Com participação de Vanessa da Mata, Marcelo Camelo começa turnê buscando comunhão com público

 

Uma das principais características da música de Marcelo Camelo, desde o tempo do Los Hermanos, é o cruzamento de dinâmicas, uma certa abordagem rock, casual, sobre canções buriladas com o tempero da música brasileira. Quando lançou seu primeiro disco solo, "Sou", em 2008, os espaços preferidos para as apresentações eram teatros, para o público sentado e clima contemplativo, de arranjos costurados.

 

Desta vez, na volta aos palcos desde fins de 2009, para o lançamento de "Toque Dela", seu segundo CD, a escolha foram shows com vigor extra e repertório amplo, para audiência em pé. "Para vocês se divertirem mais", anunciava Camelo, de guitarra na mão.

 

No palco, além de aparição surpresa de Vanessa da Mata, eram dez pessoas: o sexteto instrumental paulistano Hurtmold mais trio de metais, e no centro o cantor e compositor, buscando intimidade com o universo musical que criou e comunhão com seus ouvintes. "E aí, tudo bem com vocês, pegaram muita chuva para chegar aqui?", perguntava, como se recepcionasse velhos amigos lhe pagando uma visita caseira em uma quinta-feira chuvosa.

 

À vontade e alegre, no primeiro dia de uma série de quatro shows, todos com ingressos esgotados, deixava claro que não era coincidência começar nova turnê em São Paulo, "cidade que me abrigou nos últimos dois anos da minha vida", dizia. Na plateia, entre os jovens fãs, um dos motivos de sua permanência na cidade se fazia presente, a namorada Mallu Magalhães, clara inspiração para muitas das novas canções.

 

Logo de saída, apresentando novidades, o show começou como o disco, com as canções "A Noite", "Ô Ô" e "Tudo Que Você Quiser", mesma ordem de "Toque Dela". Quebrando a expectativa, cinco faixas do primeiro álbum surgiram na sequência, aquecendo o público e preparando o terreno para os hits: "Vermelho", das melhores do disco novo, e, surpresa, algumas dos Los Hermanos, "A Outra" e "Morena". Naturalmente, momentos quentes e com feliz coro dos presentes.

 

Em certo momento, quando o fim se aproximava, um Camelo sorridente anunciava presença especial e inesperada no backstage e intimava no palco a cantora Vanessa da Mata, recebida com empolgação pela plateia. Sozinho com sua guitarra e sua convidada, Camelo improvisou outra dos Hermanos, "Samba a Dois", pedindo ajuda do público e regendo o coro geral.

 

O público, aliás, se mostrava generoso e curioso, deixando espaço para Camelo cantar e ser ouvido nas novas canções, e acatando feliz os pedidos de acompanhamento para as antigas conhecidas. Se na época em que fronteava o Los Hermanos o espírito era de devoção, com sua voz raramente ouvida sob o grande coro, agora um novo equilíbrio parece ter sido atingido, de naturalidade nas apresentações e cumplicidade entre músicos e ouvintes.

 

Como no novo disco, o clima de leveza e tranquilidade permeou toda a presença de palco. Quando anunciou a última música, foi espontâneo e inevitável o suspiro de tristeza pela conclusão da noite. Não sem senso de humor, Camelo concordou. "Eu sei. Tocaria mais, não estivesse no meu segundo disco, ainda com poucas músicas". Se for o começo de uma nova fase, o compositor parece estar em boa companhia: de seu público.