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"Temia manchar história do Soundgarden", diz Chris Cornell

13.jul.2012 - Kim Thayil e Chris Cornell durante show do Soundgarden no primeiro dia do Hard Rock Calling, no Hyde Park, em Londres - Jim Dyson/Getty Images
13.jul.2012 - Kim Thayil e Chris Cornell durante show do Soundgarden no primeiro dia do Hard Rock Calling, no Hyde Park, em Londres Imagem: Jim Dyson/Getty Images

Gary Graff*

The New York Times Sindycate

30/01/2013 06h00

"King Animal", do Soundgarden, é o primeiro álbum de estúdio do grupo desde 1996, e o primeiro desde a reunião do grupo após 13 anos separados. Isso tudo é muito dramático para todo mundo, exceto para a própria banda, segundo o vocalista Chris Cornell. "Quando voltamos, decidimos fazer as coisas sem pressa. Queríamos descobrir a amplitude do que quiséssemos fazer", explica Cornell, falando por telefone de sua casa em Seattle, nos Estados Unidos. 

Chris Cornell

O temor que eu tinha era a noção de termos parado (em 1997) em um estado criativo muito saudável, e de que qualquer coisa que fizéssemos depois disso pudesse manchar nossa história se não fôssemos cuidadosos, em vez de enriquecê-la. Mas se tivéssemos algo que não fosse digno do Soundgarden não lançaríamos

Mas não demorou muito para que eles também começassem a incluir na agenda tudo o que uma banda de tantos anos pode fazer. "Começou com uma coletânea, e alguns shows para divulgá-la, e então surgiu a ideia de compor novo material e gravar um álbum. E tudo isso foi sem esforço, natural, e fluiu como se realmente não tivéssemos feito uma longa pausa. Voltamos em sincronia", admite Cornell.

A sensação pode ser essa internamente, mas para o restante do mundo a volta do quarteto foi algo de peso. Na vanguarda da chamada cena grunge de Seattle desde sua formação em 1984, o grupo --que tirou seu nome de uma escultura de tubos de metal no Parque Magnuson de Seattle-- vendeu 22,5 milhões de álbuns em todo o mundo, com três de seus cinco álbuns de estúdio recebendo disco de platina ou mais nos Estados Unidos.

"Superunknown" (1994) recebeu cinco discos de platina e ficou em 1º lugar entre os mais vendidos na parada da Billboard, além de ganhar prêmios Grammy por duas de suas canções: "Spoonman" (melhor performance em metal) e "Black Hole Sun" (melhor performance em hard rock).


A separação em pleno auge
Contemporânea de Alice in Chains, Green River, Mother Love Bone, Mudhoney e Nirvana, o Soundgarden caiu nas graças da crítica por sua mistura de hard rock, heavy metal e punk. A banda também foi endossada por Neil Young, que levou o grupo para abrir os shows de sua turnê.

O Soundgarden ainda estava em pleno auge em abril de 1997 quando anunciou sua separação, devido às tensões internas em torno de sua direção musical. Olhando para trás, entretanto, Cornell e o baterista Matt Cameron dizem que o Soundgarden, que também inclui o guitarrista Kim Thayil e o baixista Ben Shepherd, simplesmente perdeu seu rumo em meio à máquina da indústria da música.

"Tínhamos aquela postura meio punk, underground. Não pensávamos em sucessos, milhões de álbuns, prêmios Grammy e coisas assim. Então ficamos conhecidos e o negócio passou a falar mais alto. Havia muito mais vozes em nossos ouvidos sempre que fazíamos música, e deixou de ser apenas nós quatro fazendo o que queríamos. Isso foi fatal na época", diz Cameron, de 50 anos, que desde 1998 também toca bateria para o Pearl Jam.

Cornell, de 48 anos, concorda, lembrando que era "um cenário de trem desgovernado que foi meio que parte do que fez com que nos separássemos". Quando o Soundgarden se reuniu em 2010, ele diz, todo mundo estava determinado a impedir que isso acontecesse de novo.

"Acho que foi tão simples quanto tomarmos a decisão consciente de não nos deixarmos influenciar por qualquer coisa fora nós quatro nas decisões de tocar, compor, fazer shows e gravar, sem apresentar um cronograma de negócios para isso", diz o vocalista, que durante o hiato da banda lançou quatro discos solo e trabalhou na banda Audioslave.

