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"Estou tocando guitarra melhor e nunca cantei tão bem", diz vocalista do Bush sobre retorno da banda após quase dez anos

Gavin Rossdale durante show do Bush no The Joint do Hard Rock Hotel & Casino, em Las Vegas (29/09/2011) - Getty Images
Gavin Rossdale durante show do Bush no The Joint do Hard Rock Hotel & Casino, em Las Vegas (29/09/2011) Imagem: Getty Images

Gary Graff

The New York Times Sindycate

31/01/2012 06h00

O Bush está de volta, algo que o cantor e fundador da banda, Gavin Rossdale, considerava inevitável. Mas foi um retorno nada fácil. O grupo de hard rock, que vendeu mais de 10 milhões de seus primeiros quatro álbuns, se separou em 2002, deixando um legado de dez anos e sucessos como "Everything Zen" (1994), "Glycerine" (1995) e "The Chemicals Between Us" (1999). 
 
Rossdale então resolveu se virar sozinho, formando o Institute e lançando um álbum solo em 2008. Mas ele nunca se afastou do Bush e nem o desejo de estar na banda, motivo que ele atribui ao lançamento do disco "The Sea of Memories", que saiu em setembro do ano passado, marcando o primeiro álbum da banda em dez anos.
 
"Durante o tempo todo em que estava fazendo outras coisas, eu pensava: 'Cara, por que não é o Bush?'. Eu me sentia como se estivesse numa luta com um dos braços atado, ou subindo uma montanha com um saco de pedras nas costas. Agora estou satisfeito porque recuperei minha voz. Estar no Bush, nesta banda na qual basicamente nasci, é como vestir uma armadura", diz o britânico de 46 anos, que atualmente divide seu tempo entre Londres e a Califórnia com sua esposa, a cantora Gwen Stefani (No Doubt), e seus dois filhos pequenos.
 

A tentativa de retorno do Bush
Nesse período, Rossdale também trabalhou com Santana em um cover de 2010 de "Get It On (Bang a Gong)" do T.Rex; com o Blue Man Group em "The Current" (2003), que esteve na trilha sonora de "O Exterminador do Futuro 3 – A Rebelião das Máquinas" (2003), e com a banda finlandesa Apocalyptica em "End of Me" (2010). E ele nota que seus outros trabalhos se saíram bem. Seu álbum solo, "Wanderlust", vendeu 1,6 milhão de downloads e gerou o hit "Love Remains the Same". Mesmo assim, como artista solo ele não chegou perto do impacto do Bush.
 
Assim que ele decidiu reunir a banda, Rossdale --filho de um médico que ficou com seu pai quando este se divorciou da mãe do cantor quando ele tinha 11 anos-- contatou o baterista original Robin Goodridge e o guitarrista Chris Traynor, que substituiu o cofundador Nigel Pulsford em 2002. O baixista Corey Britz ocupou o lugar do músico original, Dave Parsons.
 
Rossdale até entrou em contato com Pulsford para que ele participasse do grupo junto com Traynor, mas após longas discussões ele decidiu que "não era para ser". "Esperei pacientemente, porque não há nada melhor do que voltar e encontrar todos os integrantes originais. Nigel decidiu que não queria participar, mas eu ficava pensando que ele voltaria com certeza", ele lembra.
 
Mas ele não voltou. "Ele não queria viajar. E Dave não quis assumir nenhum compromisso. Robin estava realmente a fim e tínhamos o Chris, então decidi: 'Tudo bem, vamos fazer isso. Da forma como pudermos, vamos fazer isto' E isso nos trouxe até este novo disco".
 

A volta por cima com o novo álbum
Rossdale queria que o novo Bush lançasse seu primeiro álbum em 2010, e quase conseguiu. O grupo gravou um disco chamado "Everything Always Now" com o produtor Bob Rock, com 19 faixas que incluíam "Afterlife", que foi lançada como single. Diversas das demais canções foram compostas com Dave Stewart, ex-Eurythmics.
 
Mas as coisas começaram a dar errado à medida que a data prevista para o lançamento do álbum pela Interscope Records se aproximava. "Todas as pessoas que trabalhavam com a gente na gravadora foram demitidas. Era um navio afundando, a pior forma de lançar um álbum novo no planeta. Sabíamos que não estávamos no lugar certo, então partimos".
 
Mas deixar uma grande gravadora leva tempo, "quatro ou cinco meses em nosso caso". Rossadale, que também trouxe novos empresários para cuidarem da banda, quis lidar criativamente com a espera. "Pensei: 'A melhor forma de ataque é estar no estúdio. Será que posso melhorar ainda mais o álbum?' Então voltei ao estúdio e compus mais cinco canções novas e continuei trabalhando com as outras faixas que queria no disco. Foi um processo criativo saudável e acabamos com um álbum ainda melhor".
 
As pessoas ouvirão os resultados desse processo na versão de "Afterlife", que aparece no álbum e é notadamente diferente da lançada em single em 2010. "Achei que podia deixá-la um pouco mais pesada e dar uma espécie de acabamento do Bush. Quando ouvir a música no álbum, em comparação ao single, você verá a diferença".
 

A prova final e o sucesso do novo disco
Esse "acabamento do Bush", ele diz, foi aplicado em boa parte do material em "The Sea of Memories". "Um dos erros que cometi no passado foi não ouvir minhas músicas o suficiente ao gravar um novo álbum", reconhece Rossdale. "Eu fazia música quase agressivamente para satisfazer as pessoas que não gostavam de mim, para tentar conquistá-las e provar que posso ser descolado ou algo assim", ele revela.
 
"Você olha equivocadamente à frente e esquece de olhar o que está por trás de você ou de onde você veio. É complicado, porque você quer que a banda evolua, mas também não quer se repetir. Eu estava ciente disso. Meu vocabulário musical está melhorando o tempo todo, eu estou tocando guitarra melhor e nunca cantei tão bem, e quero que o álbum reflita isso".
 
"Ao mesmo tempo", conclui Rossdale, "acho que o que devo fazer é abraçar as pessoas que sei que gostam de mim e realmente apreciam o Bush. É nisso que me concentro. Meu público passou a ser minha musa". Os fãs do Bush parecem aprecianr o esforço: "The Sea of Memories", lançado pelo selo próprio da banda, Zuma Rocks Records, estreou no 18º lugar na parada Billboard 200, enquanto o single "The Sound of Winter" está no 4º lugar na parada alternativa e no Top 10 da parada mainstream.
 
É um início sólido, um que Rossdale sente justificar a decisão de ressuscitar a banda. "Enquanto o Bush estava desativado, eu simplesmente me sentia incompleto e não realizado, e agora o Bush me completa de novo. Eu me sinto em casa e plenamente funcional e inteiro. Ainda é preciso lutar para você conseguir ser ouvido lá fora, entre tanta coisa", diz Rossdale. "Você não sabe se vencerá a luta, mas ao menos você conta com suas melhores armas". (Tradução: George El Khouri Andolfato)