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Em "Secret, Profane & Sugarcane", Elvis Costello retorna ao country e pega a estrada nas raízes dos EUA

Mariana Tramontina

23/06/2009 09h00

Elvis Costello não tem medo da estrada. Nem de entrar nas vias que cruzam seu caminho. Nas últimas três décadas andou viajando em diversas aventuras musicais: do rock britânico e do punk, passando pela new wave, ao jazz, ópera e country, sem nunca tirar o pé do patamar que o ergue como um dos grandes nomes da cultura pop.

Neste novo "Secret, Profane & Sugarcane", Costello volta às raízes norte-americanas para revisitar o terreno country e molhar os pés nas margens do Mississippi. No rastro de "Almost Blue", seu disco de 1981 em que regravou sucessos western, Costello retorna à cidade de Nashville para gravar este, que já é um dos melhores registros do ano.

Para o disco acústico, sem bateria, Costello convocou músicos do gênero como Jerry Douglas (violão), Stuart Duncan (rabeca), Mike Compton (bandolim), Jeff Taylo (acordeão) e Dennis Crouch (contrabaixo). São 13 faixas de música country tradicionalmente americana e de bluegrass que pedem para engatar a primeira marcha e seguir adiante.

Aqui, Costello garantiu dez músicas inéditas, como "Sulphur to Sugarcane" (parceria com o produtor de "Secret", T Bone Burnett) e "I Felt The Chill" (segunda colaboração do cantor com Loretta Lynn). Johnny Cash, a personificação do gênero, ganhou duas homenagens, uma delas "Hidden Shame", que foi lançada pelo "Homem de Preto" em 1990, no disco "Boom Chicka Boom".

Liricamente sofisticado, o marido da pianista Diana Krall continua sendo a resposta do Reino Unido a Bob Dylan. Costello tem um disco inteiro de histórias para contar. Em "I Felt the Chill", ele narra uma traição e vê um amor se desmoronar em tempo real ("I will have lost your love by the end of this sad refrain"), embalada por um melancólico bandolim.

A rural "The Crooked Line", segundo o próprio, é a única canção que já escreveu sobre a fidelidade e que não tem ironias ("life isn't a game", ele diz). "I Dreamed of My Old Lover", uma bonita melodia com arranjos de violinos, coloca em cena uma mulher insatisfeita que tem medo de revelar segredos durante o sono com seu marido deitado ao lado ("I rarely dream of anyone"). Um dos destaques do disco, "How Deep is the Red" faz parte da ópera inacabada sobre a vida de Hans Christian Andersen.

"She Was No Good" traz referências históricas inspiradas na turnê de 1850 de Jenny Lind, uma cantora de ópera sueca do século 19, e "Sulphur to Sugarcane" passeia por Roma e China, antes de voltar aos Estados Unidos e explorar o mapa da América pelo Texas, Mississippi, Alabama, Louisiana, Indiana. Se Costello pegou mesmo a estrada, "Secret, Profane & Sugarcane" com certeza foi sua trilha sonora. (MARIANA TRAMONTINA)

ELVIS COSTELLO
"Secret, Profane & Sugarcane"
Gravadora: Universal
OUÇA NA RÁDIO UOL