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Antes de vir ao Brasil, Muse revela bastidores e nega pressão

Gary Graff*

The New York Times Sindycate

12/03/2013 05h00

A faixa-título do mais recente álbum do Muse, "The 2nd Law", é uma suíte em duas partes. Segundo os integrantes da banda, se refere à Segunda Lei de Termodinâmica, que afirma que o universo tende a alcançar o equilíbrio e, portanto, qualquer energia, por maior que seja, deve se dissipar até que isso aconteça.

Só que esse não parece ser o caso da própria banda. O trio continua em ascensão desde que lançou o primeiro trabalho, em 1999, e já é considerado um dos maiores grupos do planeta. Vendeu mais de 15 milhões de cópias no mundo todo e ganhou um Grammy. "The Resistance", de 2009, emplacou o topo da parada em 19 países, enquanto que "The 2nd Law" estreou na liderança em 13 países.

MUSE NO ROCK IN RIO

Lucas Lima/UOL
O Muse está escalado para tocar no Rock In Rio 2013. O trio inglês, comandando por Matt Bellamy, se apresenta no dia 14 de setembro, mesma noite dos já confirmados Florence and The Machine, 30 Seconds to Mars e Capital Inicial

A última vez que o Muse esteve no Brasil foi em 2011 como atração de abertura da turnê do U2. Na ocasião, a banda --que tem seu próprio show para estádios, públicos numerosos e bandas de aberturas para suas apresentações -- fez um um pocket show de 45 minutos para os cerca de 90 mil fãs de Bono e companhia

A faixa "Survival" foi a música oficial das Olimpíadas de Londres, evento que a banda ajudou a fechar, participando da cerimônia de encerramento. Também se tornou um dos shows mais populares do mundo, sendo escalado em praticamente todos os grandes festivais da temporada.

Todas essas conquistas estão a anos-luz do que o guitarrista Matthew Bellamy, o baixista Chris Wolstenholme e o baterista Dominic Howard sonhavam quando uniram forças, em 1994. E, embora as ambições criativas continuem grandes, os integrantes tentam manter as conquistas em perspectiva.

"Nunca demos nada como certo", afirma Wolstenholme, por telefone, no início da fase norte-americana da turnê que promove o segundo álbum, lançado em outubro de 2012. "Sabemos que há uma certa expectativa em relação à qualidade da música que fazemos, mas também nos cobramos muito, porque queremos melhorar sempre".

Howard concorda. "Você quer criar uma música melhor, descobrir novas ideias e sentir que está progredindo", ele afirma, mas acrescenta que, para o Muse, esse processo é mais tranquilo do que muita gente imagina. "Quando estamos no estúdio, não sentimos a pressão", conta o baterista. "O objetivo é entrar lá e participar de um processo fluido e natural. Todo mundo sabe que, se você se sente pressionado ou forçado de alguma forma, não dá o melhor de si".


Uma pequena aventura a cada música
Howard conta que o Muse criou "The 2nd Law" sem muitas diretrizes. A banda preferiu o esquema tradicional, de "cientista maluco", na base do experimento/improviso, passando quase dez meses na Califórnia e na Inglaterra para tentar encontrar formas inovadoras de fundir a melodia do pop clássico com a sofisticação do rock progressivo.

Ele afirma que cada música se tornou uma pequena aventura em si. "Follow Me", por exemplo, começou "muito crua, por instinto, com uma pegada rock", mas recebeu um tratamento eletrônico para se diferenciar. "Panic Station" adotou um balanço mais marcante do que tudo que o Muse já havia feito. E o trio foi unânime em decidir que queria que a faixa de abertura, "Supremacy", tivesse o som de "apresentação de estádio".

"Madness", indicada ao Grammy 2013 como Melhor Música de Rock, teve seu próprio processo evolutivo: começou "hiperbásica", como conta Howard, mas a banda não ficou satisfeita. "Uma noite, tirei todo mundo do estúdio para poder trabalhar nela. Acabei colocando bastante bateria no final. Aí o Matt chegou, curtiu e pôs a guitarra", relembra. A música evoluiu e, segundo ele, ficou bem diferente do estilo do Muse.

"Não sei se você sabe, mas finalizar a música é a parte mais difícil", acrescenta ele, com uma risada. "Tem uma infinidade de toquezinhos finais, decisões e conceitos que quer manter que complica tudo. A gente sabe que a música está pronta quando os três chegam a um consenso", conta Howard.

"The 2nd Law" também é diferente em relação ao número de músicos envolvidos, bem maior do que no disco anterior. Howard calcula que foram 70 integrantes, incluindo uma orquestra, um coral e uma banda de metais. "Cria uma textura, dá uma profundidade nova e, no entanto, não é um som ao qual você presta atenção. Não dá para identificar quantas pessoas estão tocando, mas é o conjunto que você sente ali atrás, amarrando tudo", vibra Howard.


Turnê de "The 2nd Law"
O Muse começou a turnê de divulgação de "The 2nd Law" em setembro, com um cenário opulento, telões em formato de pirâmide e efeitos especiais elaborados. "Gostamos de sentir que estamos fazendo algo melhor, que estamos progredindo", revela Howard. "Essa ideia de se superar é o que nos move e nos estimula a fazer sempre algo grandioso".

O trio pretende continuar na estrada pelo menos por mais seis meses, mas só quer pensar no próximo álbum quando a turnê estiver próxima do fim ou encerrada de vez. "Eu e o Matt meio que já começamos a conversar sobre o que, como e quando a gente vai fazer em termos de logística", explica o baterista.

"Nós nos conhecemos há séculos", Howard conclui. "Crescemos juntos, testemunhamos muitas mudanças uns nos outros... e, apesar disso, continuamos juntos, o que é raro porque, hoje em dia, não tem muita gente por aí que pode dizer que tem amigo que conheceu lá pelos dez anos de idade. Isso deixa tudo ainda mais especial".

*Gary Graff é jornalista freelancer em Beverly Hills, Michigan