Marisa Monte e Julieta Venegas foram destaque em festival de pop latinoamericano
Não importa de qual estilo, gênero, vertente você seja fã, provavelmente temos hoje em São Paulo um grande festival dedicado a ele. De jazz são vários e de música indie são cada vez mais, como também são comuns os de reggae, soul, classic rock e o que imaginar. O Telefônica Sonidos, que acontece desde quarta e vai até esta noite de sábado no Jóquei Club, é o festival internacional de pop latinoamericano da cidade.
Na noite de sexta-feira, primeira do festival com atrações no palco principal, a presença foi maciçamente brasileira - mas não eram poucos os presentes conversando em espanhol entre o público. E justamente as relações entre música brasileira e de lugares como Cuba, Venezuela e México davam o tom de todas as apresentações, em breves encontros no palco, artistas de outros países recebendo brasileiros.
Soy loco por ti, América
O momento mais esperado e mais aplaudido foi a participação de Marisa Monte no show de Julieta Venegas, no começo da madrugada de sábado, para cantarem juntas três músicas. O público fez as vezes de um gigante coro já na primeira canção, acompanhando ambas as partes, em português e espanhol, de “Ilusión” - hit gravado pelas duas cantoras juntas em 2008, no Acústico MTV de Venegas.
A canção de Arnaldo Antunes e Branco Mello, “Eu não sou da sua rua”, ganhou charmosa versão com Marisa e Julieta cruzando os idiomas, com frases como “estoy aqui de passagem” e “eu não hablo a sua língua”. Tocando um acordeão e arranhando no que chamou de “portunhol descarado”, Venegas se dizia emocionada de receber Marisa, que entrou com uma flor vermelha no cabelo e foi recebida com calor e câmeras de celulares pelo público.
A terceira canção que interpretaram juntas foi “Soy loco por ti, América”, de Gilberto Gil e Capinam, gravada por Caetano Veloso nos anos 60 - e com a frase “estou aqui de passagem” em sua letra, fazendo a conexão poética com a música anterior anterior. A estrutura de versos alternando português e espanhol foi a deixa para o dueto - ainda que Marisa tenha em alguns momentos pulado a letra e recorrido à cola digital à sua frente.
Pa-panamericano
O simbolismo de representar uma parte grande do continente chamado América também não passou batido no show seguinte, da banda venezuelana Los Amigos Invisibles recebendo Seu Jorge. Com influências de disco music e pegada dançante incansável, os Amigos Invisíveis tocavam pra frente e quase sem pausa entre as faixas, citando ainda no meio de suas músicas hits globais como “I gotta feeling” dos Black Eyed Peas, e “We no speak americano”, da dupla Yolanda Be Cool, o famoso “pa-panamericano”, versão moderna do antigo sucesso italiano “Tu vuo fa’ l’Americano” - ou “Você se faz de americano”.
Seu Jorge, que entrou de óculos escuros e carregando sua flauta e seu pedestal de microfone, fez participação discreta, cantando ou tocando violão. Seu principal momento solo foi interpretando sua canção “Soy America” que fala que a “juventude buena vibra” e de multiplicar o “ser humano americano”. A audiência se envolvia, mas ao fim do show na alta madrugada boa parte do público já havia partido do Jóquei.
Bailar contigo
O começo da noite, perto das 22h, foi no palco menor virado para a arquibancada, com apresentação do guitarrista Alex Cuba, do país que leva no nome, residente no Canadá. Houve momentos latinos, mas a inspiração era mais de Lenny Kravitz e Jimi Hendrix, Cuba de black power e tocando guitarra acompanhado de baixo e bateria. Suas músicas como “Las mujeres” e “Si pero no” foram bem recebidas, mas o ponto alto ali foi quando recebeu a participação de Tulipa Ruiz.
Com seu trio, Cuba tocava perfeitamente os detalhes dos arranjos originais das músicas de Tulipa e cantava junto os versos passados para o espanhol, como no “solo se bailar contigo / es eso lo que el amor hace” de “Só sei dançar com você”. Tulipa, apresentando sua canção “Brocal dourado”, comentou, brincando com as proximidades das línguas: “Aqui todo mundo me pergunta o que é brocal, que é entre lantejoula e glitter. Perguntei pra ele como era em espanhol e ele respondeu: ‘brocal’.”
O Brasil é latino
De Cuba também vinha a outra atração da noite no palco principal, a grande orquestra Los Van Van, liderada pelo cantor Juan Formell com mais outros quatro vocalistas e instrumentos como violino, sopros e percussões. O convidado foi Carlinhos Brown, de entrou de chapéu e bermuda brancos, citou o percussionista cubano Chano Pozo como inspiração e convocou de improviso o público a cantar Rita Lee: “Meu bem você me dá...” Quando o público respondeu perfeitamente (“...água na boca”), enquanto acentuava o ritmo, Brown só afirmou: “Tá vendo? O Brasil é latino!”
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