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Dance music eletrônica invade trilhas sonoras de Hollywood

Skrillex em apresentação no festival Lolapalooza, em São Paulo, em abril de 2012 - Junior Lago/UOL
Skrillex em apresentação no festival Lolapalooza, em São Paulo, em abril de 2012 Imagem: Junior Lago/UOL

Stacey Anderson

12/09/2012 07h00

Antes marginalizada como uma importação europeia, a dance music eletrônica se transformou no momento na tendência dominante no pop americano. Suas batidas sintéticas animadas e linhas de baixo pulsantes são inevitáveis, e seus principais DJs atraem lotações esgotadas em raves ao ar livre como o Electric Daisy Carnival e até mesmo em redutos do rock como Lollapalooza e Coachella, ganhando milhares, quando não milhões, de dólares por uma única apresentação.

Agora, vários de seus astros estão voltando sua atenção para o que pode se tornar seu melhor pagamento: Hollywood.

Skrillex, um DJ dubstep que ganhou três prêmios Grammy em fevereiro e que a revista “Forbes” estimou ter ganhado US$ 15 milhões no ano passado, compôs uma trilha original para o filme “Spring Breakers”, do diretor Harmony Korine, uma comédia de férias estrelada por James Franco como um vendedor de drogas com cabelo com tranças, ainda sem data de lançamento. Skrillex, 24 anos, também gravou material para uma cena de um filme de animação da Disney, “Detona Ralph”, que conta com John C. Reilly como a voz de um vilão de videogame arrependido, que será lançado em 2 de novembro nos Estados Unidos.

Igualmente, Anthony Gonzalez, o líder da banda francesa de pop eletrônico mais gentil, mais orquestrado, M83, e criador do álbum que a projetou em 2011, “Hurry Up, We’re Dreaming”, está trabalhando na trilha de “Oblivion”. O filme, uma aventura de ficção científica do diretor Joseph Kosinski e estrelado por Tom Cruise, deverá ser lançado no ano que vem.

Outro dos líderes da dance music eletrônica, Kaskade se encontrou com produtores de cinema durante sua turnê de verão, mas ainda não fechou nenhum contrato. Sem negar o retorno financeiro potencial, Kaskade (cujo nome real é Ryan Raddon) disse que parte de sua motivação para se aventurar em trilhas sonoras é a credibilidade artística.

“Para mim, trata-se de longevidade e de fazer algo novo, diferente, desafiador”, ele disse. “Eu acho que ainda há algumas pessoas que duvidam da musicalidade da música eletrônica, tipo: ‘O que é isso? O que eles estão fazendo?’ Mas após fazer a trilha de um filme, ninguém mais vai poder dizer algo a respeito.”

Um artista de dance eletrônica como Skrillex está expandindo as frequências e usando nova instrumentação que é bastante intensa, de forma que sua música tem o potencial de conduzir uma cena de ação moderna de modo mais eficaz do que uma orquestra tradicional de Hollywood

John Houlihan, produtor musical

Para uma indústria cinematográfica ávida em explorar os fãs em grande parte jovens da dance music eletrônica, o incentivo parece óbvio. Mas John Houlihan, um supervisor e produtor musical que trabalhou em mais de 60 trilhas sonoras, incluindo os três filmes de “Austin Powers”, “Dia de Treinamento” e o futuro thriller “Looper – Assassinos do Futuro”, com Bruce Willis, vê uma ligação criativa por trás.

“Eu acho que é o dia deles ao sol, e Hollywood é bem voltada para as modas”, ele disse. “Um artista de dance eletrônica como Skrillex está expandindo as frequências e usando nova instrumentação que é bastante intensa, de forma que sua música tem o potencial de conduzir uma cena de ação moderna de modo mais eficaz do que uma orquestra tradicional de Hollywood.”

Os músicos que fazem música eletrônica fazem trilhas há anos. Exemplos recentes incluem os Chemical Brothers em “Hanna” em 2011, o Daft Punk em “Tron: O Legado” em 2010 (também dirigido por Kosinski) e Trent Reznor e Atticus Ross em “A Rede Social”, pelo qual ganharam um Oscar. Mas artistas como Skrillex, Kaskade e M83 estão mais na moda no momento do que seus antecessores durante seus projetos. Ao incluí-los, os filmes ganham uma infusão rápida de relevância jovem, ao mesmo tempo em que os músicos cortejam um público maior e recebem uma remuneração significativa.

