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Air repassa 12 anos de sucesso "cult" em primeiro show em São Paulo

Nicolas Godin, do Air, se apresenta no Natura About Us, em São Paulo (16/10/2010) - Leonardo Wen/UOL
Nicolas Godin, do Air, se apresenta no Natura About Us, em São Paulo (16/10/2010) Imagem: Leonardo Wen/UOL

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

17/10/2010 07h08

O festival Natura Nós teve duas grandes atrações internacionais "principais" neste sábado (16) na Chácara do Jockey, em São Paulo. Uma mais popular, que encerrou a programação, a banda inglesa Jamiroquai. Outra mais "cult", a dupla francesa Air, pela primeira vez no Brasil, que se apresentou no começo da noite, às 19h.

No show de cerca de uma hora que apresentou em São Paulo (e anteriormente no Rio), o Air fez um apanhado de sua carreira, para uma plateia de cerca de 17 mil pessoas. O repertório teve desde o primeiro sucesso, "Sexy Boy", do álbum "Moon Safari" (1998); a angustiante "How Does It Make You Feel", de "10.000 Hz Legend" (2001); a pop "Cherry Blossom Girl", de "Talkie Walkie" (2004), até a tensa "Do the Joy", que abriu a apresentação, faixa do disco mais recente, "Love 2" (2009).

Em sua estreia no país, o Air não economizou em seu senso de humor peculiar. Com a barba por fazer e bem vestido ("mal rasé, bien habillé", como o personagem de "Sexy Boy"), Nicolas Godin arriscou agradecimentos em português ao vocoder (teclado que distorce a voz), lamentou não falar bem a língua e, depois, pediu para que a plateia cantasse com ele em francês, na música "Alpha Beta Gaga" --que, detalhe, não tem letra, apenas assobios.

Enquanto isso, a outra metade da dupla, Jean-Benoît Dunckel, se dividia entre teclados e vocais, como quem pilota uma nave espacial. E a mise-en-scène convence não pelo realismo ou pela seriedade, mas pela leveza e graça com que é feita. É uma grandiosidade que tem menos a ver com a megalomania de Rick Wakeman do que com o caráter espirituoso de Erik Satie. Afinal, o nome da banda é um acrônimo formado pelas iniciais das palavras "amour", "imagination" e "rêve" (amor, imaginação e sonho).

No palco, o Air se completa com o baterista americano Joey Waronker (que já tocou com R.E.M. e Beck), companheiro da dupla também no disco mais recente. Coube a ele, no show, dar um toque de humanidade às levadas geralmente programadas do Air, mas sem descambar para o "demasiadamente humano". Apesar de sua tradição tecnológica, neste show, a banda toca todos os instrumentos ao vivo, sem faixas pré-gravadas.

Desde seu disco de estreia, o aclamado "Moon Safari" (1998), o Air se destacou das outras bandas francesas surgidas no final dos anos 90 por ter uma sonoridade que passava ao largo da música para pistas (foco do Daft Punk e Cassius) e que também não fazia um xerox do pop francês de Serge Gainsbourg ou de Jacno. Por seus climas densos e texturas sofisticadas, sua música fazia (e faz) lembrar mais trilhas sonoras de Ennio Morricone (em "O Pássaro das Plumas de Cristal", por exemplo) e Francis Lai (em "Um Homem e Uma Mulher").

No repertório do show paulistano, não faltaram músicas que trazem essa dimensão "cinematográfica", como "Tropical Disease", "Kelly Watch the Stars" ou "Don't Be Light". O lado mais "canção" da banda apareceu em "Cherry Blossom Girl", "Venus" e "Sexy Boy", que causou comoção na plateia.

A chuva que havia caído no começo da noite deixou charcos no gramado, mas isso não comprometeu a animação do público, que vibrou com o repertório bem representativo dos 12 anos de sucessos "cult" da dupla. Mas, por se tratar de um grupo tão importante como o Air, pela primeira vez no país, ficou a impressão entre os fãs de que um show de 60 minutos foi curto demais.

Antes do Air, já haviam se apresentado alternadamente nos dois palcos do evento a cantora Ceu, Vanessa da Mata e Cidadão Instigado, entre outros.