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"Sucesso do novo disco superou todos nossos sonhos mais loucos", comemora guitarrista do Black Keys

Dan Auerbach e Patrick Carney, do Black Keys, recebem prêmio de melhor álbum de música alternativa por "Brothers" no Grammy 2011 (13/02/2011) - AP
Dan Auerbach e Patrick Carney, do Black Keys, recebem prêmio de melhor álbum de música alternativa por "Brothers" no Grammy 2011 (13/02/2011) Imagem: AP

Gary Graff*

The New York Times Sindycate

07/03/2012 06h00

A dupla que forma o Black Keys está podendo! Ao longo de dez anos e sete álbuns, os amigos de Akron, em Ohio, passaram de banda de rock de garagem e das apresentações em casas noturnas para uma série de shows em arenas lotadas. Seu álbum "Brothers" (2010) estreou no terceiro lugar nas paradas, conquistou três Grammys e lançou os hits "Tighten Up" e "Howlin' for You".
 
Isso só aumentou a expectativa por "El Camino", lançado nos últimos dias de 2011 e que estreou em 2º lugar, ganhou disco de ouro no primeiro mês e emplacou outro single em primeiro lugar: "Lonely Boy". Tudo isso está muito além de qualquer coisa que o cantor e guitarrista Dan Auerbach e o baterista Patrick Carney consideravam possível quando começaram a tocar juntos, como colegas de colégio.
 
"Superou todos nossos sonhos mais loucos. É até difícil de conceber", diz Auerbach, de 32 anos, falando por telefone em Londres, em meio à turnê europeia da dupla. "Esse tipo de coisa simplesmente não acontece, especialmente para pessoas como nós. Geralmente quando você atinge um sucesso assim, você precisa ter um certo visual. Passa a se tratar menos da música e mais sobre outras coisas [visual, atitude etc]. Mas continuamos fazendo nossas coisas, de modo lento, mas certo, e chegamos aqui".
 
Particularmente animador, diz Auerbach, é que os fãs que descobriram "Brothers" e "El Camino" também parecem estar descobrindo a música que precedeu esses álbuns. "As pessoas com certeza estão pegando os álbuns anteriores. As vendas de nossos discos mais velhos saltaram um pouco. E estamos tocando canções de cada álbum em nossos shows, as pessoas conhecem todas elas", ele conta.
A improvável reunião
Auerbach e Carney, de 31 anos, se conheceram quando eram crianças, mas só fizeram amizade no colegial. Auerbach era atleta, o capitão do time de futebol do Firestone High School, mas era apaixonado por blues e música de raiz por causa de uma coleção de discos de seu pai. Alto e de óculos, Carney se autodescrevia como "esquisitão", fazendo o papel de pária de bom grado. 
 

Esse tipo de coisa simplesmente não acontece, especialmente para pessoas como nós. Geralmente quando você atinge um sucesso assim, você precisa ter um certo visual. Passa a se tratar menos da música e mais sobre outras coisas. Mas continuamos fazendo nossas coisas, de modo lento, mas certo, e chegamos aqui

Dan Auerbach
Eles não eram pessoas que alguém esperaria que andassem juntas, mas acabaram reunidos por seus irmãos mais novos, que eram amigos. E na primeira vez que tocaram juntos, algo mágico aconteceu. "Talvez por não conhecermos um ao outro muito bem", lembra Auerbach, "mas algo clicou imediatamente".
 
As influências de Carney eram muito mais experimentais e de vanguarda --como Captain Beefheart, Pavement e os conterrâneos de Akron, o Devo-- mas os dois encontraram uma conexão no formato minimalista a dois que escolheram, de apenas guitarra e bateria, que dava a cada um deles espaço para tocar, mas que também servia como um elemento para tornar o som deles único.
 
Antes de Auerbach desistir da faculdade, ele foi exposto a R.L. Burnside, Junior Kimbrough e outros artistas sulistas de raiz. Ele tocou primeiro em uma banda chamada Barnburners, mas em 2001 ele e Carney passaram a se concentrar no The Black Keys. No ano seguinte eles lançaram "The Big Come Up", um álbum desafiadoramente de baixa fidelidade, gravado em um gravador de oito canais no porão de Carney.
 
Esse primeiro álbum não vendeu bem, mas conquistou um público cult e chamou a atenção da imprensa, rendendo para The Black Keys um contrato com a Fat Possum Records para seus dois álbuns seguintes, "Thickfreakness" (2003) e "Rubber Factory" (2004). Quando este último entrou nas paradas, a Nonesuch Records contratou a banda para lançar "Magic Potion" (2006).
 

