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Primeiro show dos Racionais MC's em grande casa de espetáculo mistura públicos distintos

ARTHUR GUIMARÃES

Colaboração para o UOL

14/05/2011 15h54

O ingresso custa até R$ 300 e a fila de carro importado é lenta. Às 23h da última sexta-feira (13), as caminhonetes estrangeiras congestionavam a entrada do HSBC Brasil,  zona sul da capital paulista, local que abrigou o show dos Racionais MCs. A apresentação teve participação da cantora norte-americana Eve, que mostrou seus novos singles, que devem entrar no disco "Lip Lock", previsto para esse ano.

O público queria ver o grupo tido como porta-voz da periferia cujo líder, sob a alcunha de Mano Brown, é visto como um dos maiores ícones negros do Brasil. Ao seu lado, Ice Blue, Edy Rock e KL Jay, os outros três integrantes da banda.

Foi a primeira apresentação do clã em uma grande casa de espetáculos. Sem palco improvisado ou "gatos" no sistema de som, os Racionais aproveitaram a oportunidade para reforçar suas canções mais clássicas. O grupo voltou aos estúdios no ano passado, quando Mano Brown juntou-se ao DJ Cia e ao cantor Lino Cris para trabalhar em uma nova música, "Gangsta Boogie".

Na linha de frente do show, estavam os chamados sentinelas. Espécie de "anjos da guarda" de Brown, que garantem a segurança do autor dos versos mais louvados pela comunidade pobre paulista, os "trutas" invadiram o palco e, como de costume, emolduraram o evento.

A pista que custava R$ 140 estava cheia. Nos camarotes superiores, amontoavam-se a rara casta dos playboys. Todo o luxo, no entanto, não era exclusivo. "Sou amigo dos caras", disse Eduardo Junior, que garantiu ser morador do Capão Redondo.

O show foi marcado pelas músicas de vários álbuns do grupo. Títulos nobres de vários discos como "Holocausto Urbano", "Raio x Brasil", "Sobrevivendo No Inferno" e "Nada Como Um Dia Após o Outro" estiveram no cardápio sonoro.

Figura emblemática que já entoou frases de "Homem na Estrada" no Congresso Nacional, o senador Eduardo Suplicy (PT) estava assistindo ao espetáculo de camarote. "O Mano Brow me convidou. Certamente ele é o mais importante (da periferia). Ele fala sobre o cotidiano, sobre  a vida dos jovens pobres,  É um problema de dignidade e falta de liberdade", disse o parlamentar.

 A "playboyzada", como cravaria o líder do Racionais, dividia espaço na plateia. "Meu sonho era ver um show desses na quebrada", dizia Júlia Lobo, estudante da Fundação Álvares Penteado (FAAP), uma das instituições de terceiro grau mais caras da cidade.

Segundo ela, a apresentação dos Racionais no HSBC Brasil foi uma benção. "Eu não tenho preconceito, mas eles têm. Eles não querem que invadam a o lugar deles. Então temos que esperar até que eles organizem esse tipo de festa".