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"Questionaram se eu era bandido", diz Leandro Sapucahy ao trocar críticas sociais por samba romântico

O cantor e produtor Leandro Sapucahy em foto de divulgação do álbum "Malandro Também Ama" (2011) - Washington Possato/Divulgação
O cantor e produtor Leandro Sapucahy em foto de divulgação do álbum "Malandro Também Ama" (2011) Imagem: Washington Possato/Divulgação

MARIANA TRAMONTINA

Da Redação

14/04/2011 06h00

Foi cantando as agruras da vida e criticando os problemas sociais em suas músicas que Leandro Sapucahy caiu numa armadilha. "Questionaram ao meu filho de 13 anos se o pai dele era bandido", conta o sambista carioca. O inquérito, entre outras indagações, levou o cantor e produtor a trocar o discurso politizado pelo samba romântico. "As pessoas não entendem que você é um porta-voz e que não necessariamente tenha vivido aquilo que canta", diz ele, que já gravou em seu DVD ao vivo, "Favela Brasil" (2008), a faixa "Fui Bandido".
 
Em um momento de pacificação na vida pessoal, Leandro Sapucahy lança seu novo álbum de sambas tradicionais e partido alto, que atesta no título: "Malandro Também Ama". "Meu momento é mais tranquilo agora, emocional e profissionalmente. Tenho uma filha de quatro meses, a Luisa, que mudou muita coisa na minha vida. Também não queria me repetir musicalmente e ficar refém dessa história [de críticas sociais]. Com este disco quero retribuir o carinho do público feminino, que se aproximou muito de mim", conta ele em entrevista por telefone ao UOL Música.
 
Mesmo trabalhando com calibres mais suaves, o sambista não tira os olhos dos problemas que afligem a capital fluminense e o país. "Algumas coisas que reivindiquei melhoraram na cidade [Rio de Janeiro]. Não era justo comigo nem com o público fazer mais um disco de críticas sociais. O Brasil passa por uma melhora, temos que reconhecer. Ainda não é o que almejamos, mas sinto que estamos indo de encontro a isso. É hora de dar uma respirada", alega. 
 
Os conflitos que culminaram na ocupação policial no Complexo do Alemão, no final do ano passado, também refletem nos caminhos de Leandro. "Acho que o grande acontecimento não é a ocupação, e sim a pacificação, a mudança do clima e a conscientização do morador de que a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] é algo positivo para eles. Está dando certo, mas necessita de acompanhamento, não dá simplesmente para jogar a semente e deixar lá", avalia.
 
Apesar de se manter como a voz do morro das comunidades, Leandro não nega a tensão que envolvia seus trabalhos anteriores, acompanhando o movimento nas favelas e o fogo cruzado entre o bem e o mal. "Era ótimo fazer aquilo, os projetos foram maravilhosos e me deram um grande respaldo, mas era um show pesado. Sentia falta de cantar para um público alegre e de relaxar".
 


Nova geração do samba
"Malandro Também Ama" traz 14 faixas inéditas entre partidos alto (como "Não Quero Mais Saber de Nada", escalada para a trilha da novela global "Insensato Coração"; "Favela Fashion Week", "Disse Me Disse", e "Ê, Coração") e sambas românticos, como "A Que Mais Deixa Saudade", "Militante do Amor", "Bateu a Responsa" e "Depois Daquele Adeus". Em "Tá Mal na Moldura", Leandro convoca os amigos do Grupo Revelação para dividir o tema.
 
Parte desse repertório --dez, no total-- será apresentado ao vivo no show de lançamento do álbum, que Leandro Sapucahy leva no sábado (16) ao palco da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. "Vou cantar também cinco músicas dos meus discos anteriores. Há um momento no show em que mostro minha transformação de homem mau para homem bom", diz ele, rindo. O espetáculo coloca ao lado do anfitrião o veterano Arlindo Cruz e canções que fizeram sucesso na voz de Fundo de Quintal e de Zeca Pagodinho.
 
E é a Zeca que o sambista dedica "Malandro Também Ama". "As pessoas acham que estou puxando o saco, mas não é isso. Ele é o único intérprete que fala o nome dos compositores no show e isso faz grande diferença num momento em que enfrentamos a pirataria. E foi pelo Zeca que ouvi o nome de Serginho [Meriti] pela primeira vez", diz ele, referindo-se à assinatura principal das canções de seu novo trabalho e autor do sucesso "Deixa a Vida Me Levar", de Zeca.
 
Parte de uma nova geração de sambistas, entre eles Diogo Nogueira e a atual fase de Marcelo D2, Leandro diz não haver concorrência entre os amigos (que têm trabalhos assinados pelo produtor) nem vê o gênero correr algum perigo. "Nunca achei que há tempo ruim para o samba. Quando não está crescente, está bem estacionado. Acho que o que aconteceu comigo e com o Diogo [o sucesso] é que acreditamos numa verdade que é nossa, sem copiar ninguém e sem tentar ser alguém que não somos".

O sambista não confirma se "Malandro Também Ama" é uma mudança de estilo ou a marca de um momento específico em sua carreira. "Não sei dizer, mas agora essa é a minha verdade. Quero mostrar meu outro lado e tirar das pessoas a impressão de ser amargo e mal humorado", diz ele, que estampa sorrisos na capa e no encarte de seu novo disco. Agora desarmado, Leandro já canta em "Lados Paralelos" que "de amor meu coração foi baleado".
 

LEANDRO SAPUCAHY NO RIO DE JANEIRO
Lançamento de "Malandro Também Ama"
 
Quando: 16/04 (sábado)
Onde: Fundição Progresso (Rua dos Arcos, 24, Lapa)
Horários: abertura da casa às 22h; início do show à meia-noite
Quanto: R$ 50 (1º lote) e R$ 60 (2º lote)
Ingressos: www.fundicaoprogresso.com.br, pelo telefone 0xx/21/2220-5070 e na bilheteria da Fundição
Classificação: 18 anos