  • Divulgação

    Skrillex compôs trilhas para filmes como “Spring Breakers” (foto) e “Detona Ralph”.

Skrillex, cujo nome real é Sonny Moore, compôs sua trilha para “Spring Breakers” enquanto estava em turnê, usando seus laptops, da mesma forma que faz com seus álbuns. Ele disse que assistiu algumas sequências do filme antes de criar a trilha. Sua reação inicial ao filme foi “ele tem muita tensão, de modo que há muito disso misturado à melodia”, disse. Ele usou guitarras ao vivo e vocais interpretados por sua namorada, a cantora pop britânica Ellie Goulding, e descreveu a trilha sonora – que ele se recusou a tocar porque ainda não está concluída – como uma versão destilada de sua dance music, que tirou todas as partes animadas, enfatizando a melodia, “deixando as partes bonitas, deixando as partes tristes”.

Em “Detona Ralph” ele está em território mais familiar. “Esse projeto tem um som bem mais típico do Skrillex”, ele disse. “Eu odeio dizer isso, mas com certeza é mais pista de dança.”

Skrillex, um entrevistado hesitante que se preocupava em voz alta se estava sendo inarticulado, disse que compor para cinema o deixou mais humilde. Ele repetiu várias vezes sua crença de que a música estava lá para apoiar a ação na tela, não para passar por cima dela. “A música e a imagem trabalham juntas como uma peça narrativa”, ele disse.

Houlihan notou que os estúdios de cinema e televisão já pagam alto por faixas eletrônicas. Ele disse que artistas proeminentes de dance eletrônica podem receber de US$ 40 mil a US$ 50 mil pelo licenciamento de uma canção para um único uso em um programa de televisão, e de US$ 150 mil a US$ 250 mil por uma canção em um filme. “Skrillex pode ganhar no momento tanto quanto Rihanna, porque ele é único no que faz”, disse Houlihan.

Você precisa ter talento musical e habilidade de composição, mas também o entendimento de um cineasta e entender o que está acontecendo nos filmes e as emoções e a intenção da ação

John Houlihan, produtor musical

Mas fazer a trilha de um filme apresenta novos desafios para os artistas eletrônicos, que geralmente compõem e se apresentam sozinhos com seus computadores e sistemas de som. “Você precisa ter não apenas talento musical e habilidade de composição, mas também precisa ter o entendimento de um cineasta e entender o que está acontecendo nos filmes e as emoções e a intenção da ação”, disse Houlihan. “Essa é uma barreira bem alta para superar e muitos artistas simplesmente não têm a experiência para isso.”

Houlihan acrescentou uma preocupação maior, sugerindo que a dance music eletrônica pode ser apenas uma moda passageira. “Eu não acho que continuará para sempre”, ele disse. “A música dos filmes tende a seguir as tendências musicais, e o gosto inconstante do público vai abandonar o dubstep em algum momento no ano que vem ou mais ou menos isso.”

As expectativas de Skrillex parecem moderadas. “Harmony me deixou fazer o que eu quisesse”, ele disse. “Ele queria meus serviços como artista. Eu não faria filmes apenas por fazer. Mas se fizesse sentido, eu certamente faria de novo.”

Ele citou as trilhas sonoras de “2001: Uma Odisseia no Espaço” e do filme de ação “Spawn – O Soldado do Inferno” (1997) como influências no seu trabalho. “Eu acho que uma trilha sonora bem-sucedida é quando tudo se parece com uma aliança. Você nota a trilha sonora, mas você sente como se tudo fosse uma coisa só.”

Korine disse sobre Skrillex e “Spring Breakers”: “Ele é da geração e isso está nele. A cultura e essa ideia, a violência, a emoção, a agressão e a beleza –tudo está nele e na música. Foi bastante natural e incrível vê-lo explorar isso com os personagens e a história, o tipo de cultura que isso representa”.

Tradutor: George El Khouri Andolfato