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Em último show no Brasil, Amy Winehouse transforma seu universo intenso em poucas emoções

Amy Winehouse durante show no Summer Soul Festival, na Arena Anhembi, em São Paulo (15/01/2011) - Flávio Florido/UOL
Amy Winehouse durante show no Summer Soul Festival, na Arena Anhembi, em São Paulo (15/01/2011) Imagem: Flávio Florido/UOL

MARIANA TRAMONTINA

Da Redação

16/01/2011 04h23

Amy Winehouse é imprevisível. Uma bomba de sentimentos e atitudes excessivas prestes a ser detonada. Mas em seu último show da turnê brasileira, a britânica transformou seu universo tão intenso em um mundo de poucas emoções. Distante ao cantar uma vida de desilusões e derrotas, ela encerrou neste sábado (15), na versão paulista do Summer Soul Festival, um ciclo de cinco shows numa única semana --fato nada recorrente em sua carreira.

Em pouco mais de uma hora, Amy dividiu com cerca de 30 mil pessoas um coração dolorido em melodias inebriantes e letras autobiográficas. Das dez faixas do disco "Back To Black" apenas uma --"He Can Only Hold Her"-- ficou de fora. De seu álbum de estreia, "Frank" (2003), a música "I Heard Love Is Blind" entrou para preencher o repertório, que incluiu sua regravação de "Valerie", do Zutons, a versão tango para o clássico dos anos 30 "Boulevard of Broken Dreams", e um cover de "Stagger Lee", de Lloyd Price.
 
Reconstruindo seu espaço após um hiato de dois anos num inferno particular que alcançou proporções exageradas, Amy ainda não exibe vocais em sua melhor forma. Ela precisou dos afinados cantores de apoio para dar corpo às suas canções durante quase toda execução. Em contrapartida, nos momentos em que mais expressava sua voz era fácil cantar. Tão fácil que ela parecia não sentir as lástimas que bradava. Alheia ao teor de suas músicas, Amy permaneceu no automático. Até mesmo a mais dramática de suas composições passou como uma canção leve por ela, como se não importasse mais com aquilo que fez parte de seu passado recente.
 
De poucas palavras, a tímida cantora, que já reencarnou com talento memórias envelhecidas da música pop negra de 40 anos atrás, se limitou a entregar largos sorrisos à multidão e a manter o bom humor ao tropeçar em algumas frases e compassos. Aparentemente desconfortável no palco, sua maior interação foi quando apresentou toda a banda e cedeu um momento solo a cada músico. O performático Zalon Thompson, seu "boy" --como o apresentou ao público--, ganhou atenção especial e assumiu o vocal principal de "What a Man Going to Do" e "The Click".

Pelo público, Amy foi recebida como um mito da nova geração. Fãs dedicados e uma plateia afoita por consumir a imagem de seu processo de autodestruição dividiam o mesmo espaço. O primeiro grupo vibrava a cada destreza vocal que superava em sua performance. O segundo, a aplaudia todas as vezes que ela coçava o nariz ou levava à boca uma caneca cheia de algum líquido que usava ainda para gargarejar, como um alvo óbvio de quem esperava por um vexame daquela figura de postura desengonçada.
 
Com uma hora de show, Amy saiu de cena, deixando sua banda encerrar "You Know That I'm No Good", cantada em coro pela multidão. Para surpresa da plateia, que já se dispersava pelo local, a cantora trouxe seus músicos de volta ao palco para um bis. Além de "Me And Mr. Jones", Amy cantou "Love is a Losing Game", completando uma espécie de experimentação do que pode trazer de volta ao seu público com um possível reestabelecimento de sua carreira. Se para ela o amor é um jogo perdido, ao menos sua primeira turnê brasileira foi uma partida vencida.
 
Teatro de Janelle Monae e o desconhecido Mayer Hawthorne
Antes de Amy Winehouse, Janelle Monae introduziu ao público do festival um espetáculo teatral, montado em cima de seu álbum conceitual indicado ao Grammy, "The ArchAndroid". Anti-climático, o show da novata tem poucas pausas entre as músicas --assim como seu disco-- ocupadas com dança, dramaturgia, artes plásticas e imagens de "Metropolis", de Fritz Lang, e cenas de "Guerra nas Estrelas" no telão.
 
Ao vozeirão de Janelle somaram-se influências diversas que vão do soul e R&B ao hip-hop, funk e rock and roll, que ela deslizou em músicas como "Dance or Die", "Faster", "Locke Inside", "Cold War" e "Tightrope". Elétrica e com um visual característico, mantido por um inconfundível topete, ela se jogou no chão e saiu descabelada do palco. Mesmo com pouca melodia para cantar e pecando em excessos, Janelle tem espetáculo sob medida para grandes palcos e plateias.
 
Quem abriu a programação internacional do festival foi Mayer Hawthorne, um elegante rapaz de Michigan cheio de suingue. Soulman afinado, Mayer aqueceu o público que pouco conhecia sua escassa discografia de apenas um álbum, "A Strange Arrangement", de 2009. 
 
Entre uma canção e outra, como "Maybe So, Maybe No" e "Just Ain't Gonna Work Out", Mayer se pôs a falar. Contou a história de quando foi confundido no aeroporto de Florianópolis, na semana passada, com o ator Tobey Maguire e falou sobre uma namorada. Desconhecido por parte da multidão, Mayer conseguiu entreter e pediu aplausos, não para ele, mas para o próprio público.
 
Os brasileiros Miranda Kassin & André Frateschi, e a banda Instituto subiram primeiro ao palco, mas foram vistos por poucos, ainda no final da tarde deste sábado. A primeira edição do Summer Soul Festival, que começou na capital catarinense e passou pelo Recife, terminou em São Paulo com pouco atraso entre os shows, problemas nos bares internos (como falta de bebidas) e dificuldades na saída para deixar a Arena Anhembi.