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"Me considero a voz do morro de todas as comunidades", diz Leandro Sapucahy

Da Agência JB

07/05/2008 19h32

Depois de lançar o primeiro CD, "Cotidiano" (2006), o cantor Leandro Sapucahy prepara-se para gravar seu primeiro DVD, "Favela Brasil", nesta quinta-feira (8), na Fundição Progresso.

Com direção cênica de Regina Casé, a gravação reúne amigos, como Arlindo Cruz, Leci Brandão, Marcelo D2 e os MCs Marcinho e Marechal. Além deles, Sapucahy também conta com a participação virtual de Seu Jorge --que não poderá estar presente, mas gravou depoimento para ser projetado em telão durante o show.

Leia abaixo entrevista na qual o sambista fala de sua trajetória e o momento especial que vive em sua carreira.

Pergunta: Como vai ser a gravação do DVD?
Leandro Sapucahy: Eu noto que os DVDs lançados recentemente são muito previsíveis e tentarei dar uma "quebrada", para não ficar cansativo. Vai ser um cenário com material verdadeiro: com caixa d'água, mesa de bar, um cara de chinelo, outro de telefone na cintura... Enfim, a vida como ela é, com todo mundo à vontade! Não vai ter nada daquela banda arrumadinha, com todo mundo de cabelo arrumadinho. Eu me considero a voz do morro de todas as comunidades. Não me vendo, não engano as pessoas. Sou transparente.

Pergunta: Por que a escolha de Regina Casé para a direção cênica?
Sapucahy: Ela sempre me ajudou demais, desde o início da minha carreira. Fez matéria comigo no "Fantástico", usou músicas minhas em diversos programas -- o que me deu uma projeção enorme. Depois, eu a visitei em sua casa e falamos sobre as músicas contarem uma "historinha". Quando contei que queria fazer um DVD, ela disse que me ajudaria no que pudesse, para encenarmos essas pequenas histórias. Nesse aspecto, eu sou zero e ela sabe tudo! Vou tentar não decepcioná-la.

Pergunta: Como foi feita a escolha dos convidados para a gravação?
Sapucahy: Foram as pessoas que estavam em volta mesmo, as mais próximas. Eu produzi o CD do Arlindo, "Sambista Perfeito" (2007). A Leci Brandão tem comigo afinidades no universo da consciência negra. O Marcelo D2 é um parceiro que trabalha comigo há um tempão e até gravou comigo a música que estourou em meu primeiro CD. O funk é um movimento das comunidades, a grande distração do cara da comunidade, e vai estar representado pelo MC Marcinho. Enfim, será uma mistura de pagode, samba e funk.

Pergunta: O que você acha da utilização pejorativa de termos como pagode e samba para rotular determinados artistas?
Sapucahy: O termo "pagode" ficou estigmatizado com sucesso de grupos a partir dos anos 90. Mas, na verdade, é tudo a mesma coisa. O maior sambista do Brasil se chama Zeca Pagodinho, então essa distinção não procede. Se a música tem cavaco, tantã e pandeiro, então é samba. É igual a falar que o rock do Charlie Brown Jr é diferente do rock de outro grupo. O gênero é um só, mas cada um segue seu caminho.

Pergunta: O que você acha da pirataria?
Sapucahy: Esse assunto passa pela minha cabeça, principalmente por causa da gravadora, que é a grande investidora do projeto. A situação é grave, a grande maioria das pessoas não tem dinheiro e sonho o tempo todo com igualdade social, em termos de poder aquisitivo, para que esse problema seja resolvido. Idéias como instalar um novo processo de prensagem para bloquear as cópias não vai resolver o problema com a pirataria -- o que resolve é baixar o preço do disco, pois a corda sempre arrebenta no lado mais fraco.

Pergunta: Você pretende continuar atuando como produtor, devido à boa repercussão de seus trabalhos com esta atividade?
Sapucahy: Os trabalhos que fiz com Maria Rita e Arlindo Cruz -- "Samba Meu" (2007) e "Sambista Perfeito" (2007), respectivamente -- obtiveram resultados ótimos. Quero produzir artistas grandes e talentosos, nos quais eu acredite. À medida que apareçam oportunidades para esses artistas, eu gostaria de produzi-los. A concepção do produtor mudou hoje em dia. Antes eles faziam tudo, mas hoje os artistas opinam muito. Mas ainda considero uma atividade de enorme importância, pois quem está de fora vê o trabalho de forma diferente. As pessoas acham que o produtor só trabalha dentro do estúdio, mas ele tem que pesquisar mercado, o público -- coisas do tipo. E eu sempre procurei fazer tudo isso quando desempenhei essa função.

Pergunta: Qual é a sua expectativa quanto à gravação do DVD?
Sapucahy: É uma emoção forte! Embora nós possamos refazer erros em estúdio, o ideal é acertar tudo e garantir uma boa performance ao vivo. A banda ensaiou bastante, mas dar tudo certo é praticamente impossível. É muita coisa prevista para acontecer e certamente uma coisa ou outra terá de ser refeita. Esse tipo de gravação cansa o publico, mas tentaremos fazer da maneira mais prática possível, para que a gravação transcorra normalmente e seja um momento de divertimento e alegria. Minha intenção é abrir um novo caminho fazendo um lance diferente, com esse conceito da Regina Casé, de fazer uma coisa mais teatral. Conto com a ajuda de muitos profissionais competentes e acredito que dará tudo certo!