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Em primeiro show do U2 em SP, Bono lamenta massacre no Rio e exibe nomes de estudantes mortos

Bono e o baixista Adam Clayton em show do U2 em São Paulo (09/04/2011) - Lucas Lima/UOL
Bono e o baixista Adam Clayton em show do U2 em São Paulo (09/04/2011) Imagem: Lucas Lima/UOL

MARIANA TRAMONTINA

Da Redação

09/04/2011 21h50Atualizada em 11/04/2011 10h46

O U2 não sai pelo mundo à toa. E a megalomaníaca 360º Tour está aí para patentear: o U2 é a maior banda de rock do mundo em atividade. Os números estrondosos que cercam os quase 40 anos de carreira são proporcionais à grandiosidade da turnê que desembarcou essa semana no Brasil e estreou neste sábado (9) em São Paulo, no Estádio Morumbi, frente à cerca de 90 mil pessoas. Em pouco mais de duas horas, a banda cruzou referências musicais e visuais, juntou Beatles e David Bowie, Aids e pobreza, o massacre no Rio de Janeiro e Aung San Suu Kyi, ao som de 23 músicas.

O chamativo palco em forma de garra, uma colossal estrutura de aço de quase 30 metros de altura, foi iluminado às 20h pelo Muse, atração convidada para a abertura e tão grandiloquente quanto os irlandeses. E, se uma presença tão ambiciosa quanto a do trio londrino está no convite da festa, você só pode ser o U2 para convocá-los. Alguém grande o bastante para fazer a característica épica das apresentações do Muse parecer ínfima, longe de comparações.

U2 toca "Even Better Than The Real Thing" em SP


E, se você é o U2, você também pode subir ao palco ao som de "Space Oddity", com David Bowie narrando a travessia sideral do fictício astronauta Major Tom, logo depois de tocar "Trem das Onze", clássico do samba paulistano, no sistema de som e ressoar em coro pelo estádio. Foi nesta sequência que Bono, Adam Clayton, The Edge e Larry Mullen Jr. chegaram ao centro do palco, às 21h40, recuperando "Even Better Than The Real Thing", do álbum "Achtung Baby", de 1991.

O tão comentado palco da turnê funciona como um enorme home theater --ainda melhor para quem estava sentado nas arquibancadas. O som surround junta-se às imagens exibidas no telão cilíndrico, como um caleidoscópio, irradiando luzes e cores. Difícil só é encontrar a banda no palco em meio a uma grandeza quase delirante.

Mas a arquitetura do espetáculo cria uma conexão ainda maior com o público: há um anel interno formado exclusivamente pelos fãs mais dedicados, que chegaram com antecedência ao estádio, além de passarelas que adentram uma plateia de múltiplas gerações, de onde Bono resgatou uma jovem fã para ler a letra da música "Carinhoso", de João de Barro e Pixinguinha.

A garra assusta e intimida, mas o U2 é inofensivo. Sem toda a pirotecnia, continuam lá seus melhores momentos no universo pop: o clássico "I Will Follow", faixa do primeiro disco do grupo, "Boy", de 1980; "Elevation", que leva a plateia ao êxtase; "Beautiful Day", "Sunday Bloody Sunday", "In A Little While", "Mysterious Ways", "With Or Without You", "Where The Streets Have no Name" ou "One" (emendada com um trecho de "Help", dos Beatles), sem deixar de fora faixas do recente (e pouco inspirado) disco "No Line On The Horizon", de 2009.

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Embaixo de sua catedral metálica hi-tech, Bono exibe sua habilidade diplomática ao discursar, ao som de "Scarlet", em homenagem à ativista de Mianmar Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz libertada no fim de 2010 após 20 anos presa. O cantor agradeceu aos fãs do U2 e aos amigos da Anistia Internacional, antes de dedicar "Walk On" para Suu Kyi.

Em outro momento, o líder africano Desmond Tutu ganha espaço virtual no telão para falar sobre a África e a Campanha One, pela erradicação da pobreza e da Aids. Bono volta para lamentar o massacre ocorrido nesta semana em uma escola do Rio de Janeiro, pedindo para que todos da plateia levantassem os telefones celulares e isqueiros, numa comovente ação visual, enquanto os nomes dos estudantes mortos eram exibidos no telão.

E, se você é o U2, você pode até debochar do tempo cantando "São Paulo da garoa, São Paulo terra boa", ao perceber que a chuva que caía minutos antes, durante a apresentação de sua banda de abertura, não dá mais sinal de que vai voltar. A chuva voltou, mas não antes de o U2 fazer seu segundo bis com "Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me" e "With or Without You", e acenar um até amanhã com "Moments of Surrender".

A banda volta a se apresentar neste domingo (10) no Estádio Morumbi em São Paulo, quando vai somar US$ 558 milhões em ingressos vendidos e bater o recorde de maior turnê da história, que pertencia até agora aos Rolling Stones com sua A Bigger Bang Tour, entre 2005 e 2007. O montante cresce na quarta-feira (13), quando o U2 faz, no mesmo local, o terceiro e último show da 360º Tour no Brasil. Os ingressos para os próximos dois shows estão esgotados.
 

Veja as músicas que o U2 tocou no primeiro show em São Paulo:

Intro:
"Trem das Onze" (Demônios da Garoa)
"Space Oddity" (David Bowie)
 
"Even Better Than The Real Thing"
"I Will Follow"
"Get On Your Boots"
"Magnificent"
"Mysterious Ways"
"Elevation"
"Until The End Of The World"
"I Still Haven't Found What I'm Looking For"
"Stuck In A Moment You Can't Get Out Of"
"Beautiful Day"
"In A Little While"
"Miss Sarajevo"
"City Of Blinding Lights"
"Vertigo"
"I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight"
"Sunday Bloody Sunday"
"Scarlet"
"Walk On" 
 
bis
"One"
"Where The Streets Have No Name"
 
bis 2
"Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me"
"With Or Without You"
"Moment of Surrender"