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"Você tem que pôr a casa em ordem e foi o que eu fiz", diz Richie Sambora após reabilitação

2012 - Richie Sambora, guitarrista do Bon Jovi, em divulgação de seu disco solo - James Minchin III/NYT
2012 - Richie Sambora, guitarrista do Bon Jovi, em divulgação de seu disco solo Imagem: James Minchin III/NYT

Gary Graff

The New York Times Sindycate

18/01/2013 05h00

Angústia, catarse, um pouco de arrependimento e uma determinação triunfante. Tudo isso foi inspiração para o terceiro álbum solo de Richie Sambora, "Aftermath of the Lowdown", embora um novo trabalho fosse a última coisa que o guitarrista do Bon Jovi tivesse em mente em julho de 2011.

Naquela época, a banda tinha encerrado a turnê mundial do disco "The Circle" (2009), que tinha durado mais de um ano e meio, e passado por 52 países. Sambora se ausentou por dois meses e perdeu parte da excursão por causa de uma temporada na reabilitação para tentar lidar com o alcoolismo e o vício em analgésicos.

Você tem que pôr a casa em ordem e foi o que eu fiz. Tive todos os meios para superar, mas, no fim das contas a escolha foi só minha e pretendo andar na linha daqui em diante

Richie Sambora

"Era de se pensar que eu estivesse exausto", conta o músico de 53 anos, "mas eu só queria compor. As músicas começaram a brotar, foi um álbum muito liberador", prossegue. "As canções vieram rápido, como se estivesse analisando minha vida. Depois de umas quatro ou cinco, já estava com jeitão de disco, então reuni uma galera para entrar no estúdio e ver o que acontecia. Acho que é um dos melhores projetos da minha carreira".

O que não é pouca coisa vindo do braço direito de Jon Bon Jovi, integrante do Hall da Fama dos Compositores que ajudou a criar sucessos como "Livin' on a Prayer" (1986), "Wanted Dead or Alive" (1987), "Bad Medicine" (1988) e "I'll Be There for You" (1989). Os discos do Bon Jovi já venderam mais de 130 milhões de cópias e o 12º, "What About Now", deve ser lançado em março.

"O álbum ficou incrível porque não havia limites", contou Sambora por telefone de Nova York no dia em que o grupo se apresentou no show beneficente "12-12-12", em prol das vítimas da tempestade Sandy. "Juntei um grupo de músicos excepcionais e o resultado foram solos instrumentais longos, iradíssimos, só coisa que o pessoal estava a fim de tocar."

A primeira música que Sambora compôs foi a reveladora "Seven Years Gone", que aborda com franqueza os dois períodos de desintoxicação por que passou, em 2007 e 2011. "A questão óbvia que se destacou para mim foi a vulnerabilidade", explica o guitarrista. "Até que ponto você quer mostrá-la? Quanto você quer revelar?", ele questiona-se.

Richie sabe a resposta: "A esta altura da minha vida não tenho muita escolha. Eu sou o cara que caiu na frente do público, levantou, caiu de novo e levantou mais uma vez", prossegue. "Não há opção exceto ser autêntico e sincero. Esse era o meu objetivo e, sendo assim, você tem que falar a verdade. Não dá para enrolar, é preciso contar como foi."

Por outro lado, ele acredita que muita gente se identifica com suas músicas, principalmente com as letras. "Porque, afinal, quem não teve seus altos e baixos? Não é um disco deprimente, de jeito nenhum, mas não sou o único a ter esse tipo de problema, então o pessoal se identifica. Assim eu sinto que estou compartilhando alguma coisa".


Primeira aula --de verdade-- de guitarra

O novo disco revela não só uma evolução espiritual e física, mas também musical. Ele até teve sua primeira aula formal de guitarra com Laurence Juber, ex-Wings. "Aprendi a tocar de ouvido, sozinho e percebi que tinha uns macetes que eu não conhecia e queira pegar", explica. "Tive a sensação de voltar a ser garoto, de voltar à escola ou coisa parecida. Encaro esse disco basicamente como um recomeço."

Sambora começou compondo com o coprodutor/tecladista Luke Ebbin, mas "Weathering the Storm" lhe ofereceu a chance de trabalhar com o letrista de Elton John, Bernie Taupin, o que Sambora descreve como "fantástico e assustador ao mesmo tempo". "Bernie me perguntou o tema do disco e contei um pouco das músicas. Dias depois, ele me mandou um e-mail com o título 'Kit Inicial Bernie Taupin', com algumas letras. O cara entrega a letra pronta", continua ele.

"Nunca compus assim na vida. Sempre fiz parte de um grupo, todo mundo fazendo tudo junto, mas depois de uma hora e meia, acabei de gravar o material." O letrista também lhe deu carta branca para trocar ou tirar o que quisesse. "É claro que deixei tudo como estava. Alguém imagina mexer numa letra feita por Bernie Taupin?"


"Tive todos os meios para superar"

A faixa "I'll Always Walk Beside You" foi originalmente composta para a filha do músico, mas ganhou um novo significado depois do Sandy, quando ele se uniu à Cruz Vermelha dos EUA para arrecadar fundos para as vítimas com uma nova versão tendo Alicia Keys ao piano.

"Achei que a letra caía como uma luva para o estado de Nova Jersey, principalmente coisas do tipo 'I will always walk beside you, I'm going to come and help' ('caminharei sempre ao seu lado, virei ajudar')", diz o músico, que hospedou a mãe em sua casa, em Los Angeles, enquanto a dela, em Point Pleasant, estava sendo reconstruída. "De repente, era o que eu queria dizer para o meu estado. A letra ganhou outra dimensão."

A participação de Alicia foi mais ou menos uma troca, já que Sambora tocou no álbum da cantora, "Girl on Fire". "Eu estava gravando em Nova York, no estúdio da Alicia", ele conta. "Ela chegou um dia e disse: 'Você me daria a honra de tocar no meu álbum?'. É claro que aceitei na hora, com o maior prazer. Sou superfã dela, além de amigo. É um ser humano maravilhoso. Aí ela disse que tocaria numa faixa minha também, que por acaso foi essa aí."

Sambora vai ter que deixar o trabalho solo de lado quando o Bon Jovi começar outra turnê mundial, em fevereiro, para promover "What About Now", mas desde já "Aftermath of the Lowdown" o deixou inspirado para continuar compondo. "Sempre levo minha guitarra comigo", confessa, "porque sei que a coisa surge quando você está por aí, observando e sentindo a cultura dos lugares que visita".

Dessa vez, porém, ele tem certeza de ter deixado para trás o drama pessoal que o inspirou. "Você tem que pôr a casa em ordem e foi o que eu fiz", finaliza Sambora, que trabalha com um orientador e ajuda na recuperação de drogados. "Minha família, meus amigos e minha banda encheram minha vida de amor, me apoiaram muito. Tive todos os meios para superar, mas, no fim das contas a escolha foi só minha e pretendo andar na linha daqui em diante."

*Gary Graff é jornalista freelancer em Beverly Hills, Michigan