Alice Cooper diz que pesadelo descrito em "Welcome 2 My Nightmare" é mais assustador e intenso; leia entrevista
Era um sonho de Alice Cooper ter um novo "pesadelo". Em 1975, o famoso roqueiro demitiu o restante da banda que compartilhava seu nome artístico e lançou o álbum solo "Welcome to My Nightmare" (em português, "Benvindo ao Meu Pesadelo"). O trabalho chegou às paradas, ganhou disco de platina e apresentava uma balada atípica, "Only Women Bleed" --até então seu segundo maior sucesso.
Trinta e sete anos depois, Alice Cooper está de volta à terra dos maus sonhos. "Welcome 2 My Nightmare", uma sequência lançada em setembro do ano passado, o reúne a membros do "Welcome to My Nightmare" original, incluindo o produtor Bob Ezrin e a dupla de compositores e guitarristas Dick Wagner e Steve Hunter.
O álbum também conta com três membros sobreviventes da banda Alice Cooper original, Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith, assim como convidados que vão de Vince Gill e Kesha até Keith Nelson e Rob Zombie. O álbum estreou no 22º lugar da parada da Billboard, o melhor resultado de Alice Cooper em 22 anos.
Seu sucesso demonstra o apelo contínuo de "Welcome to My Nightmare", mas este não é o álbum que ele originalmente pretendia fazer. "Eu queria finalizar 'Along Came a Spider' (2008) e explicar o que aconteceu ao assassino serial daquela história. Conversei com Bob a respeito e ele disse: 'Bem, eu ficaria mais empolgado se 'Along Came a Spider' tivesse ocupado o 1º lugar nas paradas. Isso representaria desenvolver uma parte 2 de algo que foi bom, mas não excelente'", lembra Cooper, de 63 anos.
Foi aí que o cantor e Bob começaram a conversar sobre "Welcome to My Nightmare", porque estava próximo do 35º aniversário. "Então dissemos: 'e se Alice tivesse outro pesadelo?'. E começamos a compor canções". Mas não é o mesmo velho "pesadelo". "No 'Nightmare' original, Alice é um garoto de 7 anos chamado Stephen. Neste, é 'como seria o pesadelo de Alice 35 anos depois?' É um pouco mais assustador, mais intenso".
Shows macabros e poucas vendas
Assustar as pessoas, de um modo ou de outro, sempre foi a base do trabalho de Alice Cooper. Nascido em Detroit como Vincent Furnier, um filho de pastor, Alice Cooper se mudou para Phoenix com sua família na adolescência. Lá ele ganhou uma bolsa de estudos como atleta em corrida cross-country e venceu um concurso dublando canções dos Beatles com um grupo chamado Earwigs.
Os músicos da banda logo aprenderam a tocar instrumentos de verdade, inspirados pelo Beatles, Rolling Stones e seus contemporâneos. "Se havia um modelo para nós, foi o Yardbirds", diz Alice Cooper, se referindo à banda que projetou Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page à fama. "Sempre sentimos que queríamos ser a versão norte-americana do Yardbirds. Era realmente a banda que ouvíamos com mais atenção".
Frank Zappa me telefonou e perguntou se era verdade [a história de que arrancou a cabeça de um frango a dentadas e bebeu seu sangue]. Eu falei que não, mas ele disse: 'não diga isso para ninguém. É uma ótima publicidade'
Alice CooperAlice Cooper descreve o grupo --que também trabalhou como The Spiders e The Nazz antes de adotar o nome Alice Cooper-- como "uma banda de garagem com muitas ideias realmente arrepiantes". A teatralidade sempre esteve presente. "Não nos importávamos em acrescentar um pouco de 'West Side Story' ali, um pouco de 'Os Diamantes São Eternos' ou temas de TV. Foram os filmes de terror e séries policiais que nos tornaram quem éramos. Não podíamos negar".
Alice Cooper --o nome foi criado durante uma sessão de brainstorm da banda, apesar da história popular de que veio de uma bruxa do século 17, canalizada durante uma sessão com um tabuleiro ouija-- chegou até Los Angeles, onde assinou com o selo Straight Records, de Frank Zappa. Ele lançou os dois primeiros álbuns do grupo, "Pretties for You" (1969) e "Easy Action" (1970), mas nenhum dos dois vendeu bem.
Enquanto isso, o grupo ganhava notoriedade graças aos shows macabros e, particularmente, a um incidente no Toronto Rock and Roll Revival de 1969, quando Cooper atirou um frango vivo para a plateia. A história foi deturpada e correu o boato de que Cooper tinha arrancado a cabeça do frango a dentadas e bebido seu sangue. "(Zappa) me telefonou e perguntou se era verdade", lembra Alice Cooper rindo. "Eu falei que não, mas ele disse: 'não diga isso para ninguém. É uma ótima publicidade'".
