foi o caso para o Evanescence desde o início.
 
 
O incômodo com "ex-integrantes"
Amy Lee, nascida na Califórnia, e o compositor Ben Moody cofundaram o Evanescence em 1995, em Little Rock, no Arkansas, após se conhecerem em um acampamento religioso para jovens. Apoiados no sucesso inicial local com três EPs e uma coleção de demos, o grupo assinou um contrato para lançar seu álbum de estreia, "Fallen", em 2003. Impulsionado pelo single "Bring Me to Life", o álbum vendeu mais de 17 milhões de cópias em todo o mundo e conquistou dois prêmios Grammy.
 
Mas a estrada não foi tranquila. Moody deixou a banda enquanto eles faziam a turnê de divulgação do álbum e foi seguido pelo restante dos músicos originais da banda nos dois anos seguintes. Moody e os ex-integrantes John LeCompt e Rocky Gray se reuniram em 2009 para um grupo bem Evanescence, chamado We Are the Fallen, tendo como vocalista a finalista do programa "American Idol", Carly Smithson.
 
"Isso não tem nada a ver comigo ou com o Evanescence", diz Amy. "A única coisa que me incomoda é continuar ouvindo sobre os 'integrantes originais'. Os únicos originais do Evanescence são eu e o Ben. John e Rocky entraram na banda depois de já termos gravado 'Fallen', a banda já tinha vários anos e não incluíam ninguém, exceto Ben e eu. Fora isso, eu não tenho uma opinião e nem nada a dizer a respeito".
 

Após quatro anos vivendo uma vida normal e nem mesmo pensando a respeito do Evanescence, você pensa: 'eu ainda sou realmente isso? Não seria hora de largar? Será que ainda funciona? Quem sou eu?

Amy Lee
Amy seguiu em frente, recrutou novos músicos e viu "The Open Door" estrear em um recompensador 1º lugar em 2006. Mas o conflito e pressão a deixaram esgotada, e quando se casou com Josh Hartzler em 2007, Amy estava pronta para uma pausa prolongada.
 
"Eu amo a normalidade. Amo meu marido e amo ser normal, fazer minhas próprias compras, sair com meus amigos e não tentar fazer com que o mundo me veja como a coisa mas importante, porque não é. Então abri mão do Evanescence e não sabia ao certo se voltaria". Ela acabou voltando, trabalhando em novas composições em meados de 2009. "Não consigo evitar. Amo a música".
 
Faltou rock ao Evanescence
Inicialmente ela sentia que o novo material resultaria no "melhor álbum da minha vida". Mas à medida que as gravações começaram, com Amy trabalhando com o produtor Steve Lillywhite e compondo com Will "Science" Hunt --que não deve ser confundido com o atual baterista do Evanescence, Will Hunt-- ela sentiu que algo estava errado. No final, ela decidiu que a única coisa que podia fazer era voltar à prancheta de desenho.
 
"Simplesmente não era música do Evanescence. Parte dela era despojada e acústica. E passei por uma fase onde tudo era baseado em programação (eletrônica). Quanto mais dessas canções eu tinha, mais eu me empolgava e começava a atrair a banda para aquilo, querendo que virasse um álbum do Evanescence, mas quando entramos no estúdio naquela época, nós não estávamos inteiros lá", lembra.
 
E o que estava faltando quando Amy, Will Hunt, o guitarrista Terry Balsamo, o guitarrista Troy McLawhorn e o baixista Tim McCord entraram no estúdio? "Acho que era o rock", diz Amy. "No coração de tudo, o Evanescence é uma banda de rock. Nós precisamos de todo aquele poder, da agressividade da guitarra e da bateria. Agora este ('Evanescence') é realmente um álbum do Evanescence, tem muita nova atitude e novos elementos, mas ainda somos nós".
 
Daí o título. "Eu tinha muitas ideias para título do álbum, mas tudo passou a girar em torno da identidade da banda, a sensação passou a ser de que éramos realmente uma banda. E ao transparecer na música que a banda está tão entusiasmada, esse passou a ser o único título que parecia certo. Trata-se de voltar a se apaixonar por essa coisa de modo importante".
 

Evanescence no Rock In Rio 2011

Um disco feliz, maduro e otimista
Amy e companhia também decidiram procurar um novo produtor, Nick Raskulinecz, após descobrirem que ele tinha produzido dois dos álbuns recentes favoritos dela, "Black Gives Way to Blue" (2009) do Alice in Chains e "Diamond Eyes" (2010) dos Deftones. "Nós sabíamos o som que queríamos e eu queria alguém que pressionasse a banda", ela conta.
 
Amy Lee, Balsamo e McCord compuseram o primeiro single, "What You Want", juntos na casa dela em Nova York. "Eu me lembro de Tim e Terry trabalhando no primeiro riff e verso, que achei que eram bacanas. Eu disse que era incrível e me sentei ao piano, e comecei a tocar o refrão; Imediatamente a gente disse: 'nós encontramos algo!'. Eu lembro bem que a canção tinha muita da energia que gostamos".
 
E a mensagem, ela diz, é empoderadora. "Era algo tipo eu empoderando a mim mesma a não ter medo de sair lá fora e continuar tentando, continuar trabalhando, algo como 'não tenha medo de voltar ao mundo. Não tenha medo de fracassar. Você tem que fazer o que ama'. Falava muito a meu respeito e sobre o que estava acontecendo na época".
 
De fato, grande parte de "Evanescence" encontra Amy em um modo afirmativo, compondo de um lugar diferente, mais maduro e mais otimista do que o material dos dois primeiros álbuns do grupo. "Esse disco toca as pessoas de modos diferentes", ela reconhece. 
 
"Algumas pessoas acham [o disco] mais feliz, e eu entendo isso. Há menos ansiedade, porque não estou culpando os outros por tudo, que é o que eu ouço às vezes quando escuto nossas músicas mais velhas. E ao mesmo tempo as pessoas dizem: 'você está com o coração tão partido neste álbum. O que aconteceu?'", ela comenta.
 
Amy acredita que há um pouco de tudo desta vez. "É um grande espectro de sentimentos, grande dor, dor da autoaceitação e superação do medo. Eu quero pensar mais a respeito da vida, viver a vida, falar sobre esperança, perdão e muitos temas que talvez não fossem bacanas o suficiente para compor a respeito quando eu era adolescente".
 
Parte do medo, diz Amy, foi voltar ao Evanescence após seu exílio autoimposto. "Quando estamos nisso, é o Evanescence o tempo todo e isso é o que somos", diz a cantora. "Após quatro anos sem fazer isso, vivendo uma vida normal e nem mesmo pensando a respeito do Evanescence, você pensa: 'eu ainda sou realmente isso? Não seria hora de largar? Será que ainda funciona? Quem sou eu?'. Muitas das minhas letras neste álbum tratam de me reencontrar".
 
No final, ela diz, ela descobriu que a banda ainda é um lar. "Estou sentindo muito amor por parte dos fás e estou muito orgulhosa do álbum que gravamos. Sinto que isso é quem sou, e adoro. Eu sei que também sou uma pessoa completa sem a banda, mas no momento ela é realmente algo muito bom na minha vida, e estou feliz por estar imersa nela de novo".
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan