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Somos os professores dos universitários, diz cantor sertanejo Rick, que lança o disco "Happy End" com Renner

Dupla Rick & Renner em imagem de divulgação - Divulgação
Dupla Rick & Renner em imagem de divulgação Imagem: Divulgação

ANDRE PIUNTI

Colaboração para o UOL

30/11/2010 14h11

A dupla Rick e Renner está lançando o 16º álbum da carreira, intitulado "Happy End", após dois anos sem lançar um CD de inéditas.

O novo trabalho, que tem a regravação de "Essa tal liberade", do Só Pra Contrariar, como primeira aposta, ainda traz a participação do cantor Frejat na faixa que dá nome ao disco.

Nesse ano de 2010, o nome da dupla não esteve muito em evidência, já que Renner se dedicou mais a sua candidatura ao Senado por Goiás, e Rick apostou em um projeto paralelo, ao lado de seu filho, com quem formou a dupla Rick e Victor.

Em entrevista ao UOL Música, o cantor, compositor e produtor Rick falou sobre "Happy End", a parceria com Frejat --que descreve como "um irmão"-- e comentou a respeito do atual cenário da música sertaneja. "Nós somos os professores dos universitários", declarou sobre a geração nova do gênero.

UOL - Depois de terem trabalhado uma coletânea, vocês voltam com um álbum inédito. O que esse CD traz de novo para destacar Rick e Renner em um mercado tão movimentado e cheio de duplas?
Rick -
Esse nosso novo CD, "Happy End", tem uma característica muito forte do Rick e Renner, que é o ecletismo, além de trazer sempre alguma novidade. Quem conhece a nossa carreira, sabe que a gente sempre tentou trazer alguma coisa diferente a cada trabalho. Nesse disco, das 15 músicas, umas nove são minhas. Tem a participação do Frejat, que é um irmão meu, e tem a regravação de "Essa tal liberade", uma música muito famosa, que eu sempre gostei, e que a gente resgatou do Só Pra Contrariar.

UOL - Por que escolher "Essa tal liberade" como a primeira de trabalho?
Rick -
Eu sempre gostei muito dessa música. Eu já queria fazer uma versão, mas o que me faltava era descobrir uma forma de gravar sem ficar no caminho do Alexandre Pires. Eu queria fazer algo diferente. Quando nós vimos essa roupagem mais pra cima do mercado sertanejo, essa batida mais forte, meio country rock, eu comecei a ver a música com essa roupa. Então eu tentei trazer a música pra essa nova cara do mercado, mas respeitando a harmonia original, já que é uma música importante, que marcou uma época. Acabou ficando como eu imaginava, então achamos interessante mostrar essa roupagem que demos para a música.

UOL - E como aconteceu a parceria com o Frejat?
Rick -
O Frejat é meu irmão, amigão mesmo. Como a gente gosta de trazer coisas novas, e o sertanejo tem misturado cada vez mais estilos, gravar um rock seria muito interessante. Como essa música "Happy End" tem uma pegada que me lembra Barão Vermelho, eu convidei o Frejat pra gravar com a gente, e pra minha minha surpresa, ele topou. Independentemente de ser meu amigo ou não, é legal o fato do cara ter se juntado a uma dupla sertaneja. Tudo foi por internet, na verdade. Eu gravei aqui, fiz uma edição, e mandei pra ele. Aí ele pegou, mexeu do jeito dele, e me mandou de volta. Assim a gente foi conversando até chegar num denominador comum.

UOL - Durante todo o ano passado, surgiram boatos de que você e o Renner iriam se separar. Primeiro, por você ter formado uma dupla ao lado do seu filho, Victor. Depois, pelo Renner ter se candidatado a senador. Houve alguma conversa sobre separação entre vocês?
Rick -
As pessoas estão até brincando com o nome do disco, "Happy End", que significa "final feliz", falando que é uma indireta e tudo mais. Na verdade, nunca houve esse assunto. Nesse lance da política, o que acontece é que queriam que eu saísse candidato por Tocantins, mas eu não topei. Aí eles foram atrás do Renner pra ele concorrer ao Senado por Goiânia. Acho que o Renner pensou pouco e acabou aceitando. Felizmente, ele desistiu da ideia no meio da campanha. A dupla com o meu filho surgiu com o intuito de preparar ele pra uma carreira solo mais na frente. Eu não podia simplesmente colocar meu filho na TV sem nada, precisava fazer um trabalho com ele, então resolvi que esse ano eu faria. Trabalhamos nosso disco juntos, e em janeiro 2011, ele vai lançar o primeiro disco como cantor solo. Sobre o Renner e eu, não teve nada de separação, a gente só tocou outros projetos, mas que não tinham interferência no nosso trabalho.

UOL - Agora de volta com um trabalho inédito, houve alguma preocupação para poder se adaptar a uma nova realidade de música sertaneja?
Rick -
Eu acho que antes de pensar no mercado, eu penso assim: sou um cantor, sou um compositor e amo música. Eu não posso desviar o meu foco pra assimilar mercado. Eu preciso fazer o que está dentro de mim, o que eu acredito. O Rick produtor e compositor sempre teve muita personalidade. É isso que me fez chegar até aqui. Por eu ser produtor, eu sou antenado. Então, as mudanças que eu faço não são forçadas ou propositais, acontecem naturalmente por causa do meu trabalho. A preocupação que eu tenho é não deixar a mente envelhecer e eu me tornar repetitivo, o que não quer dizer que eu vá me render a algum modismo. A gente tem um sucesso consolidado, então temos que manter nossas referências.

UOL - E nesse mercado atual no qual todo o sertanejo recebe um tipo de rótulo, onde se encaixaria o disco de vocês?
Rick -
O nosso trabalho é o trabalho do Rick e Renner, nossa cara, nossas características. Antes de qualquer coisa, esses rótulos que criam hoje são vertentes da música sertaneja. A música sertaneja é o rio principal, e esses rótulos são os braços que têm a música sertaneja como algo em comum. Hoje, existe uma renovação de ritmos, não dá pra negar. O pessoal hoje gosta muito da coisa do pular, dançar, beber, de festa. Nós somos pós-graduados exatamente por isso, esses universitários são descendentes de um sertanejo mais tradicional, de Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone. O sertanejo hoje tem uma nova safra, mas todos essas duplas cantam músicas da gente. Nós somos os professores e eles são os alunos.

UOL - E o quanto de provocação tem nessa frase, já que você sempre foi bastante crítico com algumas novidades apresentadas pelas novas duplas?
Rick -
Provocação nenhuma, a ideia não é essa. Se você parar pra conversar, eles vão dizer que começaram a cantar ouvindo todos nós. Só que em vez de pegarem a nossa melancolia, o romantismo, eles colocaram as músicas pra cima, mudaram a concepção, fizeram uma releitura mais animada de tudo. A gente tem é que tirar o chapéu, pois eles conseguiram mudar algo que já havia sido sucesso e fazer com que ele fizesse sucesso de novo. Quanto a ser crítico, é que existe muita porcaria mesmo, muita coisa ruim, mas a gente tem de falar e se preocupar com o que é bom.

UOL - Dos sertanejos, você sempre foi um dos mais engajados nas discussões sobre direitos autorais. Depois de tanto tempo de discussão, e vendo que o mercado ajuda cada vez menos os compositores, você admite que acabou se conformando um pouco com a situação?
Rick -
É complicado. Não é que eu esteja jogando a toalha, muito pelo contrário. A minha revolta é porque os próprios autores são muito desunidos. Todo artista tem um microfone e uma câmera, mas mesmo assim a gente é incapaz de mostrar o que pensa. Se eu tenho a oportunidade de dizer que, no Brasil, é um absurdo o que se faz com o compositor, eu vou dizer, mas a classe como um todo não se organiza. Nesses encontros mesmo pra discutir nossos direitos, a gente combina de ir, todo mundo fala que vai, mas na hora não vai ninguém.

UOL - No ano passado, você disse ser contra a prática de distribuir milhares de CDs promocionais e incentivar o consumo gratuito de música. Você continua com essa postura?
Rick -
Eu continuo, sim. Existe um mercado musical e fonográfico que precisa ser respeitado, mas as pessoas não respeitam mais. Esse mercado, que só diminui, é que garante que um compositor viva da sua arte. A gente faz música porque ama, sim, mas também dependemos disso pra viver. Então era necessário que houvesse uma conscientização de que isso também é um comércio. A receita que esse comércio geraria pro país é muito alta, mas ela praticamente não existe. Eu não vou ficar batendo de frente o tempo todo, falando sozinho, mas minha postura, nesse caso, vai ser sempre essa.