Mesmo assim, os álbuns continuavam não vendendo. "Nós tínhamos notoriedade, mas não éramos populares". O quinteto se mudou para Detroit em 1970 e se juntou a uma crescente cena musical que incluía Amboy Dukes, MC5, Bob Seger System e The Stooges. Lá eles se uniram a Ezrin para seu terceiro álbum, "Love It to Death" (1971), e o single de sucesso, "I'm Eighteen".
"(Ezrin) continuava dizendo: 'emburreça o som. Vocês estão tocando coisas demais'. Foi difícil, mas nós tínhamos essa canção que era poderosa, porque era simples e tinha só três acordes. Ela acabou se transformando em um hino, porque a música dizia o mesmo que as letras. Depois disso, nossa postura foi: 'agora, nós entendemos!'"
Entrada no Hall da Fama
"Love It to Death" foi o primeiro de quatro álbuns de platina consecutivos, com os sucessos de "School's Out" (1972) e "No More Mr. Nice Guy" (1973), mantendo o grupo tocando no rádio. Os concertos, com suas simulações de execuções, bonecas esquartejadas, cobras de verdade e dentes dançantes, mantinham Alice Cooper nas manchetes e ocasionalmente faziam com que a banda fosse proibida de tocar em algumas cidades.
Cooper acrescentou mais sucessos durante os altos e baixos de sua carreira solo, todos narrados --juntamente com sua batalha contra o alcoolismo-- em seu livro de memórias, "Me Alice" (1976) e "Alice Cooper: Golf Monster" (2007). Mas aquele período de 1971 a 1974 foi tão influente sobre as gerações de artistas posteriores, do Kiss ao Slipknot, que garantiu à banda o ingresso no Salão da Fama do Rock and Roll em 2010.
Foi preciso que gente como Dylan, Lennon e McCartney falassem de Alice Cooper para que passássemos a ser aceitos como uma banda. Demorou para algumas pessoas, que nos viam como uma banda nova, perceberem que tínhamos 15 álbuns de platina, 14 sucessos nas paradas e que realmente éramos um grande sucesso musicalmente
Alice Cooper"Assim que você é escolhido [para o Hall], percebe que foram seus pares que votaram em você, os sujeitos que você assistia no 'Shindig' e 'Hullabaloo' e todos esses programas", diz Alice Cooper, que vestiu um smoking manchado de sangue e levou uma cobra de verdade na cerimônia de ingresso no Salão. "Foi uma sensação legal, a de pertencer ao mesmo clube que eles".
Mas muitos de seus fãs sentiam que Cooper e companhia deveriam ter ingressado há muitos anos, uma visão que ele compartilha."Foi assim toda nossa carreira", diz ele, que vive no Arizona com sua esposa, Sheryl, com quem tem três filhos: Calico, de 30 anos, Dash, 26, e Sonora, de 17 anos.
"Mesmo quando estávamos no primeiro lugar das paradas com 'Billion Dollar Babies' (1973), ainda tínhamos dificuldade em ser aceitos, porque as pessoas ainda notavam apenas a teatralidade. Foi preciso que gente como Dylan, Lennon e McCartney falassem de Alice Cooper para que passássemos a ser aceitos como uma banda. Demorou para algumas pessoas, que nos viam como uma banda nova, perceberem que tínhamos 15 álbuns de platina, 14 sucessos nas paradas e que realmente éramos um grande sucesso musicalmente".
É quase como Lady Gaga agora, compara Cooper. "Se você tirar a teatralidade de Lady Gaga, você percebe que ela é uma excelente cantora. Ela compõe muito bem, é uma boa pianista, não deve nada a ninguém. Mas, no momento, muitas pessoas não falam de quão boa é a voz dela. Elas preferem apenas falar dela saindo da casca do ovo", diz ele, referindo-se ao episódio em que Gaga chegou ao Grammy 2011 dentro de um enorme ovo de plástico.
"Welcome 2 My Nightmare" já estava em produção antes do ingresso no Salão da Fama do Rock and Roll, mas aquele evento o ajudou a se reencontrar com os integrantes originais da banda, Bruce, Dunaway e Smith --o guitarrista Glenn Buxton morreu em 1997-- para algumas apresentações ao vivo e para sessões de gravação.
"Caiu como uma luva de novo", diz Cooper, que usou seus velhos companheiros em três das canções do álbum. "Tínhamos essa canção 'When Hell Comes Home', e eu queria que ela tivesse aquela sonoridade ao vivo, dos anos 70, e não precisei dizer isso, era a forma como eles já tocavam. Eles tinham aquele som que você não tem como orientar os outros a ter. Essa é o modo normal como tocamos. Então eu disse (ao Erzin): 'é isso! Eu não quero que soe diferente disso'". (Tradução de George El Khouri Andolfato)
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan
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