Qualquer animosidade entre os integrantes da banda desapareceu logo após a separação, diz Cameron. "Permanecemos amigos desde a separação", diz o baterista. "Kim, Ben e eu vemos uns aos outros e saímos juntos. Ben e eu às vezes tocamos juntos. Ninguém derrubou as pontes. Então, quando todos nós voltamos a estar em uma sala juntos, era como no passado. Muito fácil".

Retorno modesto e o novo álbum
Ironicamente, foram os negócios que colocaram os integrantes do Soundgarden juntos naquela sala. Os quatro músicos se reuniram para revisar os planos para relançamento do catálogo da banda, mas essas discussões levaram à decisão de voltarem a tocar juntos. "Nunca nos sentimos forçados a fazer um grande retorno ou uma reunião, porque certamente daria errado. Queríamos fazer as coisas de forma metódica", diz Cameron.

O Soundgarden fez um retorno modesto aos palcos no dia 6 de outubro de 2009, juntando-se ao Pearl Jam durante um bis no Gibson Amphitheatre, perto de Los Angeles. Isso encheu a internet de rumores e discussões sobre uma reunião definitiva, que o Soundgarden anunciou durante o ano novo de 2010 com um tuíte bem humorado: "A separação de 12 anos acabou e as aulas voltaram. Inscreva-se agora. Os Cavaleiros da Mesa de Som estão de volta!"

O grupo fez seu próprio show em Seattle em 16 de abril de 2010, e foi a atração principal do festival Lollapalooza de 8 de agosto em Chicago. A coletânea "Telephantasm: A Retrospective", que traz a inédita "Black Rain", saiu em 28 de setembro, apoiado por uma breve turnê e a primeira aparição da banda na televisão em 13 anos, no programa "Conan".

No início de 2011, o Soundgarden reconheceu que estava trabalhando em um novo álbum de estúdio. "Todo mundo concordou de imediato em tornar isso uma prioridade", lembra Cornell. "Tínhamos muitas opções de turnê, algumas das quais descartamos porque tomamos uma decisão em grupo de começar a trabalhar em um novo álbum. Foi algo decisivo para mim e parecia que todo mundo estava igualmente entusiasmado e empenhado em fazê-lo".

A maior turnê do Soundgarden
"King Animal", que estreou no 5º lugar na parada Billboard de discos mais vendidos, após seu lançamento no final de novembro de 2012, traz uma canção que já circula há algum tempo: "A Thousand Days Before", que data de 1996. A música foi feita para o álbum "Down on the Upside", mas ficou de fora naquela época. As outras 12 canções foram ideias novas, desenvolvidas por um grupo trabalhando da mesma forma que em seus álbuns anteriores.

"O temor que eu tinha era a noção de termos parado (em 1997) em um estado criativo muito saudável", diz Cornell, "e de que qualquer coisa que fizéssemos depois disso pudesse manchar nossa história se não fôssemos cuidadosos, em vez de complementá-la ou enriquecê-la. Mas eu estava confiante de que, se tivéssemos algo que não fosse digno do Soundgarden, não lançaríamos".

"King Animal" recolocou o Soundgarden na estrada com sua maior turnê, tocando tanto as canções novas quanto material mais antigo. "Estamos tocando misturadas com canções que têm de 13 a 23 anos de idade, e o resultado parece ótimo", diz Cornell. E mais músicas novas do Soundgarden são prováveis no futuro. "Todas as vezes em que estamos juntos em uma sala surge algo novo", acrescenta Cornell.

O grupo está pronto para permanecer ocupado, apesar de ter que se adaptar aos compromissos de Cameron com o Pearl Jam --um fato que pode ajudar a banda, diz o vocalista, ao promover algum equilíbrio e ponto de vista diferente. "Nossa postura é de que estamos fazendo isso porque amamos e porque importa para nós, e não por outro motivo. Se nos lembrarmos e praticarmos isso, então tudo mais se resolverá sozinho".

*Gary Graff é um jornalista free-lance baseado em Beverly Hills, Michigan