Com ajuda de Danger Mouse
A virada veio com "Attack and Release" (2008), no qual o grupo trabalhou com o produtor Brian Burton, também conhecido como Danger Mouse e vencedor do Grammy, que adicionou sutilmente novas texturas sonoras, incluindo teclados, vocalistas adicionais e músicos convidados, ao som espartano da dupla.
 
The Black Keys na verdade começou a trabalhar com Danger Mouse no que se tornou o projeto "Blackroc" (2009) misturando rap e rock, diz Auerbach, antes de oficialmente trazê-lo para produzir "Attack and Release". "Aquele projeto estava meio que tedioso, e chegou a um ponto em que tivemos que gravar nossas próprias coisas", ele recorda.
 
"Brian [Burton] disse: 'Se vocês me convidarem para produzir, eu topo'. Se tivéssemos recebido um telefonema frio, nós poderíamos ter hesitado, mas já estávamos trabalhando com ele há dois meses e meio e o conhecíamos musicalmente, como ele trabalha e coisas assim, então foi fácil dizer sim", conta Auerbach.
 
Os fãs podem ter tido algumas dúvidas a respeito da visão mais expansiva de Danger Mouse para o som do grupo, mas a dupla não tinha nenhum problema com aquilo. "Era hora de mudar um pouco", diz Auerbach. "Realmente queríamos usar mais instrumentos e diversificar, como nunca fizemos antes. Esse foi mais um motivo para trazer Brian a bordo. Nós apenas queríamos entrar no estúdio e começar do zero".
 
A experiência valeu a pena: "Attack and Release" foi o álbum de maior sucesso do Black Keys até aquela altura, estreando em 14º lugar nas paradas e entrando para a lista da revista "Rolling Stone" dos 100 melhores álbuns do ano, com "I Got Mine" figurando no 23º lugar da lista de melhores canções. Esse álbum criou um modelo para "Brothers" e "El Camino", que Danger Mouse também co-produziu.
 

Andamento acelerado de "El Camino"
Após o sucesso de "Brothers", que foi empurrado pela presença de canções em trailers de cinema e propagandas, "El Camino" poderia ser um empreendimento cheio de pressão. Auerbach e Carney pareciam cientes da possibilidade e até mesmo cancelaram algumas apresentações na Europa para voltarem mais rapidamente ao estúdio, que Auerbach diz ser "o local onde mais gostamos de estar".
 
"Nós queríamos apenas gravar um álbum despojado, não cheio de floreios, tudo meio que simples na maior parte, com órgão, baixo, bateria, guitarra e vozes". A forma como abordaram o álbum também foi moldada pela música que estavam ouvindo na época: Johnny Burnette Trio, Creedence Clearwater Revival, Jonathan Richman & the Modern Lovers e Sweet, entre outros.
 
"Ouvíamos coisas de diversas épocas, mas todas elas tinham o tema comum da simplicidade em termos de arranjo instrumental, que é o que queríamos. Queríamos canções e melodias que tivessem valor próprio, sem muito rebuscamento em torno delas", ele conta.
 
As sessões de gravação, a primeira vez em que o Keys trabalhou no Easy Eye Studio de Auerbach, em Nashville, foram rápidas. "Nós já chegamos gravando", diz Auerbach, que também tem gravado outras bandas no estúdio e produziu o próximo álbum de Dr. John, "Locked Down". "Eu tinha os acordes para 'Dead and Gone' e nós começamos a partir daí. Dois dias depois nós já tínhamos a canção, e continuamos em frente, sem parar".
 
Quando estavam na metade do álbum, ele conta, eles olharam para todas as canções que tinham e viram que estavam em andamento acelerado. "Então meio que tomamos uma decisão àquela altura: 'vamos tornar este álbum mais variado? Nós precisamos de mais faixas lentas e médias? Ou vamos seguir em frente assim mesmo?'. Decidimos manter todas as canções com andamento acelerado, era como estávamos nos sentindo".
 
Com "El Camino" lançado e fazendo sucesso, Auerbach e Carney já estão olhando à frente. A atual turnê tomará o tempo deles neste ano, com shows na América do Norte, Europa e Austrália, mas a dupla já tem seu próximo álbum agendado, diz Auerbach. "Nós não sabemos quando ele sairá, mas queremos tentar entrar no estúdio ainda neste ano para começarmos a trabalhar", adianta.
 
Seu som será despojado como o de "El Camino", algo mais elaborado ou algo ainda mais básico? "Não saberemos até chegarmos lá. Nós não ensaiamos juntos na estrada. Estamos sempre tentando compor e manter as ideias fluindo, mas o local onde nos sentimos mais à vontade é no estúdio. Mal posso esperar para voltar para lá". (Tradução: George El Khouri Andolfato)
 
*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan