Após sete anos, Wallflowers volta com disco novo e espera conquistar nova geração de fãs
Jakob Dylan tinha certeza de que seu grupo, o Wallflowers, não ia se separar quando seus integrantes decidiram dar um tempo depois de "Rebel, Sweetheart" (2005), mas a impressão era a de que ninguém estava com muita pressa de voltar a tocar. Agora, porém, com o lançamento do sexto álbum, "Glad All Over", ele pode encarar secadores de plantão e fofoqueiros e reafirmar sua certeza.
"Conheço o pessoal muito bem, sabia que não ia acontecer", diz o caçula dos quatro filhos do primeiro casamento de Bob Dylan, falando por telefone de sua casa em Los Angeles. "A nossa parada foi um lance bom, saudável, só para dar uma distanciada e confirmar o fato de que a nossa parceria funciona bem, apesar de trabalharmos juntos há tanto tempo. Era só uma questão de tempo", ele defende.
Mesmo assim, Dylan reconhece que a passagem do tempo também poderia dificultar o processo criativo. "A gente estava tentando há um ano e meio", confirma ele, rindo. "Foi difícil conciliar a agenda de todos. Todo mundo estava a fim, mas o problema é que você começa a aceitar outros compromissos quando faz essas pausas. Arruma coisa para fazer e, quando vê, está superocupado. E foi assim, só rolava papo por telefone e um jantar aqui e ali. Só conseguimos fazer música mesmo em janeiro deste ano".
A essa altura, segundo o tecladista Rami Jaffee, o Wallflowers estava pronto para trabalhar junto novamente e se reuniu em Nashville para gravar "Glad All Over" --que, em outubro, entrou em 48º lugar na parada da Billboard de discos mais vendidos-- com o produtor Jay Joyce. "Todo mundo estava doido para se reunir e se divertir", conta Jaffee em outra entrevista. "A pausa acabou fazendo bem, foi matadora. De certa forma, tenho a impressão de que esse é o nosso álbum de estreia".
Do anonimato ao topo
O Wallflowers surgiu em 1989 e começou tocando nos clubes noturnos de Los Angeles, por dois anos, antes de assinar com a Virgin Records. Com Dylan relutante em explorar seu sobrenome famoso --"Eu não queria ser o centro das atenções", ele justifica, "e sabia que ia ser meio complicado"-- o primeiro álbum recebeu críticas favoráveis em 1992, mas não emplacou nas paradas e passou em grande parte despercebido.
Se fosse para voltar, teria que ser com tudo, uma coisa espontânea. Tivemos que voltar às nossas referências, ouvir de novo o rock que curtíamos. Não estava apostando muito que a coisa ia funcionar, para falar a verdade, mas desde o momento em que a gente se reuniu para tocar foi bom, senti que ainda tinha tudo a ver
Jakob DylanQuatro anos mais tarde, porém, depois de mudar de gravadora (Interscope) e de produtor (T-Bone Burnett), "Bringing Down the Horse" (1996) recebeu quatro discos de platina. Dele saíram quatro sucessos, incluindo "One Headlight", e resultou em dois prêmios Grammy. "A gente foi do anonimato ao topo muito rápido", relembra Dylan, de 42 anos. "Ninguém está preparado para uma coisa dessas. Acho que a gente lidou bem, mas não dá para negar que é uma viagem, né?"
Só que o grupo nunca mais conseguiu repetir esse sucesso e "(Breach)" (2000) estreou em 13º na parada, não conseguindo emplacar nenhum single, apesar de ter feito cover de algumas canções para trilhas sonoras --entre eles, "Heroes" de David Bowie para "Godzilla" (1998), "I Started a Joke" dos Bee Gees para "Zoolander" (2001) e "Into the Mystic" de Van Morrison para "American Pie - O Casamento" (2003).
Quando "Rebel, Sweetheart" ficou pronto, porém, seus integrantes estavam esgotados, querendo coisas novas. "Em termos criativos, foi claustrofóbico", admite Dylan. Jaffee, de 43 anos, concorda. "As coisas não estavam lá essa maravilha", ele confessa. "Ninguém se tocou de que a gente estava junto há bastante tempo quando saiu 'Bringing Down the Horse'. O povo falava: 'Poxa, o grupo existe só há seis anos', mas já era coisa de 12 ou 13 anos. Vários fatores levaram a banda a dar uma parada. O problema é que ela se estendeu muito".
Durante o intervalo, Dylan gravou dois álbuns solo. Jaffee continuou tocando como músico de apoio e acabou se tornando integrante adjunto do Foo Fighters. Mesmo assim, o vocalista não esqueceu o Wallflowers --e não só começou a ajeitar as coisas para reunir o grupo, mas também a planejar o que fazer quando chegasse a hora certa.
"Se fosse para voltar, teria que ser com tudo", ele explica, "tinha que ser uma coisa espontânea, cheia de alegria. Tivemos que voltar às nossas referências, ouvir de novo o rock que curtíamos quando começou", conta Dylan. "Não estava apostando muito que a coisa ia funcionar, para falar a verdade", confessa, "mas desde o momento em que a gente se reuniu para tocar, senti que ainda tinha tudo a ver".
Clipe de "Heroes", com The Wallflowers
Reencontrando o ritmo
Renovado pelos novos integrantes --o baterista Jack Irons, que já trabalhou com o Pearl Jam e o Red Hot Chili Peppers; e o guitarrista Stuart Mathis-- Dylan, Jaffee e o baixista Greg Richling foram para Nashville, onde Dylan tomou outra decisão corajosa: em vez de compor todas as músicas sozinho, optou por "não assumir a responsabilidade de chegar com 15 composições na hora de se reunir", preferindo dar espaço para os outros integrantes desenvolverem suas ideias e aí, sim, colocar a letra e dar sugestões.
"A gente só queria se reunir e criar música", explica Dylan. "Fazer o basicão, rock and roll simples, não se enrolar com estrutura de acorde e detalhes técnicos. Naquele momento era só reencontrar o ritmo e trabalhar em três acordes", ele conta. Segundo Jaffee, os outros integrantes ficaram lisonjeados com a nova abertura. "Todo mundo tinha tanta coisa para oferecer", o tecladista conta. "A gente confia um no outro e queria que o Jake [baterista] sentisse o mesmo, queria mostrar para ele que estava certo em apostar no grupo".
Difícil foi se manter imune às influências exteriores, como a gravadora, durante o processo criativo. "Eles ficavam querendo ouvir as músicas", recorda Dylan, "e eu dizia: 'Não tenho nada para vocês ouvirem'. Sei que um disco custa caro e é claro que eles queriam saber onde estavam investindo, mas expliquei que sabia o que estava fazendo, assim como a banda, e pedi um pouco de paciência", ele conta.
"Foi aí que me toquei de que esperava muita fé e confiança de todo mundo", prossegue. "Hoje o pessoal está aliviado, mas, pensando bem, na época foi um pânico geral", lembra Dylan.
Os integrantes Jakob Dylan, Greg Richling, Jack Irons, Stuart Mathis e Rami Jaffee
Participação de Mick Jones, do Clash
Satisfeito de ver como tudo estava se encaminhando, Dylan ficou ainda mais animado por contar com Mick Jones do Clash, seu ídolo, em duas faixas, incluindo a primeira música de trabalho, "Reboot the Mission", que fala da retomada.
"Seria muita sacanagem minha dizer que "Reboot the Mission" não parece o som do Clash", Dylan afirma. "Foi de propósito. Eu até menciono o Joe Strummer na letra. Aí a gente pensou: 'Por que então não fazer a coisa bem feita e convidar o Mick para participar?'"
"A gente já se conhecia e tinha trocado uma ideias", continua, "e vi quando ele se apresentou em Los Angeles com o Big Audio Dynamite. Quer dizer, a coisa estava bem recente, fresca na minha cabeça. Ele falou de fazer alguma coisa juntos, aí eu liguei para ver se rolava".
O (bom) resultado dessas sessões é que, pela primeira vez, o Wallflowers gravou mais músicas do que precisava, o que significa que já tem material para o próximo álbum --e o que significa também que, muito provavelmente, a banda não vai passar outros sete anos separada.
"A gente quer trabalhar direto, de quatro a oito anos, fazendo álbum e turnê, retomando a coisa aos poucos", Jaffee explica. "O plano é conquistar uma nova geração de fãs para crescer com o nosso trabalho".
Dylan não vê mais nenhum sinal da fadiga que levou o grupo a parar. "Não tem nada de desgaste, não", ele afirma. "Cansaço, tudo bem, é até compreensível, mas a energia está de volta e, se fosse para montar outro disco semana que vem, todo mundo toparia".
"Sinto que o pessoal está superanimado, no gás mesmo", Dylan conclui. "É um alívio muito grande saber que a banda tinha cacife e apostava num álbum diferente, numa coisa que não tinha feito ainda. É muito animador".
*Gary Graff é jornalista freelancer em Beverly Hills, Michigan
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